quarta-feira, 15 de junho de 2011
CONTO: A ECFRASE FINAL BORGIANA
Caricatura de Jorge Luis Borges.
“Não existe obra de arte. O que há, são Os Paraísos.”
_Jorge Luis Borges (1899-1986) no conto: “Tigres espelhados”.
“Tudo no mundo é duplo: visível e invisível
O visível, de resto, interessa muito menos.”
_Cecília Meireles (1901-1964), poeta carioca.
Sempre gostei de obras de arte. Aliás, Balzac já dizia que as grandes obras de arte, são como os verdadeiros amores, ou seja, raros...
Estou aqui em pleno museu do Louvre, o maior e mais importante do mundo, devido seu acervo monumental, há quase duas horas imóvel diante desse quadro, que é no mínimo: enigmático.
O quadro não tem nome, data, autoria ou qualquer descrição mínima que seja. Simplesmente é a imagem de uma mulher no cume de uma montanha, de costas (portanto, não vemos seu rosto) com um olhar perdido no horizonte – sem fim. Nuvens brancas, que juntas pavimentam uma estrada sobre sua cabeça, bifurcam-se em dois caminhos...
Creio, melhor, não creio, intuo que o autor queria sugerir, que o bom da vida não está na largada ou na chegada, mas na travessia; no qual todos terão de passar...
Avisto um orientador, devidamente credenciado do famigerado museu e penso: “Ele deve ter a resposta do enigmático quadro”. Não perco tempo e arrisco meu francês insipiente:
“S’il vous plait, quem pintou esse quadro?”
“Não sabemos senhor! Ele simplesmente consta no acervo, desde sua pedra angular de fundação.”
“Mas como assim?”
“Senhor, conhecemos as ferramentas, mas não os meios.”
Fui embora contente com o aforismo provocativo do ilustre orientador, e plagiei descaradamente: Antoine de Saint-Exupéry para lhe dar o troco:
“Concordo; mas veja bem, o essencial é invisível aos olhos, só se enxerga bem mesmo é com os olhos do coração”.
“BRAVO!” Disse peremptoriamente o orientador.
E eu fui embora do museu, apreciando tudo com os meus sentidos e andando morosamente com a minha bengala (fiel companheira) da minha velhice...
***
PS. Conto dedicado ao último dia de aula, com a Professora e Escritora: Verônica Antonine Stigger, no SESC Vila Mariana, curso: Literatura e Arte – Relações entre imagem e palavra.
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