segunda-feira, 5 de abril de 2010

CADERNOS ESPIRITUAIS: PARA SE TER UMA FÉ COMO ESTA



“O SACRIFÍCIO DE ISAAC(c. 1601)", de Caravaggio (1571-1610)

Leitura sugerida a priori (Lucas 7.1-10).

O que é a fé?
Acredito que a melhor resposta é o que a própria Palavra definiu por: fé.

“Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem.”
(Hb 11.1)

Também penso que a melhor forma de interpretarmos a Palavra é usarmos a própria Palavra, isso pouparia muitos erros exegéticos e distorções.

Então fé é um elo que nós une a Deus, pois sem fé é impossível agradar a Deus (Hb 11.6).
Fé é uma certeza sem provas que Deus existe. Fé é uma estrada que eu vou caminhar, sem saber onde irei parar.

Notem que no versículo 9, do capítulo supra citado, Jesus elogia a fé do centurião romano. Ou seja, para Jesus afirmar e elogiar este homem, ele tem que ter um calibre fenomenal. E, diga-se de passagem, só duas vezes (em situações antagônicas) na bíblia, diz que Cristo “se admirou” ou “se maravilhou”, isto aparece aqui em Lucas, diante da fé manifestada por esse estrangeiro e em (Marcos 6.6) diante da descrença da cidade de Nazaré.

Logo, o que devemos fazer para se ter uma “fé como esta”, do centurião romano?

1 – Nossas intenções devem ser para além do nosso “EU”

“E o servo de um centurião, a quem este muito estimava, estava doente, quase à morte. Tendo ouvido falar a respeito de Jesus, enviou-lhe alguns anciãos dos judeus, pedindo-lhe que viesse curar o seu servo.” (Lc 7.2-3)

Vejam que o centurião romano se importou com seu servo, conforme os versículos citados acima. Ou seja, ao invés dele se preocupar consigo mesmo, com suas coisas, ele se preocupou com seu servo. Para se ter uma fé como esta, é preciso abrir mão dos nossos próprios interesses, preocuparmos com os outros, que é a síntese do cristianismo, e assim ordenou Jesus, como um dos maiores mandamentos de Deus, vejamos:

“Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” (Lc 10.27)

Para se ter uma fé como esta, é necessário vivermos uma vida sem sermos egoístas, mesquinhos, que não levemos a vida só nos preocupando-nos com nossos umbigos, enquanto outras pessoas que estejam a nossa volta necessitando de ajuda, tenhamos uma atitude de passar a largo delas. E nem sequer ligarmos para seus dramas e sofrimentos. É preciso que esse mesmo sentimento, que habitou no coração do centurião, esteja no nosso. Sentimento esse por sinal: nobre.

2 – Nunca pense que suas boas ações, são prerrogativas suficientes para obtenção de benções de Deus

Leiamos atentamente o recado do centurião romano para Jesus, quando Esse estava prestes a chegar em sua casa:

“Então, Jesus foi com eles. E, já perto da casa, o centurião enviou-lhes amigos para lhe dizer: Senhor, não te incomodes, porque não sou digno de que entres em minha casa.” (Lc 7.6)

Numa época de opressão e vigilância dos romanos, esse centurião destoa desse movimento. Pois os próprios judeus, afirmam que ele era digno de receber o milagre, pois era amigo deles, e ele mesmo construiu uma sinagoga para seus cultos (vide Lc 7.4-5). Contudo, quando esse centurião se depara com a chegada iminente de Cristo, sua fala não é:

- Bom Jesus, como sou um homem bom, coração puro e minhas boas ações testificam isso, cure o meu servo enfermo.

Pelo contrário, sua fala é de um homem humilde diante de Deus, pois ele mesmo disse: “Senhor, não te incomodes, porque não sou digno de que entres em minha casa. Por isso, eu mesmo não me julguei digno de ir ter contigo.” (Confira Lc 7.6-7a).

A Palavra também nos ensina que a soberba, precede a queda. E pensando nisso, creio que uma passagem da Escrituras, seja esclarecedora sobre o que tenho discorrido aqui, então vejamos:

“Propôs também está parábola a alguns que confiavam em si mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros: Dois homens subiram ao templo com o propósito de orar: um fariseu, e o outro, publicano. O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho. O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador! Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado.” (Lc 18. 9-14)

Então, não devemos nunca colocar os carros na dos bois. Ainda mais, quando temos esse alerta em Isaías:


“Mas todas nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo de imundícia.”
(Is 64.8a)


3 – Seja sincero com você mesmo

Vejamos essas passagens:

“Senhor, não te incomodes, porque não sou digno de que entres em minha casa.” (Lc 7.6b)
“Por isso, eu mesmo não me julguei digno de it ter contigo.” (Lc 7.7a)

Adoro uma frase de Nietzsche, que diz assim:

“A principal mentira, é que a contamos a nós mesmos.”

