quarta-feira, 25 de junho de 2008

MINHA MÃE, MEU EXEMPLO



“Uns vão de guarda-chuvas e galochas,
outros arrastam um baú de guardados...
Inúteis precauções!
Mas,
se levares apenas as visões deste lado,
nada te será confiscado:
todo o mundo respeita os sonhos de um ceguinho
- a sua única felicidade!
E os próprios Anjos, esses que fitam eternamente a face
[do Senhor...
os próprios Anjos te invejarão].

Preparativos para a viagem (poema de Mario Quintana – poeta gauche [1906 – 1994])

Dentre os múltiplos exemplos de homens e mulheres, que influenciaram direta ou indiretamente minha vida, minha mãe ocupará sempre um lugar ímpar, e sem igual.
Desde, da idade mais tenra, me ensinou valores éticos e morais universais. Além é claro, a educação – quase que em extinção nos dias de hoje. Devo muito do que sou hoje, a ela. Obviamente, que aqui se encontram dentro de mim as imperfeições de todo ser humano, pois, deveras ninguém é perfeito; todavia ela deu seu melhor para mim. Mas caminhamos assim mesmo (todas as imperfeições incluídas), nessa metamorfose ambulante, como cantava Rauzito.
Teógnis, grande poeta grego, certa feita colocou assim: “Choremos a juventude e a velhice também; pois a primeira foge e a segunda sempre vem”. E como isto vem. Minha mãe que o diga, pois de uma pessoa que me criou lendo James Joyce, Marcel Proust, Virginia Woolf, Júlio Verne, F. Scott Fitzgerald, C.S. Lewis, J.R.R. Tolkien, T.S. Eliot, Bíblia, Gustave Flaubert, Tolstoi, Dostoievski, Ernest Hemingway, Machado de Assis...
Para atualmente, se reduzir apenas a uma única leitura (crônicas) aos domingos, do estupendo Carlos Heitor Cony – do jornal Folha de São Paulo, e com lupa ainda, me é muito estranho; e graças a essa tertúlia faraônica, aprendi a ler e a escrever sozinho, antes de colocar meus pés na escola infantil. Contudo, ainda custo acostumar meus olhos a contemplarem isto todo domingo de manhã...
Sempre me angustiou o diuturno paradoxo, de que para os nossos pais, nós os filhos, por mais adultos que sejamos, seremos sempre seus eternos filhinhos. E para nós, os filhos, nossos pais sempre serão super-heróis, imbatíveis – ledo engano; infelizmente...
Sua saúde também já não é a mesma. O cigarro (pois foi uma fumante inveterada), desde dos 14 anos, ajudou a degringolar aos poucos a capacidade dos seus pulmões. E hoje (antevéspera de Natal), quando deito essas palavras neste texto, acabo de voltar do Hospital Dante Pazzanese, com mais um diagnóstico: seu coração aumentou de tamanho. O que piora ainda mais seu estado de saúde. Mais nem tudo são cinzas, a notícia boa é que começaremos um tratamento neste hospital, que é referência em São Paulo; semana que vem.
Quando cheguei em casa, ouvi pela rádio uma música, da roqueira baiana Pitty, que desponta no cenário nacional, como uma grande artista de sucesso, embora não seja muito seu fã, contudo, sua música me marcou em cheio, com seguinte refrão de Semana que vem:
“No mês que vem, tudo vai melhorar
Só mais alguns anos e o mundo vai mudar
Ainda temos tempo, até tudo explodir
Quem sabe quanto vai durar, ahhhhhh
Não deixe nada pra depois
Não deixe o tempo passar
Não deixe nada pra semana que vem
Semana que vem, pode nem chegar
Pra depois o tempo passar
Nada pra semana que vem
Semana que vem pode nem chegar...”

Aí me dei conta – e caí em si, de como os anos passam céleres, e da brevidade das nossas vidas. E como é necessário, aproveitar cada instante – intensamente. E banir definitivamente a procrastinação dos nossos dias. Pois como dizia o grande Fernando Pessoa:
“O valor das coisas não está no tempo em que elas duram,
mas na intensidade com que acontecem.
Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas
inexplicáveis e pessoas incomparáveis”.

