segunda-feira, 20 de agosto de 2012

EXCERTOS DA 7ª ARTE (PARTE XVI)


Woody Allen é um daqueles diretores que despertam apenas dois sentimentos: ou você ama seus filmes ou odeiam eles. Simples assim. Faço parte do grupo que ama suas obras. A meu ver “Meia Noite Em Paris” que lhe rendeu o Oscar de melhor roteiro original em 2012 (diga-se de passagem, que essa é a quinta vez que ele ganha o Oscar, e só apareceu para receber o prêmio em 2002, após o atentado de 11 de setembro para fazer uma homenagem a Nova York, pois como é sabido ele optou por se afastar da Academia) é um filme sensacional. Pura arte cinematográfica, do começo ao fim. Aliás, ao se falar de arte, adoro a definição do grande mestre russo Liev Tolstói, que no seu ensaio: “De o que é arte?” de 1896, nos brinda com essa fantástica definição:

“A ação da arte consiste em despertar um sentimento já experimentado e ao fazer isso transmitir esse sentimento através de movimentos, cores, sons, imagens, palavras, de tal forma que os outros experimentem o mesmo sentimento. A arte é a atividade humana em uma pessoa, conscientemente, através de certos sinais exteriores, comunica aos outros sentimentos vivenciados por ela, de tal modo que estes se contagiem e vivenciem os mesmos sentimentos.”

Como não experimentar o sentimento da beleza nos primeiros planos (mais de três minutos) de Paris, no início de “Meia Noite em Paris”? Creio que ali ao adiar os créditos iniciais e mantendo seu tradicional Jazz, ele já nos brinda com a estonteante beleza da Cidade Luz e ao mesmo tempo nos faz um pedido de desculpas, pois nem toda essa beleza que Paris pode oferecer – será mostrada em seu filme. No desenrolar da trama, somos transportados para outra época de Paris, a belle époque do século 20.

O tradicional ambiente de Nova York vem gradualmente sendo substituído por outros países, isso começou com: “Scoop – O grande Furo” de 2006, que se passa em Londres, depois veio “Vicky Cristina Barcelona” de 2008, que como o próprio nome já diz, se passa em Barcelona, depois “Meia Noite em Paris” de 2011 – França e mais recentemente “Para Roma com amor” de 2012, que é ambientado na Itália.

A temática do longa de 2011 é simples, um roteirista de Hollywood vai a Paris com a família de sua noiva e, lá, após “encontrar” figuras famosas do século 20, passa a questionar sua vida. Então “Meia Noite em Paris” é uma história de amor, entre Gil (roteirista do filme) Allen, o espectador e Paris, talvez no sentido figurado, ou mais provavelmente não, já que o diretor não se esconde por trás de nenhum simbolismo ou metáfora para levar seu personagem em uma viagem no tempo de volta à Idade do Ouro dessa cidade, durante a década de 20, cheia de escritores, artistas e personalidades que, não sem exagero, deram o ponta-pé inicial para muito do que hoje existe em termos de arte.

“Meia Noite em Paris” não deseja ser simbólico, metafórico, surrealista ou cheio de leituras, mas sim só contar essa história, juntar esses personagens nessa história de amor e no final das contas, ter a certeza de que o presente sempre parece insuficiente para quem não tem limites para sonhar e às vezes perceber que a única coisa necessária é esse momento de chuva sobre Paris (que acontece esplendidamente no final do filme) quando finalmente o personagem principal Gil se acha. E essa impressão, só consegue ser passada realmente por um gênio como Woody Allen que, decididamente, é um sujeito apaixonado, mais que qualquer coisa, pelo cinema.

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