SACRIFÍCIO DE ISAAC (1635) DE REMBRANDT
No último sábado – estava eu no
salão Hayzam (A arte da beleza) em São Bernardo do Campo, no jardim 3 Marias,
esperando minha noiva e quando as letras do excelente livro do Andre
Comte-Sponville chamado: “Pequeno Tratado
das Grandes Virtudes” me ficaram turvas, vi que era ora de sair e tomar um
ar puro. Aproveitei uma pracinha de frente do salão, chamada – Praça dos
Expedicionários, não entendi bem o porquê do nome, e para ajudar nada tinha no
local que explicasse isso; e como já tinha perguntando o porquê do nome do
salão ser Hayzam e cometido uma tremenda gafe (pois esse nome encontra-se
envolto em uma espécie de rosa que faz parte do logo) e já tinha deduzido
perguntando e dando a resposta para a dona do salão: “Hayzam é rosa em japonês?” Ao que ela riu e me disse um sonoro: “Não. Hay é de Haymoto, sobrenome do ex-sócio
do salão e zam é de Zambender, meu sobrenome.” Assim sendo, achei melhor em
razão dos bons costumes e da polidez, não argüir mais minha ilustre e
impaciente informante do salão; então não sei explicar o porquê do nome da
praça, fico devendo esse dado histórico ao ilustre leitor.
Quando sentei no banco de pedra,
notei algumas caçambas de lixo, e pasmem – da própria Prefeitura de São
Bernardo do Campo, e como estavam lotadas, ao redor delas sobravam sacolas de
lixo espalhadas, não entendo como essa Prefeitura pode fazer isso com essa área
verde. Não demorou muito, e pude reparar numa quantidade enorme de lixo
espalhado por toda a pracinha, que tirava sua beleza. Uma pena. Passado alguns
breves minutos de consternação, meus olhos brilharam, vi uma Sabiá, com três
filhotes saltitando pelo gramado. Esse pássaro é tão grato e faz parte da minha
infância do interior. E outra coisa importante, não sei como explicar (aliás,
nem tudo nessa vida tem explicação) mas sinto que os pássaros me perseguem ou
sou eu que persigo eles? Não sei bem ao certo, só sei que é assim; mas o fato é
que em quase todo local que estou sempre avisto algum pássaro volta e meia. E
nessa pracinha não foi diferente, às vezes me sinto como aquele personagem do
Gabriel García Márquez em “Cem Anos de
Solidão” da família dos Buendía,
que por onde andava era perseguido por um cortejo de borboletas amarelas. Vi
também um casal de rolinhas, pombas, sanhaço de coqueiro, bem-te-vi e por fim
uma arribação de maritacas que me fizeram lembrar o penúltimo capítulo de Vidas Secas do mestre Graça, chamado: “O
Mundo Coberto de Penas”. As maritacas são tão verdes que é até difícil
achá-las em meio às árvores, o que entregam elas, é sua sinfonia desafinada, e o
que lhes sobra em beleza falta em melodia. Refletindo
sobre elas – pensei que assim é a vida, ou seja, sempre encontraremos alguém
melhor do que nós em alguma coisa, logo o bom mesmo é rirmos de nós mesmos e aproveitarmos
a vida, pois todo tipo de comparação pertence ao “7 pele”.
Já
pensou se as maritacas pudessem comparar o seu canto com o do uirapuru* (ave de
canto tão belo da Amazônia brasileira, que canta uma única vez no ano inteiro,
e os índios dizem que quando ele canta, toda a floresta se silencia para
apreciar sua beleza) acho que haveria um suicídio coletivo de maritacas.
Ainda ali sentado, impossível não
pensar sobre o ano que se passou, acredito que o mês de dezembro nos remeta
para isso mesmo, e eu passei por tantas coisas nesse ano de 2013, talvez a pior
de todas, não apenas uma, mas por várias vezes cheguei ao ponto de desistir da
vida. E naquele momento pensando nisso, me perguntei, o que me segurou aqui?
Pensava, pensava e não achava resposta, de repente um ônibus de São Bernardo do
Campo, estacionou no ponto, e no seu letreiro, lia-se o seu destino: esperança.
Esperança é um bairro de São Bernardo do Campo, acho que o divino me respondeu ali
ao meu questionamento, pois lembrei que quando as coisas iam de mal a pior,
ainda restava à esperança. E por muitas vezes, me agarrei com tal força nela
que cheguei a afirmar e a ficar como Abraão, quando o apóstolo escrevendo sobre
ele no livro de Romanos diz: “Abraão,
esperando contra a esperança, creu [...]” (Rm 4.18a).
Eu cri
até contra a própria esperança, hoje estou aqui ainda. Contemplando a beleza do
canto do Sabiá, como dizia o poeta-sábio do Mato Grosso, Manuel de Barros:
“A ciência pode classificar e nomear os órgãos
de um sabiá
mas não pode medir seus encantos.
Quem acumula muita informação perde o condão
de
adivinhar: divinare.
Os sabiás divinam.”
(Livro sobre o nada, pp. 53,68.)
Sábio é
o que adivinha.
Aprendi
que a felicidade é passageira e efêmera. Prefiro a alegria, que é uma atitude
diante da vida (quer boa ou ruim) uma forma de afrontá-la.
***
*Caso tenha ficado curioso sobre o canto desse pássaro lendário, ouça esse vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=8PUjz3Zk_cQ
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