quinta-feira, 10 de abril de 2014

CRÔNICAS AVULSAS: O DOM DA AMIZADE


Acabo de ler o livro: “Fernando Sabino e Clarice Lispector – Cartas perto do coração” confesso que fiquei surpreso com o grau de amizade de ambos no livro. Uma amizade que não vejo lastro no dias hoje, pelo menos em minha vida. A cumplicidade literária então de ambos, nem se fala – pois sobeja nas páginas. Tudo tão lírico e amável! Fiquei com uma inveja boa, se é que isso lá exista...
Impossível não ler o livro e não notar as dificuldades que ambos vão passando em suas respectivas vidas, a Clarice Lispector vive com uma melancolia entranhada, que às vezes nos dá a sensação de que iria atentar contra a sua própria vida. Já o Fernando Sabino, enfrentando seus problemas de separação. Em ambos, contudo, algo em comum perpassa todo o livro: o desejo de escrever e amizade recíproca. Esse desejo da escrita, sempre é muito comum a ambos, embora cada um em seus respectivos momentos de vida vão escrevendo como podem – hora prolíficos, hora estagnados. Estarrecidos com a própria inércia. A única coisa que não esmorece nunca em ambos é a amizade mútua.

A vida não titubeia e nem sempre ela é aceitável ou justa. No fundo todos nós teremos de lidar com nossos demônios internos, mais cedo ou mais tarde. Dependendo da época isso é mais presente, ou mais ameno. No desenrolar do livro, vemos como cada um vai agindo diante dos reveses da vida que enfrentam.
Fiquei extremamente feliz ao ver em ambos, que não sou o único, que quando as coisas chegam a níveis insuportáveis, a verve criadora literária tende a ir parando. Não estou só. Isso me reconfortou.

Mas em pleno século 21, seria possível ter uma amizade tão cúmplice assim? Como na vida de ambos: Clarice e Fernando – no livro? Sinceramente, e falando por mim mesmo – não sei. Depois que a pessoa que eu considerava o meu melhor amigo, por motivos mesquinhos, colocou nossa amizade em cheque, tudo ruiu. Não creio mais em amizades duradouras. Não quero ser aqui o carrancudo da hora, e apontar o dedo em riste e dizer: que isso não existe. Creio sim, que até exista. Mas, o que mais vejo em diversas relações é o mais puro jogo de interesses, coisas como: o que eu ganho se lhe ajudar? E por ai vai, degringolando para o pior... Como minha mãe dizia: “Amigos você não perde, descobre que nunca teve!” Sábias palavras.
Mas ainda resta uma esperança, que rebrilha em meio às pedrinhas cheias de limbo dos interesses escusos. Ainda acredito na amizade. Só não tenho uma de verdade, mas acredito...

Como disse Clarice numa carta ao Fernando, datada de 1959 de Washington, D.C:
“Mas a amizade é a mesma, talvez mesmo maior.”

Que sabe um dia não volte a ser privilegiado com esse dom: amizade. Por hora - resta viver, recolher os cacos e esperar...
***

1 comentários:

  1. Eu acredito em amizades sinceras, veraddeira e duradouras. Tenho poucos, muito poucos que não preenchem os 10 dedos das minhas mãos, mas, tenho. Adorei amor sua crônica. Um beijo!

    Alexandra Collazo

    ResponderExcluir