A vaidade é o calcanhar de
Aquiles dos homens e mulheres, desde tempos imemoriais da nossa criação. Hoje
em dia então com o advento das redes sociais isso ganhou uma proporção ainda
maior. Basta darmos uma rápida olhada nas redes sociais, pois nela todos estão
esbeltos e em suas melhores fotos, nos melhores lugares, nos melhores
restaurantes, nas melhores baladas, com as melhores bebidas – e tudo gira em
torno de se mostrar e ostentar. Não tenho nada contra as redes sociais (já até
aviso a priori) contudo, essa necessidade exaustiva de se mostrar que está
sempre numa boa aos outros é de uma aporrinhação sem igual.
O mundo virtual existe ao redor
de nós, como um monstro ou um anjo, dependendo do lado pelo qual o abordamos.
Todos nós fomos condenados ao excesso de comunicação, a oferta é maior do que a
procura. O mundo virtual é um salto sem rede no espaço. E eu fico boquiaberto
com o sujeito que diz: “Tenho mais de
1.000 amigos nas redes sociais!” Aí eu penso, será que eles caberiam num
abraço sincero? Será que são pessoas que realmente se importam com você? Será
que estarão ao seu lado nos momentos dos dias maus? Vã ilusão isso.
Acredito que a poesia é
fundamental na vida de todos nós. É ela quem sempre nos salva do ridículo e dá à vida uma transcendência cada vez mais necessária. E aos que acham semideuses, recomendo que
leiam esse poema do Fernando Pessoa, que se chama: Poema em Linha Reta. Quem sabe ainda exista cura...
E eu, tantas vezes
reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
“Nunca
conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as
mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.”
Longa vida aos que conseguem se desapegar do ego.
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.”
Longa vida aos que conseguem se desapegar do ego.
***
Oi, Marcelo!
ResponderExcluirPenso que as redes sociais só expõe aquilo que todo mundo era antes delas, mas que não tinha como mostrar mais. É um reflexo apenas.
Assim como qualquer coisa na vida, pode ser usada de maneira positiva ou negativa. É uma questão de escolha.
Quanto ao poema, Pessoa é sempre Pessoa! :D
Beijos,
Fê
Algumas Observações
Olá Fernanda, boa tarde!
ResponderExcluirVerdade, é uma questão de escolha...
Obrigado pela visita.
Bj,