terça-feira, 26 de janeiro de 2010

CRIAÇÃO


A CRIAÇÃO DE ADÃO (1511), afresco de Michelângelo na Capela Sistina – Roma.

“Quando sinto a impulsão lírica escrevo sem pensar tudo o que meu inconsciente me grita. Penso depois: não só para corrigir, como para justificar o que escrevi.”
- Mário de Andrade (1893-1945)

Quem adora escrever; e nunca teve a sensação de estar sem um assunto para desenvolver, que atire à primeira pedra. Estar diante de uma página em branco e um cursor piscando é angustiante, e não raro somos envolvidos numa sensação de desespero, por não ter nada a dizer. Acredito que escrever, assim como nas demais artes, é antes um processo que envolver muito sacrifício e dor para só depois ser prazeroso. No caso do ato de escrever o troféu é vermos um texto, artigo, conto ou romance – acabado. Nisso, faço coro com o grande estadista britânico Winston S. Churchill (1874-1965), que captou com muita argúcia isso:

“Escrever um livro é uma aventura. Principia um brinquedo e um gosto. Vira uma amante, depois um tutor, depois um tirano. Na fase final, já conformado em ser escravo você o mata e arremessa o corpo ao público”.

Hoje quando resolvi escrever mais um texto para esse blog, tive uma sensação interna de questionamento do por que, mais uma vez iria fazer isso, ou seja, postar um texto. Rapidamente, respondi a mim mesmo, que escrevo para propor algo, para tocar, provocar reflexão, questionamento, crítica e mudança de paradigma nos leitores (se possível é claro). Escrevo sobre a vida com suas alegrias e tristezas. E nada é mais satisfatório, do que quando vejo o olhar das pessoas, me dizendo isso ou aquilo sobre meus textos, ou quando postam seus comentários.
Mas concluí (depois de pensar mais sobre isso) que essa percepção faz parte de uma fina camada da superfície, sendo a parte mais profunda desse processo todo, é que escrevo primeiramente para mim; para que eu mesmo me indague, questione, reflita e quebre meus próprios paradigmas e recrie minhas idéias. Assim como uma faca de dois gumes, o primeiro a ser atingido sou eu mesmo com meus textos.

Sempre acreditei que um texto deva conter um significado, uma mensagem, seja ela explícita ou implícita. Nas linhas ou entrelinhas. Mas algo que vá de encontro ao leitor e que lhe agregue algo. Nisso, sou e sempre serei partidário, de uma literatura de engajamento. De uma prosa, que provoque reflexão no leitor, e não que seja meramente e esteticamente: bonita.
O grande mestre Erico Veríssimo dá o tom:

“Desde que, adulto, comecei a escrever romances, tem-me animado até hoje a idéia de que o menos que um escritor pode fazer, numa época de atrocidades e injustiças como a nossa, é acender a sua lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão, propícia aos ladrões, aos assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e do horror. Se não tivermos uma lâmpada elétrica, acendamos o nosso toco de vela ou, em último caso, risquemos fósforos repetidamente, como um sinal de que não desertamos nosso posto”. (Solo de Clarineta, primeiro volume).

No fundo é isso que busco em meus textos. Se você em algum dado momento leitor achou essa “luz”, fico imensamente feliz, pois cumpri meu papel e descanso com a consciência tranqüila, de quem cumpriu seu papel...


***

4 comentários:

  1. Bem simpatico o seu blog, gostei das leituras. Parabéns pela sua inteligencia.

    Neia Alves

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  2. Olá Sr. Marcelo Caladas, rsrssr!!!

    Que bom tê-lo de volta, gosto muito de ler seus textos!
    Espero que volte com a "corda" toda para nos deliciar com suas palavras!

    Bjs da grande amiga do seu coração, que eu sei... rsrs
    Kelly Longo

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  3. As palavras são instrumentos magníficos para expressão dos nossos mais profundos sentimentos, elas nos transportam para lugares e situações inusitados, essa é a grande razão dos livros serem nossos melhores amigos. Marcelo
    Ter um amigo tão genial e talentoso como você, não tem preço,cheguei ao trabalho como todos os dias e li um belo texto sobre o "amor" viajei, refleti, me senti aquela mulher por alguns instantes, mágico não é??? escreveu com a alma..com sua alma perfumada....!! grande beijo Margareth

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  4. Meu querido Marcelo, como está?
    Escrever realmente é duro, porém seu blog nos demonstra que tem enfrentado tal situação e com ternura como são seus textos. Admiro você cara. Abraços.
    Marcio Uno

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