segunda-feira, 31 de março de 2014

CRÔNICAS AVULSAS: O MILAGRE DA AMIZADE



Dias desses com uma amiga de velha data, jantando num restaurante ela me disse: “Você é um belo escritor”. Ao que lhe repliquei na hora, para o seu espanto: “Minha mãe sempre me disse que era bonito mesmo!”. Caímos na gargalhada. Quando conseguimos nos conter – contei meu segredo: “Não sou um belo escritor. Sou antes de tudo: um belo leitor!” Mas, a vida não é somente nos livros, a vida requer outras coisas, como por exemplo: estar com os amigos, conhecer pessoas diferentes, se relacionar, interagir, aprender e crescer. E com as diferenças dos outros, podemos aprender muito. Tudo é uma questão de respeitar e saber ouvir.

Para não fugir à regra já que citei minha paixão pela leitura, vou de Guimarães Rosa, para desatar esse nó da crônica, essa frase dele consta no livro: Primeiras Estórias, no conto: O Espelho, que nos diz assim:

“Quando nada acontece, há um milagre que não estamos vendo.”

Engraçado que falar de milagre no Brasil, quando muitas Igrejas já banalizaram isso – soa até estranho. Muitos pensam que o milagre é ver um cadeirante se levantar e sair andando normalmente. Um cego voltar a enxergar. Não que isso não seja um milagre. São. Mas, falo de outros milagres, mais reais e que estão bem ao alcance dos nossos olhos. Como por exemplo, o que fizemos nesse último final de semana, quando nos reunimos no domingo entre amigos para termos um momento de diversão, ouvir música, beber – e embora não beba (salvo vinhos) até eu fugi a regra, pois tomei uma caipirinha de saquê preparada pela Viviam Oliveira, dar risada, contar sobre o que estamos planejando, nossos sonhos, esperanças e frustrações que tivemos incluídas também, pois se engana quem pensa que a vida é o rancho da pamonha – que as novelas mostram. Não é. Como dizia minha mãe: “Viver não é para amadores”. Logo, todas as mágoas são suportáveis quando fazemos delas uma história ou contamos uma história a seu respeito. E nesse domingo, eu tenho uma história para contar e com um milagre incluído também – o milagre da celebração da amizade...

Vivemos num mundo de efemeridades. Laços se desfazem num piscar de olhos. Amizades que julgávamos inabaláveis – são desfeitas em segundos, pessoas nos traem, falam mal, amores são desfeitos, a sociedade é tresloucada, a maldade grassa por todos os poros, amores de hoje não são como os de antigamente, desilusões, agressões, mortes... Enfim, o diabo... Com certeza, o Datenna e o Rezende se regozijam com isso, pois terão muitas pautas em seus medíocres programas. C’est la vie – como dizem os franceses.

Quando vejo tudo isso, sempre me vem à mente aquele trecho da música (I can see clearly now – Eu posso ver claramente agora) do Jimmy Cliff: “I can see clearly now / the rain is gone / I can see all obstacles / in my way / Gone are the dark clouds / that had me blind / It’s gonna be a bright / bright sunshiny day.” Tradução: “Posso ver com clareza agora que a chuva passou / Posso ver todas os obstáculos no meu caminho / as nuvens negras que me cegavam já se foram / Vai ser um lindo dia de sol.” (https://www.youtube.com/watch?v=uyrAhLIbDHM).

Além desse lugar de fúria e lágrimas, sonho com um mundo novo: com um lindo dia de sol, mundo esse de novas possibilidades, com pessoas que se respeitam, querem o bem comum e que não são ensimesmadas em si mesmas, e que acima de tudo: não se acham semideuses – desses: deveras estou farto.

Felicidade resulta, aqui, de uma equação de amigos e livros, que também pode ter outro nome: identificação. Esse foi o meu milagre desse último domingo e o seu?
 
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2 comentários:

  1. Nicole Pereira

    Muito bom o texto! Reflexão! Adorei!

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  2. Marlene Aparecida Ferreira

    Marcelo existe poucas pessoas iguais a voce com tanto carinho e sensibilidade....saudades muita paz a voce bjos

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