segunda-feira, 23 de maio de 2011
3º CONGRESSO INTERNACIONAL DE JORNALISMO CULTURAL – REFLEXÕES DO TERCEIRO DIA: 19/05/2011
CARTHAGENE, SPAIN
Retirado do site: http://jr-art.net em (23/05/2011).
A priori, gostaria de pedir desculpas a você leitor virtual, pois, ontem não consegui finalizar os textos do 3º Congresso Internacional de Jornalismo Cultural, estava trabalhando num roteiro de filme e na construção de um livro de contos inéditos; que me consumiu o final de semana inteiro e ainda terá muita lenha para queimar...
Pois bem, antes de começar essa reflexão, chamo para o diálogo reflexivo, dois ilustres cavalheiros; bem distintos entre si por sinal, porém, iguais em raciocínio. Um era o famigerado padre da igreja católica e o outro um poeta gaúcho. Para meu pesar, ambos falecidos, oxalá que tivéssemos mais homens dessa monta, na presente época sombria. Saliento que são transversais as frases de ambos.
Eis as mesmas:
“Quando iam saber do Batista, quem era, perguntam-lhe: ‘Vós quem sois, e vós quem dizeis que sois’ porque os homens quando testemunham de si mesmos, uma coisa é o que são, e outra coisa é o que dizem. Ninguém há neste mundo que se descreva com a sua definição: todos se enganam no gênero e também nas diferenças.
Que diferentes coisas são ordinariamente o que dizeis de vós, e o que sois? E o pior é que muitas vezes não são coisas diferentes: porque o que sois é nenhuma coisa, e o que dizeis são infinitas coisas. Nesta matéria de ‘vós quem sois’ todo homem mente duas vezes; uma vez mente-se a si, e outra vez mente-nos a nós: mente-se a si, porque sempre cuida mais do que é; e mente-nos a nós, porque sempre diz mais do que cuida.”
_Padre Antônio Vieira em “Sermão da Terceira Dominga do Advento – Lello & Irmão – Editores, Porto. Tomo I, p.256.
“Os que andam com segundas intenções não conseguem enganar ninguém. Está na cara... O perigo mesmo - porque é invisível - está nos que tem terceiras intenções.”
_Mario Quinta em "A vaca e o hipogrifo" poema: Intenções de (1977).
No debate: “A PRODUÇÃO TEATRAL CONTEMPORÂNEA E A CRÍTICA ESPECIALIZADA” estavam presentes: Felipe Hirsch, diretor de Teatro; Marco Antonio Rodrigues, diretor de Teatro; Jefferson Del Rios, jornalista e crítico de Teatro e a mediação ficou por conta do Oswaldo Mendes, jornalista e diretor de Teatro.
Algo que me tocou profundamente na fala de ambos (e todos são envolvidos) no Teatro, como se percebe na diminuta sinopse acima, é o AMOR que eles têm pela cena, direção e obra Teatral – num todo.
O respeito, ética, postura, constância de valores e temor por essa arte tão sucateada em nosso solo brasileiro, foi nítido e estampado no semblante de ambos.
Teatro pra mim é uma das mais lindas manifestações de arte; uma vigília permanente, um fórum de discussão e memória sobre nossa própria existência em seu aspecto fundante e mediador, aquele que concentra o foco no diálogo entre o autor, diretor de teatro e o espectador. Aliás, Shakespeare, dizia que: “O Teatro serve para ser um espelho do homem e da sociedade”.
O Teatro aparece como uma das questões urgentes do momento atual da nossa sociedade, quando essa passa por mudanças tecnológicas dos parâmetros de fruição e apreciação, repercutindo nas esferas de formação, civilização e atualização de repertório de várias gerações.
Como disse o idealizador do famigerado Sarau (COOPERIFA) da zona sul de São Paulo, Sérgio Vaz, em seu manifesto da Mostra Cultural da Cooperifa (que ocorreu entre 18 a 23 de novembro de 2008):
“É preciso sugar da arte um novo tipo de artista: o artista cidadão. Aquele que na sua arte não revoluciona o mundo, mas também não compactua com a mediocridade que imbeciliza um povo desprovido de oportunidades. Um artista a serviço das comunidades, do país.
Que armado da verdade, por si só, exercita a (R)EVOLUÇÃO.”
Eu creio que o Teatro tem esse poder desencadeante para exercer na vida de qualquer indivíduo; pois, o Teatro é a memória de um espírito combativo, de (r)evolução e humanista (em que pese o travo de utopia em tempos de tantas falências), quando a arte Teatral ainda podia ser uma festa.
Eu entendo o Teatro assim...
