Quando ele chegou em casa –
cabia na palma das minhas mãos. O tempo se passou célere, e hoje já é um
cachorro adulto e não mudou muita coisa, contínua ainda cabendo em minhas mãos.
A grande maioria das pessoas quando digo que sou meio dono dele, acham graça e
riem na minha cara. Alguns até dizem: “E
lá existe meio dono?” Sim, existe e sou a prova viva disso, o Sansão é da
minha irmã – mas, moramos sobre o mesmo teto e me orgulho da minha modesta posição
de ser meio dono dele!
Afinal, o nome dele – Sansão
fui eu quem escolhi e, portanto, mereço ser o meio dono dele por direito de
batismo. Aliás, os nomes de cachorros são importantes. Temos de escolher com
calma e precisão. Já pensou chamar seu cachorro de Nero? Por Júpiter, isso não!
Nome feio e manchado na história com sangue. Melhor outros nomes, eu prefiro
Sansão, e por assim ele ficou.
Seu nome é por si só uma
brincadeira, já que ele nunca teria a força descomunal do Sansão bíblico,
porém, o que lhe falta em força, sobra no seu latido. Nunca vi igual! Creio que
os cachorros pequenos sejam por si só escandalosos, mas o Sansão é meio fora da
curva. Fazer o quê? Nada, já nos acostumamos ao seu jeito, talvez queira sempre
nos avisar sobre algo que julgue importante e que só seus agudos ouvidos captem
– faz parte da sua natureza.
Lembro apenas de um único dia
que ele não latiu quando chegamos em casa. Foi quando voltávamos do interior,
eu e minha irmã, vindo do enterro da nossa mãe. Aliás, o Sansão apenas
respeitava ela em casa, eu, minha irmã e minha filha nunca tivemos muita moral
com ele, sempre custa a nós obedecer nas coisas mais simples, mas com a minha
mãe – bastava um olhar apenas. Nesse dia não houve latidos, nem euforia – com quem
sempre nos recebeu. Lembro que desabei no sofá assim que cheguei, e ele veio
caminhando com olhar triste e deitou-se junto comigo e ali ficou quieto. Do seu
jeito – prestava suas condolências. Apenas silêncio.
Semanas atrás fez muito frio em
São Paulo, embora estejamos passando atualmente por um calor dos infernos, com
os termômetros marcando 36º graus nas ruas. E como de costume ele dorme dentro
de casa nesses dias de frio rigoroso, na sala em sua cama improvisada. Minha
irmã acordou de madrugada, foi ao banheiro e não o viu no lugar de sempre,
ficou desesperada, pois pensou que ele tinha desaparecido, veio até o meu
quarto me avisar, quando para seu alívio o viu deitado na minha cama, junto aos
meus pés, dormindo um sono angelical – sem um pingo de remorso ou preocupação.
Não tenho nem muita experiência
e sabedoria para dar uma definição clara do que seja o amor. Por isso recorro a Alberto Caeiro:
“Eu
não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se
falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas
porque a amo, e amo-a por isso,
Porque
quem ama nunca sabe o que ama...”
Certeza mesmo só tenho uma – o que
os meus sentidos me dizem claramente: amo o Sansão!
***
Mais do que nunca tem nosso respeito e admiração. .do Leo e minha....sem conhecer o Sansão já temos amor por ele e também por você. ...Leo e eu.....
ResponderExcluirYara Kassab