segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

LES CONTES FRANÇAISES: LA RÉVOLUTION DES MACHINE*




FOCUS GROUP (2000), DE DIANA ONG


“Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros”.

A Revolução dos Bichos _George Orwell


Todo homem é um abismo, a gente fica tonto só de olhar pra dentro dele. E olhem só para nós; vivemos sempre correndo, com uma pressa absurda, atrasados e estressados, acho que é isso que chamam de raça humana. O que mais precisamos nesse mundo é de afeto, para algumas pessoas acontece à primeira vista, quando você acha a pessoa certa; é exatamente o destino exercendo a sua magia, e é ótimo quando isso acontece, você fica sentindo aquele friozinho na barriga que parece que nunca vai passar. Mas nem sempre funciona assim; para o resto de nós é um pouco menos romântico, complicado e confuso. Momentos errados e oportunidades perdidas a falta de capacidade de dizer o que precisamos dizer no momento certo. Um verdadeiro inferno.

Depois de uma tentativa frustrada de suicídio, tinha esses pensamentos em frente ao espelho do banheiro, numa sala reservada e adaptada aos que tentam atentar contra a própria vida. Fui internado na clínica francesa chamada: “Association Nationale de Réadaptation”, por meus pais, pois sou um viciado em internet. Pois é, acreditem, em pleno século vinte e um, chegamos a esse ponto: clínica para drogados em internet.

As semanas aqui custam a passar, o médico disse que amanhã poderei voltar ao convívio com os demais, também pudera, já são três meses nesse quarto isolado dos demais e da web. Mas se tudo ocorrer como estou pensando, amanhã serei um homem livre, pois subornei um dos guardas.
Como todo o planejado, consegui minha liberdade; assim que coloquei os pés na rua, dei de frente com a igreja de Notre Dame, e pensei por que não? Que tenho eu a perder?
Após alguns minutos de longo silêncio, onde os meus olhos diziam completamente tudo e falavam por si só...

- Sim, filho meu eu compreendo seu silêncio, mas conte-me o que lhe angústia a sua alma e lhe trouxe até aqui.
- Padre, me chamo: Eugène Hugo, tenho vinte e oito anos, estou arruinado e sou um viciado inveterado em internet. Estava internado na “Association Nationale de Réadaptation” e hoje – fugi de lá.
- Mas qual foi o motivo de sua internação? Disse o padre.
- Uma mulher, que conheci pela internet. Ficamos umas duas semanas conversando e se conhecendo; logo depois marcamos um encontro no restaurante Jules Verne, no segundo nível da Torre Eiffel. Quando a vi padre nesse primeiro dia e nunca disse isso antes para ninguém, tive uma certeza que só ocorre uma única vez na vida: tinha achado a mulher com quem queria passar, compartilhar e gastar todos os anos da minha vida – juntos. Iniciamos um namoro, tudo ocorreu maravilhosamente bem, durante seus oito meses e posso dizer que foram os melhores meses que tinha vivido até então em minha vida.

- Mas o que deu errado então? Perguntou o padre.
- Ela terminou comigo padre, simplesmente, num belo dia, ela veio até minha casa, saudou-me com seu sorriso costumeiro e disse que estava tudo acabado entre nós.

- Não informou o motivo? Nada? Questionou o padre.
- Nada! E nesse dia fiquei mudo, sem reação e sem chão. Ela se virou e foi embora calmamente. Não tive coragem de detê-la. Desde então comecei a passar horas intermináveis em frente ao computador, na esperança de reencontrá-la, de receber uma resposta aos meus vários e-mails enviados, pois ela não atendia mais minhas ligações e quando fui até sua casa, me informaram que ela tinha se mudado do país, e nesse hiato de tempo fui internado. Não tenho mais vida padre, identidade própria, me tornei um nada, melhor um autômato e por isso fui internado.
- Bom meu filho, diante disso, reze vinte pais nossos. Mas antes reflita sobre isso que vou lhe dizer: somos o que nós amamos e não quem nos ama.

Não rezei os vinte pais nossos, mas encontrei uma luz em meio às minhas trevas; e aprendi com o padre, que o verdadeiro amor, primeiramente é o que devemos sentir por nós mesmos e que o amor não segue expectativas; seu mistério é puro e absoluto...


***

*Os Contos Franceses: A Revolução das Máquinas

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