ROBERT DOWLING JR. OBRA SEM NOME.
Martin Scorsese é um dos meus diretores prediletos e mais uma vez conseguiu se sobressair num belo filme: “A INVENÇÃO DE HUGO CABRET”. Vendo essa película invariavelmente me veio à mente duas frases de outros grandes cineastas, a primeira delas é de Fellini:
“O cinema é um rito ao qual grandes massas se submetem de maneira servil, portanto, quem faz cinema de consumo determina o rumo da mentalidade e do costume, da atmosfera psíquica de populações inteiras que todos os dias são visitadas por avalanches de imagens mostradas nas telas. Ele envenena o sangue como o trabalho nas minas, corrói as fibras, pode se transformar numa espécie de tráfico de cocaína, tão indiscriminado e perigoso quanto este, por ser dissimulado, inadvertido.”
(Federico Fellini: “Fazer um Filme” editora Civilização Brasileira).
O cinema de consumo é o que mais vemos nos dias atuais. Basta olhar as salas de cinema e os filmes em cartaz espalhados pelos grandes shoppings centers de São Paulo, do Brasil e do mundo. Uma pena...
A Invenção de Hugo Cabret é uma aragem em tempos de filmes estritamente comerciais. Pois através de Hugo Cabret somos imersos numa aventura intricada e imprevisível, um desenho enigmático, uma caderneta valiosa repleta de anotações, a busca por uma chave perdida e um raro autômato compõem o cerne dessa história encantadora, que como um novelo vai se desenrolando a nós paulatinamente.
O filme que vai misturando elementos de histórias em quadrinhos e do cinema, aos poucos se revela uma homenagem linda e inteligente ao cinema mudo em preto e branco, principalmente ao maior expoente dos efeitos especiais, fantásticos, mágicos e ilusionistas representados pelo cinema: Georges Méliès; que fez mais de 500 filmes e foi o primeiro a construir um estúdio cinematográfico na Europa.
Sem sombra de dúvida, creio que do começo desse ano de 2012 até a presente data, esse filme foi uma das coisas mais belas que tive a oportunidade de assistir. Um filme louvável, e uma bela manifestação de vigília permanente da 7ª Arte, pois trás a memória sobre a experiência do cinema em seu aspecto fundante e mediador, aquele que concentra o foco no diálogo entre autor (e seu filme) e o telespectador. E que traz acima de tudo: conteúdo.
A segunda frase que permeou meu pensamento foi de Truffaut:
“Quando pensamentos pessimistas... me atravessam o espírito, tranqüilizo-me rememorando a última seqüência de um filme de Ingmar Bergman... Luz de Inverno. No final... vemos um padre que quase perdeu a fé celebrando uma missa em sua Igreja completamente vazia... interpreto essa cena de outra forma: ‘Bergman quer nos dizer que os espectadores do mundo inteiro estão se desligando do cinema, mas acha que devemos continuar mesmo assim a fazer filmes... ainda que não haja ninguém no cinema”.
(François Truffaut: “O Prazer dos Olhos” editora Jorge Zahar).
O cinema aparece como uma das questões urgentes do momento atual da nossa sociedade, quando essa passa por mudanças tecnológicas dos parâmetros de fruição e apreciação, repercutindo nas esferas de formação, civilização e atualização de repertório de várias gerações. Destarte: “A Invenção de Hugo Cabret” recupera a memória de um espírito combativo, humanista e de amor a história do cinema (em que pese o travo de utopia em tempos de tantas falências) quando a 7ª Arte ainda podia ser uma festa...
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Uau....que paixão...rs
ResponderExcluirNunca havia pensado nos filmes atuais como “cinema de consumo”.Mas ao ler sua colocação resgatamos na memória todos os filmes assistido e nos damos por conta que a maioria deles a mensagem não é o amor, a paixão ou o respeito mas a padronização de coisas fúteis.
Juliana Marcandalle Ferreira