sexta-feira, 2 de maio de 2014

CRÔNICAS AVULSAS: ESCREVER DA ESQUERDA PARA A DIREITA

 
PHOTO: UM LEITOR EM CUBA, DE STEVE McCURRY
Estive lendo “Cadernos de Literatura Brasileira – Clarice Lispector” e o achei monumental, principalmente pela seriedade e qualidade com que foi feito pelo Instituto Moreira Salles, realmente uma obra prima. A certa altura, topei com esse trecho retirado de uma crônica chamada: “Delicadeza” da Clarice e publicada em 1968. Eis o que ela nos diz:
“Nem tudo o que escrevo resulta numa realização, resulta mais numa tentativa. O que também é um prazer. Pois nem tudo eu quero pegar. Às vezes quero apenas tocar. Depois o que toco às vezes floresce e os outros podem pegar com as duas mãos.”
Em certo sentido nesses mais de 300 posts do meu blog, o que sempre busquei foi isso, ou seja, tentar tocar em algo e que esse algo vá de encontro com o coração do leitor, e o toque também e floresça dentro dele alguma coisa boa. Trazer o leitor para uma reflexão introspectiva de si próprio e quem sabe mudanças possam ocorrer em sua vida, por mínimas que sejam – já ficarei feliz.
Sempre entendi a literatura assim, ou seja, um processo em que mergulho na página de um livro, e espero ao sair após a leitura com alguma reflexão válida para a minha vida. Nunca pensei numa literatura de beleza por beleza, mas sim em algo que leio e aquilo me faz refletir sobre tudo a minha volta e inclusive comigo mesmo.
Se pensarmos que Machado de Assis, marcou sua época presente e futura mostrando os costumes de toda uma sociedade carioca, que vivia de aparências e cinismos, que Graciliano Ramos ao escrever: “Vidas Secas”, deu voz aos retirantes desse nosso Brasil de calamidades, exclusões e desigualdades que grassam em nosso solo, que Jorge Amado, através de sua prosa, conseguiu mostrar e retratar a cultura da Bahia, e que até pouco tempo atrás foi o escritor de nossa pátria mais lido no estrangeiro e com maior número de livros publicados e traduzidos em outras línguas e que Guimarães Rosa, fez do seu romance: “Grande Sertão: Veredas”, um livro épico e universal ao mesmo tempo, ainda que se passasse nos sertões das gerais (sul da Bahia, norte de Minas Gerais e norte e nordeste de Goiás) penso que a relevância da literatura que produzo, seja a mesma que esses autores almejaram e obtiveram com suas obras, ou seja, prestar um testemunho para o presente e deixar um legado para a posteridade do meio cultural, social e econômico que vivemos.
Nem sempre tenho a certeza se alcanço isso com meus textos, sejam nas crônicas, contos ou ensaios, como também nem sempre tenho certeza se os leitores me entenderam, mas continuarei tentando...
E quando recebo um comentário assim, sobre algum texto postado, tenho a certeza de que caminho para o alvo certo:
“Obrigada Marcelo Caldas, por suas palavras tão realísticas, mas ao menos tão abençoadoras e consoladoras... Eu sou uma desconhecida para você, mas a sua mensagem e as suas palavras me ajudaram imensamente, sem ao menos, você possa cogitar, alcançar ou perceber... Obrigada mais uma vez.”
 
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