Das inúmeras vicissitudes humanas, uma das mais arraigadas e, portanto, difícil se livrar é a artificialidade básica dos seres humanos civilizados. Pois, ela corre em nossas veias e condiciona nossos pensamentos, atitudes e relacionamentos de forma muito mais séria do que imaginamos. A vida de João Castro, sempre girou sob essa órbita. Da sua infância, poucos momentos de liberdade e alegria, guardou para si. Sempre viveu sob pulso forte, de sua mãe; que ao menor sinal de desacato, lhe infringia duras penas; algumas, duravam até meses de clausura.
Assim foi crescendo, engolindo em seco suas opiniões e aceitando tudo que a opinião alheia – lhe impunha, goela a baixo. Com o tempo, seu senso de dignidade e auto-estima, se foram; e uma enorme letargia, se apoderou dele. Em casa seus pais o tiranizavam, na escola e trabalho, não foi diferente. Sempre tinha tolhido sua opinião e liberdade.
Quando já velho, com azedume na alma, disse certa feira para sua esposa, Sophia S. Castro, com um olhar tristonho:
- O destino me transformou no que sou!
Ao que Sophia, após refletir alguns minutos em profundo silêncio, lhe disse de chofre:
- Não são as circunstâncias que fazem os homens, é a reação destes às circunstâncias que determinam que tipo de homens eles serão. Mas, não se entristeça, pois a sabedoria é uma virtude da velhice. E aquele velho ditado francês, que você adora dizer, também não tem muito nexo: “Le temps d’apprendre à vivre il est déjà trop tard.[1]” Pelo contrário, nunca é tarde demais para se aprender a viver...
[1] “Quando aprendemos a viver, já é tarde demais.”
0 comentários:
Postar um comentário