quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

CONTO: SÓ SEI QUE FOI ASSIM



OS AMANTES (1928), DE RENÉ MAGRITTE.



“Encontro pela vida milhões de corpos; desses milhões posso desejar centenas; mas dessas centenas, amo apenas um. O outro pelo qual estou apaixonado me designa a especialidade do meu desejo.” (Roland Barthes 1915-1980)



Assim, de repente; como se o destino sorrisse para mim eu a vi pela primeira vez. Juro a vocês.
Dizer sim para o que o destino nos oferece significa acreditar que a gente merece algo parecido com crescer, iluminar-se, expandir-se, renovar-se, encontrar-se, ser feliz e por que não: amar?
Fazer suas escolhas, assinar embaixo, pagar os preços... e não se lamentar demais. Porque programamos o próprio destino e cada vez que, num tímido murmúrio ou num grande grito, a gente diz para si mesmo: sim eu quero isso pra mim! Acredito que as coisas acontecem, e foi exatamente isso que fiz.
Confesso que dentro de mim senti algo diferente, algo se movendo nas minhas entranhas e fazendo meu coração palpitar freneticamente, quando a vi. Como num abrir e fechar de olhos tive a certeza de que encontrara a mulher da minha vida. Já vejo sobrancelhas arqueando-se e muitos dizendo: “Mas como assim, a mulher da sua vida? Se nem ao menos trocou uma palavra e muito menos conheceu ela direito?” ao que digo: “O coração tem caminhos, que a nossa lógica cartesiana, nem sonha em conhecer”. Aliás, acredito que no amor, não existe lógica nenhuma. Simplesmente amamos.

Baudelaire escreveu que: “Nós somos todos mais ou menos loucos!” Acredito que em se tratando de amor, essa máxima se eleve ao máximo. Se partimos da premissa: de que o amor é cego, logo, a sua companheira é a loucura. Juntos fazem a vida valer à pena – mas isso não é coisa para os medrosos nem para os paralíticos (de alma), que perdem a felicidade no matagal dos preconceitos, onde rosnam os deuses melancólicos da acomodação.

Um dos meus amigos em tom jocoso, ao ouvir esse meu relato, me indagou: “Já que estás dado a filosofias e poesias hoje, explique para nós o que é amor para você, já que esse sentimento lhe arrebatou assim, sem mais nem menos”. Ao que lhe encarei nos olhos, por um instante e lhe disse de chofre:

- Amor é quando ocorre constantemente transformação para maior cumplicidade, e não para o distanciamento. Amor é quando uma relação não se torna uma prisão; nem numa enfermaria ou muleta; mas que seja vida, crescimento (turbulências eventuais incluídas). Amor é libertação e ajuda mútua; não fiscalização e condenação, nada de sentenças pronunciadas em frases gélidas ou olhares acusadores, ares de reprovações ou lamúrias explícitas. Amor é cumplicidade, porque a vida já é difícil sem afetos. E ouvir o som dos passos no corredor pode ser um conforto inacreditável, o corpo ao lado na cama uma âncora para a alma aflita. O entendimento recíproco é um oásis no isolamento desta nossa vida pressionada por tempo, dinheiro, regras, mil solicitações de família, trabalho, grupo social, realidade do mundo.
Amor é presença e companhia, pois solidão é um campo demasiado vasto para ser atravessado a sós.

Mas agora me dêem licença, que eu já vou indo encontrar a minha amada. Temos um encontro.

- Espera um pouco. Só mais uma pergunta, como foi possível isso tudo acontecer contigo?
- Não sei. Só sei que foi assim...


***

14 comentários:

  1. Amei Má...

    Vou inclusive repassar rsrs, posso?

    Sebastiana Correia

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  2. gostei muito... mas quem é ela? srrsrs

    muito bom...

    bjss

    Kelly L. Moitinho.

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  3. Marcelo

    Ter um amigo tão genial e talentoso como você, não tem preço,cheguei ao trabalho como todos os dias e li um belo texto sobre o "amor" viajei, refleti, me senti aquela mulher por alguns instantes, mágico não é??? escreveu com a alma..com sua alma perfumada....!!

    grande beijo Margareth

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  4. Má,

    Até tentei acessar o seu blog mas não consegui por aqui...talvez seja bloqueado enfim...mas amei este texto, me identifiquei bastante com ele....

    Nivea Rodrigues Hidalgo

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  5. Má, adorei!!!



    Bjos,



    Cristiane Reis

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  6. fica dificil comentar pq estou vendo como vc é talentoso pra mim é um prazer muito grande de ter te conhecidoe saber o quanto vc é especial amei o texto desejo muito que vc escreva mais textos como este falando sobre amor que é uma coisa que tras felicidades e ao mesmo tempo dor saiba que continuarei lendo esses textos grandiosos que vc escreve

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  7. Belissimo texto Marcelo!!!mais um destaque entre outros tao lindos q se encontram em seu blog!
    Dizem que basta ter sentido uma vez para saber escrever e interpretar um poema q fala sobre o "amor"...
    Parabens! vc ja consegue tocar as pessoas com sua arte!!!essa é a funcao de um escritor!
    bj

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  8. a proposito...a nova foto ficou otima!!! o fotografo foi excelente!!!rs

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  9. Marcelo, só agora consegui ler o conto.
    Realmente o texto está ótimo.
    Ah o amor...o que falar dele não é mesmo?
    E como a música do Oswaldo Montenegro "Quando a gente ama simplesmente ama..."
    Parabéns, gostei muito.

    Super beijo.

    Fabi.

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  10. Leve, franco, gentil, alegrou-me a alma, me trouxe um sorriso.Parabens. Eu tambem so sei que foi assim...

    cheiros de melancia madurinha.
    Iris Diana

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  11. olá marcelo nossa fiquei toda arrepiada ao ler...amei de verdade muito talentoso vc!!!eu simplismente acredito no amor verdadeiro...sucesso para vc!!! já sou sua fã n 1..rsrrsr..rsrrsrs...e sua amada gostou? amei só sei q foi assim!!!! lúh beijinhos

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  12. Marcelo,

    Lindissimo texto, parabéns!!!

    Thais

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  13. nossa o seu texto é super bom...com ótimas expressões que nos tocam no profundo ,pois de alguma forma conta a história de vd daqueles que buscam incessantemente amar em plena liberdade e só encontram uma prisão eterna de desamor!!!

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  14. Eu não sei, não sei dizer
    Mas de repente essa alegria em mim
    Alegria de viver
    Que alegria de viver
    E de ver tanta luz, tanto azul!
    Quem jamais poderia supor
    Que de um mundo que era tão triste e sem cor
    Brotaria essa flor inocente
    Chegaria esse amor de repente
    E o que era somente um vazio sem fim
    Se encheria de cores assim....

    ( Vinícius de Moraes)

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