Já essa em Dom Casmurro de Machado de Assis, temos esse alerta:

“Quantas intenções viciosas há assim que embarcam, a meio caminho, numa frase inocente e pura! Chega a fazer suspeitar que a mentira é uma vez tão involuntária como a transpiração.”

É por essa ponta inocente do engano interpessoal que nos aproximamos da passagem que leva ao auto-engano. Mentimos, enganamos e dissimulamos. Criamos mecanismos que nos escondem de nós mesmos, do próximo e de Deus.
Fernando Pessoa olhou para sua própria vida e não se reconheceu no que foi; escondera-se por detrás de máscaras e, corajoso, desabafou:

“Vivi, estudei, amei, e até cri,
E hoje, não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu...
Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.”


A experiência do poeta dramatizava e leva ao extremo uma possibilidade que é comum a todos: será minha essa vida? Pessoa, de tanto dissimular, de tanto usar máscaras, já não se encontrava. Laconicamente concluiu que não era quem sempre tentou ser, e agora não possuía mais forças para tentar ser outra pessoa. A máscara estava pegada à cara.

Queridos, que tenhamos a mesma coragem desse centurião romano, e não usemos máscaras diante de Deus e da vida.
Para se ter uma fé como esta, é necessário não sermos mascarados. É preciso, que sejamos nós mesmos diante de Deus, pois não adianta pintarmos uma pessoa, que não somos, pois Deus sabe o que acontece, e como somos no nosso íntimo, querem ver?

“Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá? Eu, o Senhor, esquadrinho o coração, eu provo os pensamentos; e isto para dar a cada um segundo o seu proceder, segundo o fruto das suas ações.” (Jeremias 17. 9-10).

Enquanto o povo da cidade o aplaudia, o reverenciava, ele foi verdadeiro consigo mesmo e disse os versículos acima. Noutras palavras, acima de tudo, seja verdadeiro com você mesmo!

Mas vamos em frente, nós teremos uma fé como esta do centurião romano:

4 – Quando não necessitarmos de amuletos

O centurião nos ensina, isso quando diz:

“porém manda com uma palavra, e o meu rapaz será curado.” (Lc 7.7b)

Ou seja, ele creu somente na palavra de Jesus, e dispensou utensílios. Algumas pessoas pensam que ter fé, e andar com um pé de coelho no bolso, ou fazer figa, quando pensa em algo que precisam, ou andam com galhos de arruda na orelha. Isto não é fé. Muito me entristece quando vejo canais de televisões, promovendo toalhas “santas”, óleos “ungidos” e todo tipo de parafernália evangélica, que dizem dar um up grade em sua fé. Quando vejo isso, é impossível não ter asco. Que pena, que nosso cristianismo chegou a esse ponto, em alguns lugares. Fico a imaginar a sensação que Martinho Lutero, teria hoje ao ver isso. Lastimável.

Fé é crermos única e tão somente na Palavra de Deus, pois está escrito em Romanos 10.17:

“E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Crito.”

A postura do centurião é encantadora, pois ele disse, que somente uma palavra de Jesus era o suficiente, e o seu servo seria curado. Não precisava de mais nada. Só a Palavra.

E uma reflexão que fica para nós é: onde estamos colocando a nossa fé?


“Uns confiam em carros, outros, em cavalos; nós porém, nos gloriamos em o nome do Senhor, nosso Deus
.” (Salmo 20.7)

5 – Você deve confiar não apenas no poder de Deus, mas também no seu caráter santo

O centurião romano creu no caráter de Jesus, e creu que Cristo iria lhe ajudar, hoje porém:

• Tem pessoas que tem fé no poder sobrenatural, mas não confiam no caráter de Deus;
• Tem pessoas que acreditam na bíblia e no que ela diz a respeito de Deus, mas não confiam em seu caráter;
• Uns crêem no agir e poder de Deus, mas não confiam em seu caráter.

Já a postura do centurião é: “Jesus, nem precisa o Senhor ir lá em casa curar meu servo, eu creio em sua palavra e em seu caráter, manda só uma palavra e o meu servo será curado.”

Em nossa constituição existem cláusulas pétreas, que não podem ser mudadas por nenhum presidente. Acredito que na Palavra também existe uma cláusula pétrea, sobre o caráter de Deus e acerca do que ele deseja para nós. Eis o que nos ensina Jeremias:


“Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz e não de mal.”
(Jr 29.1 a)

O caráter de Deus é nos dar paz, refrigério para nossas almas. Portanto, não foi à toa que seu Filho disse:


“Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.”
(Mateus 11.28-30).

Pense nisso.

E como dizia a máxima da reforma protestante: “Sola fide. Sola scriptura. Soli Deo Gloria.”



Tradução: “Somente por fé. Somente a Escritura. Só a Deus a glória.”

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