Só para vocês terem uma idéia, do que esses HOMENS do TEATRO falaram nesse debate, transcrevo aqui algumas frases, que consegui anotar dos mesmos, caso errei em alguma coisa (me perdoem) era a pressa, pois, tudo foi tão intenso, arrazoador e impetuoso, que era complicado prestar atenção nos palestrantes e anotar o que eles diziam – tudo ao mesmo tempo (talvez se tivesse nascido mulher, conseguiria essa proeza, já que elas conseguem fazer mais de duas as coisas ao mesmo tempo, ao passo, que nós homens, somos péssimos nisso), contudo, tentei fazer o melhor e ser o mais fiel possível - “ipsis litteris”:
• “O Teatro é um local onde as pessoas se reúnem, para pensar e refletir, sobre a condição humana”. _Oswaldo Mendes
• “A imprensa está cada vê mais interessadas aos seus interesses econômicos”. _idem
• “Todos os três grandes jornais (Folha de São Paulo, Estado de São Paulo e O Globo) estão ligados a empresas comerciais; que estão aquém do cunho jornalístico”. _idem
*
• “Só a reflexão é que leva ao crescimento cultural. Falta reflexão de nossa parte na atual sociedade brasileira”. _Marco A. Rodrigues
• “Cada homem e mulher é responsável pelo mundo inteiro”. _idem
• “Cultura é um deslocamento moral, para que a sociedade avance.” _idem
• “A TV GLOBO é FRUTO DIRETO DA DITADURA!” _idem
• “A Lei Rouanet é um estelionato legalizado!” _idem
• “A arte é uma utopia, são pequenos deslocamentos que interferem no mundo”. _idem
• “Jornal + comércio = um efeito perverso!”. _idem
*
• “O Teatro sempre teve a capacidade de refletir sobre os acontecimentos. Porém, ele tem se isolado”. _Felipe Hirsch
• “Arte não é para entreter; mas para refletir”. _idem
• “A TV GLOBO é uma empresa que está falindo, ela não tem mais o monopólio de antigamente”. _idem
• “O Teatro começa na preparação da vida. É uma lida de uma vida inteira”. _idem
• “Tenho a sensação de que só lêem as críticas, os próprios críticos, atores e dramaturgos. Ninguém mais lê isso, essa é a sensação que tenho”. _idem
*
• “Eu me considero um jornalista extinto. Sou um excelente criador de cachorros, por isso, não dependo do jornalismo.” _Jefferson Del Rios
• “Jornal é um empreendimento capitalista”. _idem
• “Antigamente a tiragem dos jornais: Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo eram de 560 mil. Hoje é de 300 mil. Isso equivale a três mil pessoas que lêem a parte de cultura, teatro nos referidos jornais. Cheguei a essa conclusão pelas estatísticas que tenho acesso nos jornais”. _idem
• “Sou um crítico APAIXONADO pelo que faço! Eu vou APAIXONADO no Teatro!” _idem
• “EU SONHO AINDA COM UM TEATRO, QUE SEJA UM LUGAR QUE VOCÊ APAGA A LUZ, E SE DESCOBRE DE DENTRO PARA FORA, SE HUMANIZA E CRESCE COMO CIDADÃO”. _idem
Paro por aqui, pois para o bom leitor, meia entrelinha – basta!
Já o DEBATE: “O JORNALISMO IMPRESSO ESTÁ SE TORNANDO REFÉM DA MÍDIA DIGITAL”, teve Otavio Frias Filho (jornalista, escritor e filho do fundador do jornal Folha de São Paulo Octavio Frias de Oliveira, falecido aos 94 em 29.04.2007) e Esther Hamburger, professora, crítica literária e ensaísta, com a mediação de Wellington Andrade, professor.
Pois bem, a palestra transcorreu normalmente, e estava ansioso para as perguntas, e a minha foi feita nesses termos:
“Senhor Otavio Frias Filho, tendo esses dois canais ricos de comunicação, a internet e o jornal impresso, e já que a maioria dos leitores de hoje, preferem a web ao jornal impresso, por que motivo, não se deixa as informações mais rasas (em termos de aprofundamento) na internet e no jornal impresso vocês se aprofundariam mais nos conteúdos?
A resposta do mesmo foi nessa linha:
“Hoje estaticamente falando é comprovado que o número de novas assinaturas dos jornais Marcelo Caldas, tem crescido muito, o que não significa que as pessoas sejam a maioria leitores da internet somente.”
Tive a plena sensação de ouvir uma resposta retórica de um político, e não de um Diretor Editorial de um jornal de ampla circulação no Brasil e um dos mais importantes, da tríade jornalística que já foi citada nessa reflexão.
Notem a ambigüidade da resposta. E o pior, se o tema da palestra era um debate, por que não nos era concedido o direito de retrucar o mesmo, quando este nos respondia? Isso é debate? Era porque tinha muitas pessoas? Muitas perguntas? Iria virar um fuzuê dos infernos se isso ocorresse?
