quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
CADERNOS ESPIRITUAIS: ESPERANDO PERFEIÇÃO, ACEITANDO HUMANIDADE
NATUREZA-MORTA COM BÍBLIA (1885) DE VAN GOGH
Os “evangélicos” brasileiros possuem um péssimo gosto por adesivos que tentam transmitir mensagens ditas “cristãs”. Essas mensagens em sua maioria esmagadora são ininteligíveis ao público que nada entende do “evangeliquês” tupiniquim; geralmente são em seus vidros traseiros ou pára-choques dos seus carros, que elas lá estão estampadas, indo desde: “oooooooohhhhhhhhhh glória ao tradicional – Deus é fiel”. Fico impressionado com tamanha pobreza literária e intelectual.
Contudo, penso que uma mensagem que criaria para colocar em algum carro, para justamente contrastar com essas, que grassam aos borbotões, seria essa:
“CRISTÃOS NÃO SÃO PERFEITOS. APENAS PERDOADOS”.
Sendo irmãos uns dos outros, entendemos que ser um cristão de nenhuma forma nos conduz a uma vida de perfeição, apagando nossa humanidade e erradicando nossa depravação. Se tudo isso realmente acontecesse, então porque existiria a Bíblia nesse mundo, cheia de conselhos sobre o perdoar os outros, entender suas falhas, aceitar seus defeitos e focalizar em seus pontos fortes (mesmo que sejam poucos)? Uma coisa é um incrédulo esperar perfeição – eu posso viver com isso e tolerar razoavelmente bem – mas é mais desconcertante ser empurrado a um molde de perfeição por irmãos e irmãs!
Sim, eu entendo que nosso exemplo está em Cristo... e que nossos padrões são altos... que nossos motivos geralmente são bons. Mas isso precisa ser dito de novo, de novo e de novo:
“CRISTÃOS NÃO SÃO PERFEITOS. APENAS PERDOADOS”.
Como é fácil manipular ou até mesmo atormentar nossos irmãos e irmãs! Quão radicalmente a fina linha da liberdade se transforma em grande peso das expectativas perfeccionistas que são lançadas em cima de nós! Cristo Jesus nunca fez isso. Quando as pessoas estavam perto dele existia um incrível magnetismo por causa da ausência de expectativas irreais, demandas perspicazes e mecanismos de manipulação. Ele não pressionava. Simplesmente aceitava as pessoas como elas eram.
Uma paralisia toma conta quando operamos no contexto chocante da “síndrome da expectativa da perfeição”. Alimentados pelo medo e pela culpa, os cristãos se tornam vítimas de outros, ao invés de serem vitoriosos em Cristo, pela sua graça inefável. Nós, ultimamente, vivemos essas pressões e por causa disso limitamos nosso potencial.
Note esse quadro supracitado, do grande mestre Van Gogh (1853-1890), ele quando vivo, só conseguiu vender um único quadro: “O vinhedo vermelho”, por míseros 400 francos, passou sua vida toda, sem ser sequer reconhecido por sua obra genial. Era totalmente incompreendido em sua época, mas mesmo assim, e apesar dos pesares em sua vida, que foram muitos, continuou pintando...
Hoje, tanto a vida quanto a obra de Van Gogh têm seduzido a sensibilidade do homem contemporâneo. Seu uso emblemático da cor, assim como os perfis curvilíneos, semelhante a chamas tortuosas e instáveis, que o tornaram em sua época um artista menor – rotulado pelos ditos “doutos” em artes, fazem dele hoje um dos artistas mais apreciados do mundo todo. Eis um homem, que não se dobrou ao que os outros pensavam de sua obra e nem ao perfeccionismo que queriam que ele se submetesse.
Vamos com calma! Vamos afrouxar o aperto no pescoço uns dos outros. Vamos permitir que o Senhor aponte o dedo, faça a crítica, a cobrança e o julgamento. Vamos crescer e parar de ser tão frágeis e infantis. Eu adoro o que Ruth Graham, esposa do grande evangelista Billy Graham, sabiamente disse uma vez:
“É meu trabalho amar Billy. É trabalho de Deus fazê-lo melhor”.
Substitua o nome Billy pelo nome de seu cônjuge, seus pais, seu amigo, seu chefe, seu vizinho, seu missionário e quem sabe o seu próprio e você terá uma idéia geral da mensagem do adesivo...
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