segunda-feira, 13 de outubro de 2014

CRÔNICAS AVULSAS: O SANSÃO & EU (PARTE II)

Quando ele chegou em casa – cabia na palma das minhas mãos. O tempo se passou célere, e hoje já é um cachorro adulto e não mudou muita coisa, contínua ainda cabendo em minhas mãos. A grande maioria das pessoas quando digo que sou meio dono dele, acham graça e riem na minha cara. Alguns até dizem: “E lá existe meio dono?” Sim, existe e sou a prova viva disso, o Sansão é da minha irmã – mas, moramos sobre o mesmo teto e me orgulho da minha modesta posição de ser meio dono dele!
Afinal, o nome dele – Sansão fui eu quem escolhi e, portanto, mereço ser o meio dono dele por direito de batismo. Aliás, os nomes de cachorros são importantes. Temos de escolher com calma e precisão. Já pensou chamar seu cachorro de Nero? Por Júpiter, isso não! Nome feio e manchado na história com sangue. Melhor outros nomes, eu prefiro Sansão, e por assim ele ficou.
Seu nome é por si só uma brincadeira, já que ele nunca teria a força descomunal do Sansão bíblico, porém, o que lhe falta em força, sobra no seu latido. Nunca vi igual! Creio que os cachorros pequenos sejam por si só escandalosos, mas o Sansão é meio fora da curva. Fazer o quê? Nada, já nos acostumamos ao seu jeito, talvez queira sempre nos avisar sobre algo que julgue importante e que só seus agudos ouvidos captem – faz parte da sua natureza.
Lembro apenas de um único dia que ele não latiu quando chegamos em casa. Foi quando voltávamos do interior, eu e minha irmã, vindo do enterro da nossa mãe. Aliás, o Sansão apenas respeitava ela em casa, eu, minha irmã e minha filha nunca tivemos muita moral com ele, sempre custa a nós obedecer nas coisas mais simples, mas com a minha mãe – bastava um olhar apenas. Nesse dia não houve latidos, nem euforia – com quem sempre nos recebeu. Lembro que desabei no sofá assim que cheguei, e ele veio caminhando com olhar triste e deitou-se junto comigo e ali ficou quieto. Do seu jeito – prestava suas condolências. Apenas silêncio.
Semanas atrás fez muito frio em São Paulo, embora estejamos passando atualmente por um calor dos infernos, com os termômetros marcando 36º graus nas ruas. E como de costume ele dorme dentro de casa nesses dias de frio rigoroso, na sala em sua cama improvisada. Minha irmã acordou de madrugada, foi ao banheiro e não o viu no lugar de sempre, ficou desesperada, pois pensou que ele tinha desaparecido, veio até o meu quarto me avisar, quando para seu alívio o viu deitado na minha cama, junto aos meus pés, dormindo um sono angelical – sem um pingo de remorso ou preocupação.
Não tenho nem muita experiência e sabedoria para dar uma definição clara do que seja o amor.  Por isso recorro a Alberto Caeiro:
“Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama...”
Certeza mesmo só tenho uma – o que os meus sentidos me dizem claramente: amo o Sansão!
***

1 comentários:

  1. Mais do que nunca tem nosso respeito e admiração. .do Leo e minha....sem conhecer o Sansão já temos amor por ele e também por você. ...Leo e eu.....

    Yara Kassab

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