Bom, a revista CULT que repense seu “modus operandi” do evento. Pois é um contra-senso abissal uma palestra levar o nome de debate e o público só ter direito a fazer uma pergunta, ouvir a resposta do palestrante, e não poder argüir o mesmo novamente caso esse não seja claro e assertivo na sua resposta.
Uma sugestão minha – muito simples por sinal, mudem o nome para palestra monologa ao invés de debate. Ou melhor, façam que nem o diretor do Palmeiras fez: Salvador Hugo Palaia, que criou a famosa: auto-entrevista em (2006), ou seja, ele mesmo fez às perguntas a si próprio e as respondeu; e disse aos jornalistas, que todos queriam era saber daquilo mesmo e ele só tinha adiantado as mesmas, após isso, deu as costas e foi embora da coletiva, sem deixar os jornalistas questionarem (olhe no youtube esse vídeo – sensacional – adorooooo!). Simples assim! Assim não se tem frustrações... Não é genial revista CULT essas duas sugestões?
É mole isso? Vou de Macaco Simão da Folha de S. Paulo: “É mole, mas trisca pra ver o que acontece!” Rarará! Só rindo mesmo!
Todavia, voltando à fatídica resposta do Diretor Editorial da Folha de São Paulo, ele dá um tiro no próprio pé ao responder assim. Primeiro, se cresce o número de novos assinantes (jornal impresso) onde o jornal circula em suas devidas praças, por que ao invés de se preocuparam tanto com o alarde que fizeram quando a Folha de São Paulo mudou sua diagramação, layout e cores, e se tornou um jornal do futuro (como alardearam) não fazem um jornal mais profundo em suas matérias? E por que não foi claro na resposta do conteúdo profundo? Por que motivo da evasão? Só responde o que lhe convém? Isso é jornalismo? Isso é postura de um Diretor Editorial de um dos jornais mais famosos e importantes do Brasil? Isso é ser um jornal que tem e leva estampado em sua primeira página o slogam: “Um jornal a serviço do Brasil”?
Vocês servem nossa nação com notícias de “leite”, quando na realidade o que precisamos é de alimento sólido (1 Coríntios 3:2).
Depois da resposta do mesmo, peguei minhas coisas e fui embora decepcionado. Não fiquei até o final, portanto, não posso comentar mais nada. Ainda no corredor de saída lembrei-me de uma das monumentais conversas que tinha com a minha mãe (que é falecida) onde ela me disse certa vez:
“Aprenda isso Marcelo Caldas, pior que não ler jornal é ler um só!”
Um leve sorriso se refez no meu rosto abatido, tinha acabado de achar uma luz em meio ao longo túnel de trevas jornalístico – que tinha acabado de presenciar.
Sugiro que releia senhor Diretor Editorial o poema que foi lido na missa do seu falecido e estimado pai, do excelente poeta britânico – Rudyard Kipling (1865-1936) que ele adorava – eis o mesmo, para refrescar sua memória:
Se
“Se és capaz de manter a tua calma quando
Todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa;
De crer em ti quando estão todos duvidando,
E para esses no entanto achar uma desculpa;
Se és capaz de esperar sem te desesperares,
Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
E não parecer bom demais, nem pretensioso;
Se és capaz de pensar – sem que a isso só te atires,
De sonhar – sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires
Tratar da mesma forma a esses dois impostores;
Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas
Em armadilhas as verdades que disseste,
E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,
E refazê-las com o bem pouco que te reste;
Se és capaz de arriscar numa única parada
Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
Resignado, tornar ao ponto de partida;
De forçar coração, nervos, músculos, tudo
A dar seja o que for que neles ainda existe,
E a persistir assim quando, exaustos, contudo
Resta a vontade em ti que ainda ordena: "Persiste!";
Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes
E, entre reis, não perder a naturalidade,
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
Se a todos podes ser de alguma utilidade,
E se és capaz de dar, segundo por segundo,
Ao minuto fatal todo o valor e brilho,
Tua é a terra com tudo o que existe no mundo
E O QUE MAIS – TU SERÁS UM HOMEM, Ó MEU FILHO!”
***
PS. Espero que todos tenham entendido o motivo das duas frases iniciais; dessa reflexão.
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Eae Marcelo, fmz, gostei muito desse blog, somente hoje tive um tempo tranquilo pra aprecialo, bastante informação cultural, infelizmente não é o interesse da maioria das pessoas que direta ou indiretamente se doutrinaram a um padrão de vida determinado pela televisão, é com muito prazer que sempre estarei dando uma espiada por aqui, esse blog é nota 10, abraços!!
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