Dia desses na empresa que
trabalho – uma menor aprendiz me disse: “Eu
acho dá hora sua tatuagem do Batman no antebraço!” Confesso, que fiquei encabulado
e respondi meio sem jeito: “Um dia te
explico o porquê dela...” Os dias se passaram céleres e no frenesi das demandas,
essa explicação minha nunca chegou para ela. Coisas que o mundo corporativo se
encarrega de varrer para debaixo do tapete do esquecimento – devido suas altas
solicitações cotidianas – que crescem sem fim...
Hoje, com a notícia de que o
lendário ator Adam West, ator que interpretou o Batman na clássica série de TV
americana, entre 1966 e 1968, morreu nesta sexta (09.06.2017), aos 88 anos, me
senti inclinado a tecer algumas palavras sobre o Batman. Aliás, essa série
ocupou muito o meu imaginário na infância e ficava encantando com as peripécias
do Batman nela.
Aos desavisados, foi Bob Kane o
criador do Batman, que fez sua estréia nos quadrinhos da Detective Comics em
1939. E para entendermos a psique da alma do Batman, precisamos falar do medo.
Isso fica bem claro na película: Batman Begins, 2005 (do excelente diretor:
Christopher Nolan). E a morte dos pais do Batman é parte capital de sua
mitologia. Tudo teve seu início em novembro de 1939 na lendária HQ (de Kane) em
que lemos a morte dos seus pais.
O que a criança Bruce Wayne
aprende ali, com esse evento traumático? Que o mundo é um lugar cruel, e que
nada – nem ninguém irá nos bater tão forte quanto a própria vida. Logo, não se
trata de quem bate mais para vencermos na vida e sim de quem sabe apanhar e
mesmo assim se põe de pé e não desiste. O personagem aprende que não estará
seguro de novo, então o que ele faz? Justiça com as próprias mãos. Eventos
traumáticos nos fazem questionar as nossas mais profundas crenças. E é assim
que um trauma pode ser uma força poderosa que nos induz ao amadurecimento.
Batman ao assumir o símbolo do morcego (ele morria de medo dos morcegos quando
criança) conquistou para si mesmo –o medo real deles. Tornou-se outra pessoa...
Carl Jung no começo do século
20, vai se debruçar sobre o lado sombrio que todos nós carregamos. É a eterna
dicotomia que nos divide: “bem x mal”. E o Batman personifica o lado sombrio.
Em TODAS as culturas do mundo (exceto a China) o morcego é uma ameaça, um ser
notívago, algo que não podemos ver claramente – mas, que pode nos morder. As
pinturas medievais apresentam o próprio demônio com chifres e asas de morcego.
O que o Batman nos ensina
então? É a atitude que iremos adotar perante a vida – o que realmente importa,
quando ela vier sobre nós. Isso é uma escolha fundamental que todas precisam tomar;
pois não importa o que venhamos a experimentar, não importa quem sejamos, não
importa a classe, cor, gênero...
O mais importante é a nossa
reação após a tragédia. Para muito além de suas aventuras eletrizantes, o
Batman trás ao mundo algo maior. Suas lutas interiores nos oferecem uma visão
da origem dos nossos próprios medos. As motivações por trás dos atos de maldade
– e as maneiras que um ser humano normal – pode se tornar um herói. E sem autodisciplina
que ele tem de sobra, não seremos ninguém. Como dizia Aristóteles: “Somos o que fazemos repetidamente,
repetidas vezes. Portanto, a excelência não é um feito, mas um hábito.”
Autodisciplina é como um músculo do nosso corpo – logo, quanto mais exercitarmos,
mais fortes ficaremos.
Todos tentam se fortalecer com
suas virtudes e minimizam suas fraquezas. Batman reflete o espectro total da
ansiedade emocional: alegria e tristeza, que cada um de nós experimenta a vida
toda. É um homem que encarou sua tragédia pessoal (perda dos pais) e fez
escolhas para superá-la. E usou essa tragédia – para melhorar a si mesmo e o
mundo.
A melhor coisa sobre o Batman é
que ele não é um super-herói. Ele é HUMANO, aliás, demasiadamente humano. Ele
nos mostra a grandeza da qual os humanos são capazes. Que todos nós podemos
fazer a diferença sim em um mundo de dificuldades e mazelas mil. Podemos
perseguir a justiça em um mundo injusto.
O Batman é acima de tudo – um personagem
que nos dá esperança. Que todos nós precisamos. Ainda mais nos dias de hoje...
***
ps.: Só contarei mesmo o motivo
real então pelo qual tatuei o Batman no braço, para a menor aprendiz. Você terá
de conviver com essa dúvida, se leu tudo até aqui. Existem coisas da psique
humana, que só podemos dizer pessoalmente. Sorry.
RIP.: Adam West (1928-2017) descanse em paz e obrigado por tudo!
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