domingo, 18 de novembro de 2012

ASSIM ENTENDO A PALAVRA: A NOSSA VIDA NÃO SECA POR MALDIÇÃO, MAS POR INANINAÇÃO


FLORES DE AMÊNDOA – VAN GOGH (1890)

“Cedo de manhã, ao voltar para a cidade, teve fome; e, vendo uma figueira à beira do caminho, aproximou-se dela; e, não tendo achado senão folhas, disse-lhe: Nunca mais nasça fruto de ti! E a figueira secou imediatamente.” (Mateus 21:18-19)

Não acredito em maldições; embora bem saiba que no meio religioso elas grassam por todos os lados. E quando me debruço sobre essa passagem, creio que Jesus não amaldiçoa a figueira, que segundo o Talmude, costumava produzir figos duas vezes ao ano, sendo a primeira colheita feita em abril. Pelo contrário, creio que Cristo apenas confirma uma condição que já é própria de sua natureza estéril; pois, obviamente ela não tem fruto, então Ele somente fortalece este fato.

Minha cosmovisão parte de um Deus que nos dá o livre arbítrio (minha fé é calcada sobre esse pilar) Deus não cria ninguém para ser um pecador nato, não transforma um homem justo em um pecador e nem faz um pecador ser justo sem que este o queira. Em miúdos: Deus não obriga ninguém a ser o que não quer. Pelo contrário, Ele tão somente confirma as nossas decisões. Então se escolhemos ser justos na vida, Ele a cada dia nos ajudará nesse sentido; agora se quisermos viver a vida, sem lhe reconhecer como nosso Deus e confirmarmos isso com nossas atitudes, chegará um momento em que Deus permitirá que a nossa decisão se concretize.

O maior exemplo disso é o duelo entre Faraó e Moisés, quando se enfrentaram para decidir se o povo de Israel sairia ou não para a terra prometida. Faraó se recusava a deixar o povo ir, endurecia-se cada vez mais, e num estágio da peleja quando quis desistir, não conseguiu mais, pois a Bíblia diz que o Senhor endureceu (o original hebraico diz “fortaleceu”) o coração do Faraó, confirmando a sua obstinação em não deixar o povo ir.

Deus não fez ninguém para ser infrutífero. Ninguém vai dormir santo e acorda um salafrário. Desenvolve-se um longo processo em que a pessoa vai se tornando infrutífera, estéril, voltando constantemente as costas para os princípios espirituais que guiaram a sua vida. Nãos secamos por causa de maldição, e sim em função de más decisões, que vão asfixiando nosso coração na forma de um lento suicídio espiritual, até que um dia nos deparamos com o Senhor da nossa vida que confirma o caminho da esterilidade pelo qual optamos.

O grande mestre Guimarães Rosa disse em Grande Sertão: Veredas “...pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre mudando”.

Que cada um pense sobre suas mudanças, pois pode ser que algumas escolhas não tenham mais o caminho de volta.

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