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UM LEITOR EM CUBA, DE STEVE McCURRY
Estive lendo “Cadernos de Literatura Brasileira – Clarice Lispector”
e o achei monumental, principalmente pela seriedade e qualidade com que foi
feito pelo Instituto Moreira Salles, realmente uma obra prima. A certa altura,
topei com esse trecho retirado de uma crônica chamada: “Delicadeza” da Clarice
e publicada em 1968. Eis o que ela nos diz:
“Nem
tudo o que escrevo resulta numa realização, resulta mais numa tentativa. O que
também é um prazer. Pois nem tudo eu quero pegar. Às vezes quero apenas tocar.
Depois o que toco às vezes floresce e os outros podem pegar com as duas mãos.”
Em certo sentido nesses
mais de 300 posts do meu blog, o que sempre busquei foi isso, ou seja, tentar
tocar em algo e que esse algo vá de encontro com o coração do leitor, e o toque
também e floresça dentro dele alguma coisa boa. Trazer o leitor para uma
reflexão introspectiva de si próprio e quem sabe mudanças possam ocorrer em sua
vida, por mínimas que sejam – já ficarei feliz.
Sempre entendi a literatura
assim, ou seja, um processo em que mergulho na página de um livro, e espero ao
sair após a leitura com alguma reflexão válida para a minha vida. Nunca pensei
numa literatura de beleza por beleza, mas sim em algo que leio e aquilo me faz
refletir sobre tudo a minha volta e inclusive comigo mesmo.
Se pensarmos que Machado de Assis, marcou sua época presente e futura
mostrando os costumes de toda uma sociedade carioca, que vivia de aparências e
cinismos, que Graciliano Ramos ao escrever: “Vidas Secas”, deu voz aos
retirantes desse nosso Brasil de calamidades, exclusões e desigualdades que
grassam em nosso solo, que Jorge Amado, através de sua prosa, conseguiu mostrar
e retratar a cultura da Bahia, e que até pouco tempo atrás foi o escritor de
nossa pátria mais lido no estrangeiro e com maior número de livros publicados e
traduzidos em outras línguas e que Guimarães Rosa, fez do seu romance: “Grande
Sertão: Veredas”, um livro épico e universal ao mesmo tempo, ainda que se
passasse nos sertões das gerais (sul da Bahia, norte de Minas Gerais e norte e
nordeste de Goiás) penso que a relevância da literatura que produzo, seja a mesma que esses autores
almejaram e obtiveram com suas obras, ou seja, prestar um testemunho para o
presente e deixar um legado para a posteridade do meio cultural, social e
econômico que vivemos.
Nem sempre tenho a
certeza se alcanço isso com meus textos, sejam nas crônicas, contos ou ensaios,
como também nem sempre tenho certeza se os leitores me entenderam, mas
continuarei tentando...
E quando recebo um
comentário assim, sobre algum texto postado, tenho a certeza de que caminho
para o alvo certo:
“Obrigada
Marcelo Caldas, por suas palavras tão realísticas, mas ao menos tão
abençoadoras e consoladoras... Eu sou uma desconhecida para você, mas a sua
mensagem e as suas palavras me ajudaram imensamente, sem ao menos, você possa
cogitar, alcançar ou perceber... Obrigada mais uma vez.”
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