quarta-feira, 19 de março de 2014

CRÔNICAS AVULSAS: PARA LILIAN COM CARINHO

JEANNE HÉBUTERNE DE CAMISOLA (1919) DE AMEDEO MODIGLIANI
Essa obra encontra-se hoje no The Metropolitan Museum of Art, Nova York
 
“As experiências discriminatórias arquivam-se de maneira privilegiadíssima nos solos da memória, contaminando o inconsciente coletivo.” _ Jung
“Quando não matamos nossos monstros psíquicos, nós os projetamos em alguém ao nosso redor.” _Freud
 
Dizem os biógrafos que quando Freud e Jung se encontraram pela primeira vez, começaram a conversar de manhã e só pararam ao anoitecer. Tinham muito que falar, cada um ao seu modo mudaram os patamares da psicologia e psicanálise mundial. E suas contribuições dispensam comentários. De forma um pouco parecida, quando me encontrei com a Lilian Amaral pela primeira vez, creio que falamos muito sobre o seu universo: a psicologia. Eu já tinha muitas leituras sobre o tema e amava a matéria, assim como ela. Nossa conversa foi agradabilíssima, e sua generosidade em fazer ‘vistas grossas’ aos meus erros pueris sobre os mestres da psicologia e psicanálise foram dignos de grandeza.
O tempo se passou célere, creio que nos conhecemos em 2008 ou 2009, os deuses o sabem bem o ano. E de lá para cá, nossa amizade tem se fortalecido. Adoro sua personalidade, pois ao contrário de outras amigas, ela põe o dedo na minha cara e diz o que pensa sobre o que ando fazendo da minha vida, adoro isso. Obrigado! E sempre que o faz, usa de uma inteligência extremamente sagaz e sempre aguda em seus pontos, mantendo sempre uma coisa nobre: ternura em sua fala. Nunca me esquecerei disso, principalmente nos períodos de crise aguda e mais sombrios que enfrentei, quando perdi minha mãe em 2009.
Já adiantando sua pergunta, pois depois de tantos anos de amizade, bem sei que ela virá, escolhi esse quadro do Modigliani, pois esse teve uma vida breve e difícil, algumas obras-primas, a Paris boêmia do início do século 20. O mito e o fascínio de Amedeo Modigliani (...) estão nessa imagem tardiamente romântica, no protótipo do dândi sem teto nem lei, do artista maldito: Modí, exatamente. No entanto, a pintura de Modigliani – uma produção quase ininterrupta de rostos esguios, olhos oblíquos, pescoços finos e longuíssimos - esconde e revela sabedoria técnica, cultura profunda, adesão íntima e sentimental ao mundo e aos personagens que retrata. Espero que em menor grau, que essa crônica ao menos lance um feixe de luz sobre os múltiplos raios de sua rica personalidade...
Modigliani nunca pintou nua a mulher que amou no último período de sua vida. Jeanne Hébuterne de Camisola é o retrato em que sua companheira aparece menos vestida. A tela se caracteriza pela pose lânguida e, ao mesmo tempo, melancólica da mulher. Ela apoia o braço direito no espaldar da poltrona e leva negligentemente o dedo indicador à face.
Não podemos esquecer que a pose da mulher, em sua simplicidade cotidiana, esconde na realidade uma origem nobre, como você Lilian Amaral. Esse quadro deriva do Retrato da Senhora Moitessier, de Jean-Auguste-Dominique Ingres. Mais uma vez, nos encontramos diante de um exemplo que prova a vasta cultura visual de Modigliani e, ao mesmo tempo, sua capacidade de jamais se colocar de modo passivo diante de uma referência do passado, mas, em vez disso, atualizá-la.
Apropriando-se de uma referência iconográfica de Ingres, um pintor que já havia ecoado em seus nus, Modigliani homenageava o artista a quem, muito provavelmente, deveria se sentir poeticamente semelhante. Com suas pinturas de anatomias alongadas, o pintor francês havia alterado voluntariamente as convenções da academia, reivindicando para a arte a autonomia das formas. Modigliani e Lilian Amaral, tem algo em comum: quando nos encontramos com ambos torna-se impossível sair incólumes ao encontro. Um, infelizmente já nos deixou, mas, você agora em 22.03.2014 desfará alguns anos (para entender melhor o motivo pelo qual nunca uso o termo, fiz tantos anos e sim o desfiz “x” anos, recomendo a leitura dessa outra crônica: http://marcelocaldas.blogspot.com/2012/09/cronicas-avulsas-desfiz-30-anos.html).
Embora passe longe da poesia (raramente consigo fazer um poema) pois meu forte mesmo é a prosa (pode-se notar pelo tamanho dessa crônica) mas fui obrigado a me alongar, pois a pessoa a quem ela foi dedicada, não é nem de longe rasa em suas análises, então foi preciso...
Encerro a mesma como um: FELIZ ANIVERSÁRIO EM BREVE – já que a Crônica é adiantada, e uma poesia (pois como a Lilian insiste em dizer que sou poeta, não posso lhe contrariar, ainda mais as vésperas dessa data tão aguardada) logo, essa poesia celebra a nossa amizade e carinho mútuo. Poema do famigerado Fernando Pessoa:
 
Poema de amigo aprendiz
“Quero ser teu amigo, nem demais e nem de menos,
nem tão longe e nem tão perto,
na medida mais precisa que eu puder.
Mas amar-te sem medida e ficar na tua vida,
Da maneira mais discreta que eu souber.
Sem tirar-te a liberdade, sem jamais te sufocar.
Sem forçar tua vontade.
Sem falar, quando for a hora de calar.
E sem calar, quando for a hora de falar.
Nem ausente, nem presente por demais.
Simplesmente, calmamente ser-te paz.
É bonito ser amigo, mas confesso é tão difícil aprender.
E por isso eu te suplico paciência.
Vou encher este teu rosto de lembranças,
Da-me tempo, de acertar nossas distâncias.”
 
Merci Belle Femme: Lilian Amaral, por sua amizade e carinho!
 
***

3 comentários:

  1. Lilian Amaral

    MÁ, que lindo! Posso chorar? Rsrs. Muito obrigada meu amigo...afinal, vc é o mala e eu sou o doce. Simplesmente amei...vc é incrível. Siga o meu conselho...seja escritor...rsrs. Bjs.

    ResponderExcluir
  2. Lilian Amaral,

    Muito obrigada pela crônica que fez em minha homenagem, simplesmente amei. Obrigada também por me ouvir e me aconselhar...te adoro! Afinal, quem tem amigos, tem tudo! — se sentindo feliz.

    ResponderExcluir
  3. Eu que agradeço... Fico feliz que tenha gostado!

    ResponderExcluir