domingo, 23 de fevereiro de 2014

CRÔNICAS AVULSAS: SEI LÁ COMO É A VIDA



Downtown, Nova York, EUA (1947) foto de Henri Cartier-Bresson.

Às vezes a vida dá uma pedrada em nós, que perdemos até o rumo de casa. Ficamos desnorteados, e isso pode se dar em várias áreas das nossas vidas, quer seja: financeira, amorosa, familiar...

Quem nunca sentiu isso ainda na pele, que atire a primeira pedra. Nesses momentos o céu fica de bronze, e nossas orações não chegam até os deuses. Tudo fica cinza, como a cidade de São Paulo, e isso é o máximo que conseguimos contemplar. O horizonte se anuvia e perde sua beleza imaginativa...

O que fazer quando somos atropelados por circunstâncias que independem de nós? Já desfiz 31 anos de idade, e não sei a resposta ou respostas... E olha que já vivi muitas coisas: fui pai aos 18 anos, tive muitas perdas de parentes, perdi minha mãe em 2009 (que foi o maior baque de todos), perdi empregos, ganhei dinheiro e perdi dinheiro, já tive depressão, tomei porres monumentais ao ponto de acabar com todas as cervejas do bar, vi o casamento da minha mãe com meu pai – terminar numa separação judicial, briguei horrores nas ruas do Jardim Ângela (onde vivo até hoje), perdi amigos para as drogas e para o mundo do crime, perdi a fé em tudo e a recuperei de volta, fui nas melhores baladas de São Paulo, dancei muito “popero”, tive muitas namoradas (que até perdi a conta), viajei para alguns lugares do Brasil, experimentei comidas das mais diferentes formas, cores e sabores possíveis, aprendi francês, tive amigos e perdi amigos...

Difícil falar sobre isso, talvez daí a necessidade de extravasar tudo numa crônica, pois creio que quando expomos nossas dores aos outros e as universalizamos, nos aproximamos mais das respostas (se é que teremos algum dia as respostas). Pois como dizia o Cazuza: “Todo mundo é igual quando sente dor.” Já Shakespeare: “Quem nunca foi ferido, zomba de cicatrizes.” Verdade seja dita: esses autores estão mais do que corretos; e suas frases são tão boas, que para um bom entendedor, metade delas já é um romance...

A vida como ela é então? Você me pergunta arguto leitor. Eu respondo: um dia feliz, outro triste. Um dia com dinheiro, outro sem. Um dia feliz no amor, outro amargando a separação. Um dia com saúde, outro enfermo. E assim vivemos numa sucessão de idas e vindas. Ou como dizia o Horace Walpole:

“A vida é uma comédia para os que pensam e uma tragédia para os que sentem.”

Muito profunda a frase do Walpole, e como uma amiga minha insiste em dizer que sou poeta, embora da minha pena, tenha escrito efetivamente pouquíssimos poemas, pois meu forte mesmo é a prosa, encerro essa crônica com o Toquinho, cuja música foi imortalizada por: Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Miúcha, e elucubre aqui comigo: se até esses homens e mulher de nobres cepas, não acharam a resposta sobre o que é a vida, quem dirá eu leitor? Não pense que lhe enganei, apenas queria a sua amável companhia, e se veio até aqui lendo vá até o fim, pois é agora que a coisa fica boa, permita que essa música fale ao seu coração, vai ver, tem um sentido que é só seu, como um outro sentido que é só meu – então quem ler, que sinta, aproprie-se, viva, pense, repense e viva a vida como ela é (e ah, nunca esqueça de fazer isso com muita paixão!).

Sei Lá, a vida tem sempre razão

Tem dias que eu fico pensando na vida
E sinceramente não vejo saída.
Como é, por exemplo, que dá pra entender:
A gente mal nasce, começa a morrer.

Depois da chegada vem sempre a partida,
Porque não há nada sem separação.
Sei lá, sei lá, a vida é uma grande ilusão.
Sei lá, sei lá, só sei que ela está com a razão.

A gente nem sabe que males se apronta.
Fazendo de conta, fingindo esquecer
Que nada renasce antes que se acabe,
E o sol que desponta tem que anoitecer.

De nada adianta ficar-se de fora.
A hora do sim é o descuido do não.
Sei lá, sei lá, só sei que é preciso paixão.
Sei lá, sei lá, a vida tem sempre razão.

***

5 comentários:

  1. Mto bom o post e a música.
    Beijos Esther ;)

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  2. A vida e as caixinhas de surpresas,Marcelo! Hora na glória outra na luta, e assim vamos seguindo, como tem de ser... Tá ai, uma ótima crônica (para o meu dia "morno") me inspirou , me ajudou e, me deu o UP que me faltava hoje. Obrigada por mais uma vez nos encher com suas palavras intensas e cheias de verdades.

    Bjs da mais nova amiga, Carla Adrielle (admiradora da sua escrita) ; )

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    Respostas
    1. Wow, fico feliz por isso, ganhei meu dia e o mês... Merci pelo retorno, adoro ouvir as impressões das pessoas, feliz da vida... Mais um motivo, para não desistir do blog... beijos.

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    2. Quando é bom agente elogia! E vc é muito bom no que faz. Continue assim, nos motivando,por favor.

      Bjão

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