sexta-feira, 20 de julho de 2012

CRÔNICAS AVULSAS: EU AOS PEDAÇOS (PARTE V)


GALATEA DAS ESFERAS (1952) DE SALVADOR DALÍ

Algumas influências em nossas vidas são passageiras e pouco nos acrescentam. Contudo, já outras são indeléveis e como somos frutos dos nossos pais (aos que tiveram o privilégio de terem sido criados por estes) com certeza trazemos em nossa formação suas influências, quer sejam: positivas ou negativas.

Tive o privilégio de ter as influências positivas em minha vida, pois o que se pode dizer de uma mãe, cujo filho ainda nem nasceu, ou seja, no período da gestação e já lia para este Monteiro Lobato? Daí quando cresci, foi inevitável meu amor pelos livros, que perdura até hoje; pois sempre fui incentivado por ela a desbravar os oceanos literários.

Lembro-me de um fato engraçado do período da minha infância, que me marcou muito, foi quando ela me apresentou ao dicionário, e disse para mim: “Aqui se encontram todas as palavras do mundo!” Passado algumas semanas lhe devolvi o dicionário dizendo que já conhecia todas as palavras do mundo. Intrigada, ela me questionou: “Como assim?” Ao que falei: “Eu li ele todo”. Ela caiu na gargalhada e disse: “Acho que será um escritor.”

O tempo passou célere e hoje quando deito essas palavras nesse blog, faz exatos três anos que minha mãe se foi. Nos dois primeiros anos foi insuportável a dor, hoje aprendi a lidar melhor com isso (pelo menos é o que eu acho).

Termino com uma das suas autoras favoritas, Simone de Beauvoir, que no seu excelente texto “Escrever para superar a dor” consegue sintetizar com maestria tudo o que estou sentindo hoje:

"Nos períodos difíceis da minha vida, rabiscar frases – ainda que nunca venham a ser lidas por ninguém – traz o mesmo reconforto que a reza para quem tem fé: através da linguagem ultrapasso meu caso particular, comungo com toda a humanidade.

Toda dor dilacera; mas o que a torna intolerável é que quem a sente tem a impressão de estar separado do resto do mundo; partilhada, ela ao menos deixa de ser um exílio.

Não é por deleite, por exibicionismo, por provocação que muitas vezes os escritores relatam experiências terríveis ou desoladoras: por intermédio das palavras, eles as universalizam e permitem que os leitores conheçam, em seus sofrimentos individuais, os consolos da fraternidade.

Em minha opinião, essa é uma das funções essenciais da literatura, e o que a torna insubstituível: superar a solidão que é comum a todos nós e que, no entanto, faz com que nos tornemos estranhos uns aos outros.”

***

2 comentários:

  1. Você não me disse nada sobre sua mãe ter partido. Sempre fala dela mas nunca havia comentado sobre isso...estive pensando que a maneira como você fala dela a faz viva...
    Essa crônica é muito triste, estou com o coração apertado.

    Uma amiga perdeu a mãe recentemente e ontem mesmo escrevi umas coisas para ela, aparentemente ela desistiu da vida, tem deixado a tristeza tomar conta dela e esta esquecendo de viver.

    Sei que não é fácil perder alguém que tanto amamos...

    Adoro a frase de uma música do Nando Reis que diz: A VIDA É UMA BOBAGEM UMA IRRELEVÂNCIA DIANTE DA ETERNIDADE DO AMOR DE QUEM SE AMA

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  2. Imensurável deve ser a perda da mãe...
    Pilar de sustentação de uma família!!!
    Mas conheço essa dor de perder alguém que nos gerou e nos ensinou a ser grandes pessoas hoje!!!
    Sei que nada na vida é fácil, porém com nosso jeito brasileiro de ser, conseguimos suportar e modificar as coisas para que não soframos tanto.
    Aprendemos a suprimir essa dor para que a vida siga seu rumo, mas tudo esta bem guardado onde tem q estar!!! E em alguns momentos vem a tona.

    Leticia Valente

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