terça-feira, 15 de maio de 2012

CONTOS DE LUANA CALDAS: IMENSIDÃO


REFINAMENTO SOLITÁRIO, DE DUY HUYNH


“Quando nada acontece, há um milagre que não estamos vendo.”
_Guimarães Rosa.


Shophia morava no rincão do sertão mineiro; numa cidadezinha chamada: Cordisburgo. Nunca vira o mar. O pai sabedor disso, depois de muito empenho, conseguiu juntar dinheiro suficiente, para que pudesse levar a filha para ver o mar. Escolheu viajar para o Maranhão, a fim de conhecerem os famosos: lençóis maranhenses. A fim de não estragar a boa nova para a filha, fazendo suspense, que era típico de sua parte; disse para ela que no dia seguinte (que era um sábado) iriam viajar de avião pela primeira vez, e ele a levaria para um lugar maravilhoso.

A filha quase não dormiu pensando que lugar viria a ser esse. Mas antes de ir para a cama, perguntou algo a seu pai (que era típico de sua parte) e que a angustiava fazia tempo, disse:

“Pai, nossa casa é a única que tem uma chaminé aqui na vila. E que me lembre, nunca passei frio aqui. Por que temos isso?”

O pai astuto que era e muito sábio, disse para filha depois de fazer uma cara de filósofo:

“Nossa chaminé não serve para sair fumaça filha, mas para entrar o céu.”

“Mas pai, o que é o céu?”

“Amanhã saberá, verá ele bem diante dos seus olhos.”

Subiram correndo a todo vapor uma extensa duna com mais de quarenta metros de altura dos lençóis maranhenses, chegando ao topo, avistaram a vastidão do mar. Seu pai virou para Shophia e lhe disse:

"Eis o céu, em forma de mar”.

Foi tanta a imensidão do mar e tanto o seu fulgor: que Shophia ficou muda de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:

"Me ajuda a olhar!"

=)
PS. Contos de Luana Caldas são escritos a quatro mãos: Filha e Pai.

1 comentários:

  1. Que bacana! Muito bom!


    Abraços,


    Monica, do Instituto Interseção.

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