quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

CONTO: NÃO ADÃO, SIM PLATÃO

Ouvi dizer certa feita, que as sementes do que seremos um dia nascem conosco. Contudo, sem ser adepto ao determinismo ou demasiado fatalista, acredito que os pais, também adubam essa semente, e que sem dúvida têm parte nesse crescimento; que para uns pode ser fértil ou estéril.
Narciso Teixeira Braga, era um portento. Sim senhor. E disso ninguém discordava. Tinha aprendido as primeiras letras em seu lar, pois mãe e pai, tinham um nível cultural elevado. Seu pai, aliás, dispunha de uma fausta biblioteca, cujo acervo chegava na casa de sete mil livros. Das mais diversas áreas do saber.
Desde da idade tenra, Narciso tinha se inserido nesse meio cultural. Embora quando já velho, tivesse dúvidas, se ele mesmo tinha tomado a iniciativa pelos estudos ou se foram seus pais que lhe haviam influenciado. Quem sabe foram as duas coisas, pois tinha sérias dúvidas acerca disso.
Na escola era tido como um gênio por todos seus professores, e nunca tirava uma nota baixa, em qualquer matéria que fosse. Em casa era ovacionado por seus pais, parentes e amigos. Quando chegava em seu lar, depois da escola, seus pais sempre diziam:
- Eis nosso pequeno gênio!

Com o passar célere dos anos infantis, finalmente chegou a Universidade, resoluto prestou para medicina, que era um dos cursos mais requisitados e almejados por todos os alunos, e também um dos mais difíceis, para ser aceito no vestibular. Mas isso não foi barreira alguma, para o pequeno gênio; que passou no meio de mais de setenta e sete mil inscritos, em primeiro lugar. Tal fato, foi publicado até no jornal de sua cidade, devido à tamanha façanha alcançada. Seus pais se encheram de orgulho e jubilo pelo sucesso alcançado por seu filho.


NARCISO, 1594-1596, DE: MICHELANGELO CARAVAGGIO.

Já adulto e formado, seguiu em sua empreitada de especializações fora do país, e teve os mais altos títulos possíveis, que a carreira de um médico podia ter. Agora só restava uma única coisa para Narciso ser completo a – fama. Não se satisfazia apenas com os congressos em que sua presença, era requisitada e muito menos em ver sua foto estampada nas capas das grandes revistas e jornais. Não! Ele queria mais.
Num belo dia de bate-papo entre amigos de profissão, num congresso mundial, foi dito que um determinado doutor, foi a pessoa mais agraciada com prêmios em seu país e sua fama era mundial; chegando até a ser recebido com louvores na Casa Branca, pelo presidente dos Estados Unidos, tamanha era sua importância. E foi o grande gênio de sua época e da posteridade, pois seu legado era insuperável. E mesmo depois de sua morte há setenta anos atrás, todos de sua geração que ainda estava vivos e os novos, tinham a mesma opinião em uníssono – de que ele era o melhor de todos.
Passado o congresso, já no quarto do hotel de luxo, Narciso Teixeira Braga, aprendeu a lição mais importante de toda sua vida, que nem seus pais foram capazes de lhe ensinar, nem seus mestres e muito menos seu próprio esforço árduo nos estudos, por anos a fio. Que a fama póstuma é a mais rara de todas. Nunca sendo dada a alguém como mera mercadoria. Pois obviamente, quem mais lucraria já é falecido, logo ela não estava à venda. E por mais que se queira e lute com todas suas forças, sempre existirá alguém mais inteligente do que você...


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