quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

HEMINGWAY E O MAR

"BARCOS DE PESCA NA PRAIA DE SANTA MARIA" (VAN GOGH, 1888)



Existem escritores que admiramos, amamos e que atravessamos. Ernest Hemingway, acredito que se enquadraria melhor na primeira e segunda opção. Um misto de admiração e amor. Recordo-me que meu primeiro contato com ele se deu por sua última obra literária: Paris é uma festa.Li o livro rapidamente, acredito que em dois dias, era impossível não ficar extasiado e encantado com tudo ali descrito. Desde então tenho me aprofundado em sua obra.

Hoje gostaria de falar sobre o livro: O velho e o mar (1952) que como nas grandes obras literárias mundiais, se apresenta com um enredo que parece ser simples, mas em suas entrelinhas, vemos que não é bem assim. Um velho pescador, fica por oitenta e quatro dias sem pescar nada, captura, depois de uma hercúlea luta, que durou dois dias e meio, um peixe gigantesco, que prende no seu pequeno bote, e no dia seguinte, quando regressa para seu lar, acontece mais uma luta épica, pois os tubarões do Caribe, atacam seu precioso troféu. Isso acontece com freqüência nas obras de Hemingway, ou seja, uma aventura em que um homem enfrenta, num combate sem trégua, um adversário implacável, liça graças à qual, seja derrotado ou vitorioso, atinge um valor mais alto de orgulho e dignidade, um maior patamar humano. Por essa obra obteve o Prêmio Pulitzer, em 1953, e um ano depois, 1954 o Prêmio Nobel de literatura. A maior honraria que um escritor pode almejar para sua carreira.

A luta do velho Santiago contra os inimigos silenciosos que acabariam por derrotá-lo, possuí uma descrição de algo mais constante e universal, o desafio permanente que é a vida para os seres humanos, e uma lição surge nisso, a saber: que, enfrentando essas provas com a valentia e a dignidade do pescador da história, o homem pode atingir uma grandeza moral, uma justificativa para sua existência, mesmo que termine derrotado. Quando ele retorna à vila dos pescadores onde vive, apenas com o esqueleto do marlim, devorado pelos tubarões, completamente exausto, parece-nos alguém que, na experiência que acabou de protagonizar, agigantou-se moralmente e superou a si mesmo, transcendendo as limitações físicas e psíquicas dos comuns mortais.

Sua história é triste, porém não pessimista; pelo contrário, mostra que sempre há esperança de que, mesmo nas piores atribulações e reveses, a conduta de um homem ou mulher pode mudar a derrota para a vitória e dar sentido à sua vida. Santiago, no dia seguinte ao seu retorno, é mais respeitável e digno do que era antes de zarpar, e é isso que faz o menino Manolín chorar, a admiração pelo ancião inquebrantável, mais ainda que o carinho e a piedade que sente pelo homem que o ensinou a pescar.

Esse é o sentido da famosa frase que Santiago diz a si mesmo no meio do oceano, e que serve como uma bela reflexão para todos nós: “Um homem pode ser destruído, porém não derrotado”. Pense nisso...


***