Minha barba cresceu e como se aproximou o fim de semana, não a fiz. Minha filha: Luana Caldas, como arguta observadora que é, notou um pêlo branco logo de imediato no meu queixo, quando a fui buscar na casa da sua avó, e ainda fez troça comigo. Morremos de rir juntos, pois eu nem tinha notado o pêlo branco ali, isolado, mas persistente, sinalizando o avançar dos anos. Aos que desconhecem minha idade, adianto: já desfiz 30 anos.
O filósofo dinamarquês Serem Kierkegaard disse que: “A verdade não está com o povo.” Concordo plenamente com ele, e quando observo nossa atual sociedade, aliás, não precisa ser um gênio para entender isso, pois, logo percebemos que sucesso e felicidade se reduzem a dinheiro, aparência e sexo, se somos maduros ou velhos estamos descartados. Cada dia trará consigo o desencanto, aos que não sabem envelhecer. Não se enganem, pois nem dinheiro e instrução não nos liberam facilmente da secular lavagem cerebral da nossa cultura. Em lugar de viver estaremos sendo, literalmente, devorados pelos nossos fantasmas – na medida em que permitirmos isso. Logo, o equilíbrio da balança depende muito do que soubermos e quisermos enxergar e ser.
Como diz a letra da música:
“Caro é transformar-se num arremedo de si próprio a ponto de nem se reconhecer mais
Hoje eu tenho 130 anos, isso não estava nos meus planos
Você sabe, a desordem é tenaz.”
Mas predomina essa idéia justamente de transformar-se num arremedo de si próprio a ponto de nem se reconhecer mais, e muitos se enveredam nesse caminho. A velhice é uma sentença da qual se deve fugir a qualquer custo – até mesmo nos mutilando, escondendo ou arremedando-se. No espírito da manada que nos caracteriza, adotamos essa hipótese sem muita discussão, ainda que seja em nosso desfavor. Uma pena!
Penso que a vida é uma mesa posta: tem venenos mortais e deliciosos pratos que dão prazer. Há os que escolhem o veneno, e os que pegam as delícias. Espero que você não ache que prazer, alegria, amor é impossível ou ruim, aos que envelhecem. A vida é sempre a nossa vida, aos 13 anos, aos 30 anos (como eu), aos 67 anos. Dela podemos fazer alguma coisa mesmo quando nos dizem que não. Dentro dos limites, do possível, do sensato (até alguma vez do insensato), podemos. Só seremos nada se acharmos que merecemos menos de tudo que ainda é possível obter.
Nunca aceite a idéia de que tudo se encerra quando acaba a juventude, que minha possibilidade de ser alguém válido diminui a cada ano. Essa perspectiva produz inércia e desperdício de talentos que poderiam ser cultivados até o fim, sem importar a idade.
Viva!
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