Por isso é necessário fazer algo. Alguma coisa que seja. E não apenas viver; Voltaire (filósofo francês) dá o tom:

“O valor dos grandes homens e mulheres, mede-se pela importância
dos serviços prestados à humanidade.

Mas sei que sobrancelhas arqueiam-se quando escrevo isto e uns pensam que são novos demais para fazer alguma coisa, ou muito velhos para fazer algo, permita-me citar alguns exemplos:

Golda Meir tinha 71 quando se tornou Primeira Ministra de Israel;
William Pitt II tinha 24 anos quando se tornou Primeiro Ministro da Grã-Bretanha;
George Bernard Shaw tinha 94 quando uma de suas peças foi encenada pela primeira vez perante o público;
Mozart tinha sete quando sua primeira composição foi publicada;
Que tal?
Benjamin Franklin era colunista de jornal aos 16 anos e aos 81 ajudou a formular a Constituição dos Estados Unidos;

Acredito que Mario Quintana ainda nos ensina muito em seu poema VIDA:

“Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê, passaram-se 50 anos!
Agora, é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando,
pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas...
Dessa forma eu digo:
Não deixe de fazer algo que gosta devido à falta de tempo, a única falta que terá, será desse tempo que infelizmente não voltará mais.”


Ninguém erra em perceber que envelhecer tem suas dificuldades e dores de cabeça. As dificuldades existem. Mas enxergar apenas à areia quente no deserto, e se esquecer dos oásis aqui e ali (apesar de serem poucos – eles aparecem), é tornar a última parte de sua jornada de vida em um arenoso enduro que faz de qualquer um – miserável. E aprendi mais essa lição com minha mãe. E termino com seu poeta predileto, que foi sempre seu fraco, como ela sempre me diz:

Deficiência

“DEFICIENTE” é aquele que não consegue modificar sua vida,
aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade
em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino.
“LOUCO” é quem não procura ser feliz com o que possui.
“SURDO” é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo
de um amigo, ou o apelo de um irmão. Pois está sempre apressado
para o trabalho, e quer garantir seus tostões no fim do mês.
“MUDO” é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde
por trás da mascara da hipocrisia.
“PARALÍTICO” é quem não consegue andar na direção daqueles
que precisam de sua ajuda.
“DIABÉTICO” é quem não consegue ser doce.
“ANÃO” é quem não sabe deixar o amor crescer.
E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois “MISERÁVEIS” são todos que não conseguem falar com Deus”.

Em dias nublados como esses, que tenho vivido, minha única certeza, alívio e esperança, é o que disse o profeta Isaías no Antigo Testamento:

“Mesmo na sua velhice,
quando tiverem cabelos
brancos,
sou eu aquele,
aquele que os susterá.
Eu os fiz e eu os levarei;
eu os sustentarei
e eu os salvarei”.
(Is 46.4 NVI)

Obrigado Mãe...

2 comentários:

  1. marcelo adorei agora vou escreve o que penso de vc.

    Existem seres tão especiais que vieram ao mundo para fazer a diferença.
    Eles estãopor toda parte, podendo ser notadas apenas por seus simples gestos...
    Não possuem asas, mas quem os conhece sabe que são anjos.
    São eles...na maioria das vezes aquelas pessoas até mais simples que qualquer outra, mas seus gestos são notáveis...
    Essas pessoas entram em nossa vida apenas para trazer coisas boas...
    São seres especiais que tem o dom divino, dizem palavras mágicas que alegra nosso coração e alimenta nosso alma!
    ...Suas amizades são sempre sinceras, porisso quem a tem deve considerá-la como uma jóia rara...
    "Feliz daquele que tem a horra de ser seu amigo."

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  2. Olá...show o seu blog rs rs entra no meu quando vc puder é só procurar no google por cantora Loide Fogaça! Paz Q Deus abençoe grandemente a sua vida...

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