sábado, 8 de setembro de 2012

CRÔNICAS AVULSAS: EM BUSCA DO TEMA PERFEITO


LES OISEAUX (1914), DE FRANZ MARC

A vida é a arte do encontro, disse o poeta Vinicius de Moraes. Por experiência própria acredito que os melhores encontros são aqueles que não programamos; que nos pegam de surpresa. O acaso, inesperado e inusitado podem marcar nossas vidas para sempre. Esses encontros alteram nossa trajetória, nosso destino, e podem contribuir para o nosso bem, ou para nosso mal.

Eu caminhava pela Rua Clodomiro Amazonas, vindo do meu almoço, enquanto minha cabeça buscava algum tema verdadeiro, que fosse digno de uma crônica. A angústia por estar um bom tempo sem escrever algo, acabava por me bloquear as idéias e nada me via a mente. Estava um tanto quanto triste também, pois, no meu novo emprego, todas as minhas energias eram consumidas nele e o resto que sobrava, o trânsito caótico de São Paulo, da ida e volta se incumbiam de levar embora. E quando finalmente chego à minha casa me sinto exausto mentalmente e fisicamente.

Contudo, nessa quinta-feira passada algo mudou. Via eu por uma rua arborizada paralela a Clodomiro Amazonas (uma exceção diga-se a verdade), pois em São Paulo, quase tudo que olhamos ao redor é puro concreto e restam-se poucas ruas com árvores; quando avistei de longe um Sabiá de Laranjeira, que pousou num galho. Enquanto caminhava fui observando seu jeito imponente, e como não tinha mais ninguém na rua, exceto esse que vos escreve, ele não se assustou e num daqueles momentos mágicos e únicos da vida – simplesmente cantou.

Como nasci no interior de São Paulo, ainda me lembro com perfeição de como é o seu canto, e como sempre tive certo gosto pelos pássaros, bem sabia o quanto era bonito. Então teoricamente nada de anormal, pode pensar o leitor? Errado. Pois nem sempre aquilo que já estamos habituados a conhecer, quando reaparece em nossas vidas, será exatamente igual à mesma experiência de outrora. Ao ouvir depois de tantos anos, o distinto canto do Sabiá meu coração se encheu de uma alegria imensa, dessas que não temos palavras para descrever.

Nunca tive sorte em jogos. Quando criança, que me lembre nunca ganhava sequer um par ou ímpar. Rifas, nem pensar. Jogos da lotérica então, um fiasco.
Mas nessa quinta-feira, me senti o homem mais sortudo do mundo, por estar exatamente ali na rua, no exato momento em que o Sabiá pousou e cantou. Talvez por isso o grande poeta Manuel de Barros já dizia: “A ciência pode classificar e nomear os órgãos de um Sabiá, mas não pode medir seus encantos.”

Assim eu queria que fosse o tema da minha crônica, perfeito e puro como o canto desse Sabiá. E que as pessoas nunca se esquecessem de que maravilhas nunca faltam no mundo, o que nos falta é a capacidade de senti-las e admirá-las. Oxalá que eu nunca perca isso dentro de mim...

***

1 comentários:

  1. Realmente deve ter sido uma visão maravilhosa diante do corre corre de SP...
    Fiquei com vontade de ver a foto desse sabiá.rsrs
    Bjs
    Leticia Valente

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