Genial...
Puramente genial essa é a melhor forma de tratar Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) que foi: ensaísta, crítico, romancista, novelista, poeta, jornalista, dramaturgo, contista e cronista. Sem sombra de variação, o maior escritor de nossa língua e dos maiores do mundo, como aponta o famigerado crítico norte-americano Harold Bloom em Gênio, que o colocou no seleto cânone dos cem maiores gênios da literatura mundial.
Nascido no dia 21 de janeiro de 1839, na cidade efervescente do Rio de Janeiro, Machado de Assis foi neto de um de ex-escravo, seu pai era negro; sua mãe veio dos Açores ao Brasil num navio negreiro. Pelo resto de sua vida ficou marcado por uma situação ambígua e inusitada, a de ser aceito entre a elite branca de um país que só viu a Lei Áurea ser assinada em 1888, sendo ele mesmo um mulato.
Às vésperas do centenário de morte, Machado de Assis continua diuturno, e não se restringe apenas ao século XIX. Sua obra é caudalosa e inesgotável. Deveras quando parece que tudo já foi dito, sobre o Bruxo do Cosme Velho, somos tomados de assalto por surpresas: pois surgem novas abordagens inusitadas, revelando outras imagens, ângulos e uma outra cosmovisão do Machado no espelho da crítica. Nas idéias, no humor, na visão social, na abordagem psicológica, na temática urbana e principalmente na linguagem, o autor de Dom Casmurro, Memórias Póstumas de Brás Cubas e tantas outras pérolas conseguiu dar uma guinada nos patamares literários do Brasil. Não existe o menor sinal, de que não continuará a ser referência entre seus pares quase totalizante, que transcende qualquer aspecto específico de estudo.
O século XXI é um mundo que vive as margens da desconfiança, e as histórias e os personagens criados por Machado permanecem absolutamente atuais, e o torna contemporâneo. Sua sutil ironia e seu ceticismo, acham eco em nossa época, que adora ter o prazer de duvidar de tudo e de todos, nossa dificuldade ou impossibilidade de ter certezas são também nossas características. Por isso, que Machado nunca será um autor do passado, mas sim do presente e do porvir. Porque essas incertezas são nossas, e estão arraigadas no ser humano, e irão nos acompanhar por longo tempo...
Machado esteve à frente de seu tempo. Ele corrigiu e aprofundou a obra de seus predecessores conterrâneos, e se tornou de quebra – universal, pois projetou sua literatura para o futuro. E se prendeu a temas universais, pois sabia que estes nunca cairiam em desuso. Sua crítica ácida à elite brasileira é implacável e em muitos casos vem dissimuladamente na figura do próprio narrador.
Graças a Machado, nossa literatura já em 1880, atinge maioridade e maturidade. De uma origem humilde, foi um dos autores mais cultos e eruditos que tivemos. E não se mostrou um pusilânime com o que lhe acontecia ao seu redor, e em nada foi conformista, pois se empenhou pelo fim da escravidão, que foi a maior metástase que grassou neste país dilapidado pela colonização, cujos resquícios maléficos permanecem até os dias hoje.
Na sua obra se quisermos, podemos nos ater aos conteúdos, acharemos a melhor análise do ser brasileiro (lá vemos a política, o caráter, a sociedade, os anseios e economia); todavia, se quisermos nos ater as formas, verificaremos a sua modernidade, sua pós-modernidade e sua inevitável, portanto, eternidade.
Ler Machado de Assis é ter surpresa sobre surpresa em suas milhares de páginas, do seu texto debaixo do texto. Frases lapidares e perfeitas que nos remetem a uma profunda reflexão e que já nos fazem dar boas gargalhadas, hoje e sempre.
Ao assumir a presidência da Academia Brasileira de Letras (ABL) – da qual foi um dos fundadores e primeiro presidente – em 20 de julho de 1987, o escritor proferiu um discurso breve e objetivo: “(...) O vosso desejo é consertar, no meio da federação política, a unidade literária. Tal obra exige, não só a compreensão pública, mas ainda e principalmente a vossa constância (...) Passai aos vossos sucessores o pensamento e a vontade iniciais, para que eles o transmitam aos seus, e a vossa obra seja contada entre as sólidas e brilhantes páginas da vossa vida brasileira. Está aberta a sessão.” Com essa frase, o Bruxo do Cosme Velho nos ensina a determinação em perpetuar a sua obra e a literatura de qualidade...
quarta-feira, 25 de junho de 2008
A IMPORTÂNCIA DE MACHADO DE ASSIS UM SÉCULO DEPOIS DE SUA MORTE
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Literatura
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LEGALL GOSTEI ESTOU LENDO UM LIVRO DELE "O ALIENISTA"
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