quarta-feira, 9 de março de 2011

EXCERTOS DA 7ª ARTE (PARTE X)



O GRITO (1893), DE EDVARD MUNCH


A arte é importante porque ela celebra as estações da alma, ou algum acontecimento trágico ou especial na trajetória da alma. A arte não é só para o indivíduo; não é só um marco da compreensão do próprio indivíduo. Ela é também um mapa para aqueles que virão depois de nós; e eu creio que alguns filmes podem ser essa nau em meio ao oceano da vida.

O DISCURSO DO REI teve 12 indicações ao Oscar, e na noite do dia 27 de fevereiro/2011, levou 4 estatuetas de Melhor Filme, Roteiro Original, Ator e Diretor; confesso que não me deixo levar pela dita “Academia” na escolha dos filmes que opto por assistir, mais esse filme, assim que foi anunciado, despertou em mim grande interesse em vê-lo, e não me decepcionei em nada com essa escolha.

Um fator interessante é que a grande maioria dos filmes que foram indicados ao Oscar nesse ano, contam de alguma forma uma história de superação, alguns mais viscerais como 127 horas outros nem tanto, como Bravura Indômita (dos irmãos Coen) que são excelentes por sinal. E a película: O DISCURSO DO REI, não difere disso, é justamente uma história de superação, em que o Rei George, se vê obrigado a assumir a coroa inglesa, após seu irmão Edward ter abdicado. A superação vem justamente no seu maior trauma: a gagueira; pois como Rei é impossível não fazer discursos ao povo e ele sofria disso desde infância e teve de enfrentar e superar o seu próprio monstro interno. Nas palavras de Michel Foucault: “Precisamos resolver nossos monstros secretos, nossas feridas clandestinas, nossa insanidade oculta”. E o rei George consegue isso, com a ajuda do seu “terapeuta da fala” Lionel Logue, que dá um verdadeiro show de interpretação, com um senso de humor genial.

Carl G. Jung (1875-1961) pai da psicologia analítica, dizia que: “As experiências discriminatórias arquivam-se de maneira privilegiadíssima nos solos da memória, contaminando o inconsciente coletivo”. Ora se consegue contaminar o coletivo, quem dirá o indivíduo em si. E o Rei George, adquiriu a gagueira, devido os maus tratos da babá e do isolamento e frieza que sempre experimentou por parte dos seus pais, pois ele não era o filho predileto; grande lição a nós pais e aos que ainda não são para termos extremo cuidado para com nossos rebentos e o que plantamos em vossos corações, de onde procedem as fontes da vida.

Grandes medos só podem ser vencidos mediante o cultivo de pequenas coragens. Talvez por isso que Platão já alertava na Grécia antiga: “Muitos são os que se rendem desanimados, os inspirados são poucos.” Esse filme transpira inspiração e exala uma mensagem de que a última página ainda não foi escrita, de que o melhor ainda está por vir, que podemos fazer o melhor de nós mesmos, de que é possível recomeçar e que para tanto é necessário ousar e acreditar. Como dizia Nelson Mandela, no seu discurso inaugural em 1994:

“Nosso medo mais profundo, não é de que sejamos inadequados. Nosso medo mais profundo, é que sejamos poderosos demais. É a nossa luz, não nossa escuridão que mais nos assusta. Nós nos perguntamos: “Quem sou eu para ser brilhante, alegre, talentoso e fabuloso?” Na verdade, quem é você para não ser? Não há luminosidade no fato de você se encolher para que outras pessoas se sintam seguras com você. Nós nascemos para manifestar a glória de Deus que está dentro de nós. Ela está não só em alguns de nós, está em todos nós. E a medida que deixamos nossa própria luz brilhar, nós inconscientemente damos permissão aos outros para fazerem o mesmo. À medida que nós nos libertamos do nosso medo, nossa presença automaticamente liberta outros”.

A esposa do Rei George tem uma fala que resume bem tudo isso, quando ela diz: “Você consegue. Não sei deixe dominar pelo medo.”

Como diz a saudação muçulmana: Salaam Aleikum (A paz esteja convosco).


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3 comentários:

  1. Belas palavras.

    O filme é muito bom e mostra que por mais nos julguemos fracos, temos força para superar os obstáculos e assim alcançarmos a vitória!

    Parabéns pelo texto!

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  2. VOU ASSITIR AO FILME, PARECE BEM LEGAL.ÓTIMAS OBSERVAÇÕES, ANALOGIAS INTERESSANTES... PARABÉNS!

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  3. Gostei muito do teu blog e do teu jeito de discorrer sobre a arte. Muito bom gosto, parabéns =D Também vi seu comentário no meu blog e adorei, obrigada! Fico feliz que tenha gostado do poema "outono", amo falar sobre o amor. Procurei te seguir aqui ou no twitter mas não achei opção para... Voltarei aqui mais vezes.
    Mega beijo!
    Seja bem vindo sempre no meu!

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