quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

CRÔNICAS AVULSAS: UM MILHÃO DE AMIGOS



Extraído do site: http://jr-art.net em 07-12-11, INSIDE OUT Project in Naplouse, Palestine.



Causei certo estranhamento numa conhecida minha, quando disse a mesma que não tinha Facebook, Orkut, MySpace, Twitter, LinkedIn... Na ocasião disse que vivia muito bem sem eles, o que ela obviamente encarou como uma aberração da natureza – esse fato.

Embora não seja fã do Roberto Carlos, tenho que me render para sua música “Eu quero apenas”, cujo famoso verso: “Eu quero ter um milhão de amigos” faz eco em nossa geração Y.

Fato líquido e certo é que as famosas redes sociais brincam com a promessa que estava contida na música do Rei apenas como metáfora. Penso que a canção põe em jogo a questão insaciável do ser humano, que é: desejo descontrolado – que, aliás, nunca poderá ser suprido. Se a música enuncia que “eu quero ter um milhão de amigos”, ela antecipa na ala do desejo o que nas redes sociais é seu cumprimento fetichista. E o que é o fetichismo senão a realização falsa de uma fantasia por meio de sua encenação sem que esteja a fazer ficção?

Seria impossível a qualquer ser humano finito (como todos nós somos) termos um milhão de amigos, como poderíamos ter “um milhão” de contatos reais? A impossibilidade desse desejo é até mesmo física.

A amizade é a básica e absoluta forma da relação ética, aprendida como função fraterna no laboratório familiar e na escola; ela é uma qualidade de relação. Tratá-la como quantidade é a autodenúncia de seu fetiche e de sua transformação em mercadoria.

Amigos transformados em números não são amigos em lugar nenhum, nem na metáfora de Roberto Carlos, que serve aqui para denunciar criticamente o mundo no qual somos responsáveis junto com Mark Zuckerberg.

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