REFINAMENTO SOLITÁRIO, DE DUY HUYNH
“Quando nada acontece, há um milagre que não estamos vendo.”
_Guimarães Rosa.
Shophia morava no rincão do sertão mineiro; numa cidadezinha chamada: Cordisburgo. Nunca vira o mar. O pai sabedor disso, depois de muito empenho, conseguiu juntar dinheiro suficiente, para que pudesse levar a filha para ver o mar. Escolheu viajar para o Maranhão, a fim de conhecerem os famosos: lençóis maranhenses. A fim de não estragar a boa nova para a filha, fazendo suspense, que era típico de sua parte; disse para ela que no dia seguinte (que era um sábado) iriam viajar de avião pela primeira vez, e ele a levaria para um lugar maravilhoso.
A filha quase não dormiu pensando que lugar viria a ser esse. Mas antes de ir para a cama, perguntou algo a seu pai (que era típico de sua parte) e que a angustiava fazia tempo, disse:
“Pai, nossa casa é a única que tem uma chaminé aqui na vila. E que me lembre, nunca passei frio aqui. Por que temos isso?”
O pai astuto que era e muito sábio, disse para filha depois de fazer uma cara de filósofo:
“Nossa chaminé não serve para sair fumaça filha, mas para entrar o céu.”
“Mas pai, o que é o céu?”
“Amanhã saberá, verá ele bem diante dos seus olhos.”
Subiram correndo a todo vapor uma extensa duna com mais de quarenta metros de altura dos lençóis maranhenses, chegando ao topo, avistaram a vastidão do mar. Seu pai virou para Shophia e lhe disse:
"Eis o céu, em forma de mar”.
Foi tanta a imensidão do mar e tanto o seu fulgor: que Shophia ficou muda de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:
"Me ajuda a olhar!"
=)
PS. Contos de Luana Caldas são escritos a quatro mãos: Filha e Pai.
Que bacana! Muito bom!
ResponderExcluirAbraços,
Monica, do Instituto Interseção.