segunda-feira, 2 de julho de 2012

CRÔNICAS AVULSAS: A RAZÃO DE MACHADO


"Arrependo-me, muitas vezes, de ter falado; nunca de ter silenciado.”
Ciro, poeta persa (424 – 401 a.C.)

Conta-se que certa feita o grande mestre e filósofo Sócrates (470 – 399 a.C.) estava convocando alunos para seu novo curso de oratória na Grécia antiga, e ele próprio seria o professor. O preço do curso era de valor simbólico, digamos que algo em torno de R$ 1 real. Pois bem, num dado momento apareceu um jovem que se inscreveu e passou a discorrer em seu monólogo infindável: “Vou ser o maior orador da Grécia!” e “Sobrepujarei a todos que me antecederam, e o povo me dará glória e honra!” e assim por diante. Quando o fausto aluno parou de falar finalmente, Sócrates lhe disse que o valor do curso para ele, seria o dobro dos demais. Pasmo, o futuro aluno questionou-lhe o motivo de só ele ter de pagar mais que os colegas; ao que Sócrates lhe respondeu: “Os outros alunos estão pagando R$ 1 real para aprender a falar em público. Você deve pagar o dobro, porque, além de lhe ensinar a falar, terei de lhe ensinar a como parar."

Washington Irving disse que: “Uma língua afiada é o único instrumento de corte que se torna mais afiado com o uso constante.” Já Tiago em sua epístola universal nos alertou: “A língua é um fogo... É um mal incontrolável, cheio de veneno mortífero”. Incontrolável! Literalmente é assim nossa língua, podemos passar de instantes alegres há instantes seguintes de uma verborragia verbal, sem fim para acabar, e isso pode acontecer pelos motivos mais ínfimos possíveis e quem dirá os maiores. Assim, conseguimos com palavras mórbidas em forma de verdadeiros mísseis letais a morte alheia.

Algo que me surpreende muito é que somos especialistas na arte de domar o imponderável, como: leões, elefantes, golfinhos, cavalos selvagens, orcas assassinas...
Mas não conseguimos domar esta pequena mucosa que reveste um complexo sistema de músculos e nervos que permitem ao nosso corpo mastigar, provar, sentir o gosto, comunicar-se e engolir. Contudo, não conseguimos domesticar nossa própria língua.

Vários homens que nos antecederam deram conselhos maravilhosos para controlarmos a nossa língua, um deles foram William Norris, que certa vez, escreveu:

“Para os seus lábios se livrarem de escorregões, observe cinco coisas com cuidado: com quem você fala, de quem você fala; e como, quando e onde fala.”

Já o rei Davi foi até mais sincero no Salmo 39: “Vigiarei e minha conduta e não pecarei em palavras; porei mordaça em minha boca.”

Para terminar e explicar aos leitores que estão se perguntando o que tem a ver o título dessa crônica e a imagem, eis a resposta:

“Há coisas que melhor se dizem calando...”

Aliás, faço coro e dou razão ao autor: Machado de Assis [1839-1908].

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