quinta-feira, 7 de abril de 2011

CRÔNICAS AVULSAS: REPARO, LOGO EXISTO



Foto feita no Camboja, Phnom Penh, criança, março de 2009.
Retirado do site: http://jr-art.net


O Livro dos Conselhos, diz: “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.” Tudo é muito sutil nessa frase, caso não prestemos atenção, perdemos sua riqueza, pois, existe um hiato gigantesco entre simplesmente ver e reparar. Isso soa estranho para nós hoje, tão acostumados à rapidez da era digital e do próprio cotidiano dinâmico da vida que levamos no presente século XXI. Tudo muito veloz, sem tempo a perder, essa é nossa lógica e modus operandi. Infelizmente.

Ontem quando voltava para casa, num semáforo, lá estava o mesmo adolescente de sempre. Um verdadeiro malabarista, não do Cirque du Soleil, mas da vida. Como ele fica muito perto de casa, já o presencio de longa data. Todos os dias, ele começa seu expediente na parte da tarde, onde o tráfego de carros se intensifica mais e vai até tarde da noite. Em qualquer tempo: calor, frio, chuva ou garoa. Aliás, não tem tempo ruim para pessoas desse quilate, cuja própria existência e subsistência é um ato contínuo de urgência; pois sobreviver é preciso, já viver é um luxo para poucos. Assim é Brasil que vivemos!

Acho cômico o refrão final do nosso hino nacional, que diz:


“TERRA ADORADA
ENRE OUTRAS MIL
ÉS TU, BRASIL
Ó PÁTRIA AMADA!
DOS FILHOS DESTE SOLO ÉS MÃE GENTIL,
PÁTRIA AMADA,
BRASIL!"


Dos filhos deste solo és mãe gentil?

Será mesmo? Quem em sã consciência crítica acredita nisso? Basta repararmos ao nosso redor e para nossa própria realidade, e constataremos que isso é uma ilusão, engodo e falácia. Se repararmos ainda um pouco mais, para fora das nossas cercas, sim, para os diversos “brasis” da nossa adorada pátria, que estão no interior do nosso nordeste e centro-oeste, que, aliás, pouco nós conhecemos aqui do sudeste, será que confiaremos ainda nesse refrão? Melhor, alguém ainda acredita nisso?

Acho que deveríamos ter a música da Edith Piaf, como nosso hino: “Non, Je Ne Regrette Rien – Não, eu não me arrependo de nada”, ela é bem melhor e mais ajustada a nossa realidade tupiniquim.

Quando me deitei na cama, tarde da noite, após, tudo que havia reparado no semáforo, agradeci aos céus, por passar minha existência aqui não simplesmente – vendo, mas, reparando em tudo...

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