“Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A mágica presença das estrelas!”
- Mario
Quintana
Eis o papel do apaixonado! Aspirar por
tudo aquilo que parece inatingível, abrir as portas para os sonhos, querer
sempre com fervor e furor... e jamais – jamais – deixar de acreditar na magia
das estrelas. Assim é Salvador Dalí: um homem dominado por várias paixões. Uma
delas o envolve obsessivamente: a pintura.
A exposição Salvador Dalí chegou hoje em São Paulo, no Instituto Tomie Ohtake. E já é um verdadeiro sucesso de recorde de público, pois quase 1 milhão de visitantes passaram pelo Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro. Aliás, esse é o maior público recebido pelo CCBB nos seus 25 anos de existência. O número de pessoas que já viram a mostra é impressionante, no Museu Reina Sofia de Madri (732 mil pessoas) e Centro Georges Pompidou de Paris (790 mil). E nós brasileiros, superamos os dois, com quase 1 milhão de pessoas no Rio de Janeiro, quem disse que não gostamos de arte e cultura?
Salvador Dalí é o mais popular pintor surrealista, e traz ao Brasil 218 peças, entre elas 24 pinturas, quinze fotografias e quatro vídeos, que fazem um panorama da carreira de Salvador Dalí (1904-1989) e apresentam como evolui sua técnica e temas. Além de telas significativas como O Sentimento de Velocidade, (1931) e Monumento Imperial à Mulher-Menina (1929) estarão expostos filmes que produziu em parcerias com Luís Buñel e Alfred Hitchcock onde ficou responsável pelas cenas de sonho. As obras vieram das três principais instituições que abrigam seu legado, a Fundação Gala-Salvador Dalí, o Museu Reina Sofía e o Museu Salvador Dalí. A maioria dos trabalhos nunca havia sido exibida no país. Uma sala dedicada à reprodução da instalação Mae West Room conta com uma boca gigante onde os visitantes podem sentar e tirar diversas fotografias.
A mostra, tem curadoria da espanhola Montse Aguer, e é organizada em ordem cronológica, traz desde os primeiros trabalhos dos anos de aprendizado, da década de 1920, até as últimas pinturas dos anos 1980. Dalí parou de pintar em 1983. Morreu seis anos depois, aos 84 anos.
Em meu blog tenho vários posts em que usei muitos quadros de Salvador Dalí, conheço um pouco de sua história e sua arte, e quando penso sobre ele, chego à conclusão que um quadro não é feito só de tinta: são idéias que moram na cabeça do pintor. São as idéias dançantes na cabeça que fazem as tintas dançar sobre a tela. E Salvador Dalí é mestre maior nisso!
Em 1923, Dalí descobriu A interpretação dos Sonhos de Freud e interessava-se pelo inconsciente, os sonhos, as associações de idéias, e por sua sexualidade e obsessões. Lembro que nesse livro, Freud não analisa os sonhos dos pacientes, mas sim os seus próprios – dá para imaginar como deveria ser o seu inconsciente? Poucos anos antes, e coincidindo com a Primeira Guerra Mundial, outro jovem em Paris, André Breton, poeta e estudante de medicina, era assistente pratico num hospital onde eram atendidos soldados que retornavam da frente da guerra com processos de delírio agudo; ali pôde experimentar os métodos de pesquisa da psicanálise sobre os sonhos e as associações de idéias descontroladas para tentar interpretá-los.
O interesse de Breton pela poesia e a imaginação reorientou-se com as descobertas de Freud sobre o funcionamento do inconsciente, que permitiam, através dos sonhos, mergulhar no mais profundo desconhecido: o inconsciente. A possibilidade de interpretá-lo iria significar a grande revolução para a liberação espiritual do homem. Em 1924, Breton publicou o Primeiro Manifesto Surrealista, convertendo-se no ideólogo de um novo movimento: o surrealismo.
Dalí foi adepto dessas idéias. Embora mais tarde, fosse expulso das hostes do movimento pelo próprio líder André Breton. Como não poderia deixar de ser, a julgar pelo seu temperamento nada modesto, disse de chofre quando foi expulso do movimento: “O surrealismo sou eu”.
Desse rompimento precoce, Salvador Dalí projetou seus delírios nas telas, transmitindo aos espectadores a sensação de que essas imagens haviam sido criadas pela imaginação deles. Com base nessa leitura do livro do Freud sobre a interpretação dos sonhos e sua associação aos surrealistas em Paris, ele fez uma mistura híbrida da psicanálise e pintura.
Georges Braque, disse que: “Na arte só uma coisa importa: aquilo que não se pode explicar”. As obras de Salvador Dalí são um a encarnação viva dessa frase. E elas estão logo ali ao alcance dos nossos olhos e corações. Vamos?
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Instituto Tomie Ohtake. Rua Coropés, 88, tel. 2245-1900. São
Paulo – SP.
Terça a Domingo., das 11h às 20h. Grátis.
De 19/10/2014 até 11/1/2015
Excelente e oportuna postagem, Marcelo!
ResponderExcluirExcelente Texto.
ResponderExcluirE.P. Gheramer e Ana Paula, muito obrigado! Abraços.
ResponderExcluirQue inteligente! Ameiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii
ResponderExcluirSimone Guerra
ResponderExcluirÓtima publicação sobre Dali!!
Ana Patrícia Penteado.
Simone e Ana, fico muito feliz pelo retorno! Obrigado mesmo!!!
ResponderExcluirMuito boa essa crônica, parabéns pela criatividade.
ResponderExcluirArthur Claro
http://www.arthur-claro.blogspot.com
Olá Arthur, muito obrigado pelo reconhecimento e retorno. Abraços.
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