sábado, 17 de março de 2012

PARA O CONCURSO DO CATRACA LIVRE: CHICO BUARQUE, CÁLICE









Gosto muito de uma frase do pensador Cornelius Castoriades: “Honrar um pensador não é elogiá-lo, nem mesmo interpretá-lo, mas discutir sua obra, mantendo-o, dessa forma, vivo, e demonstrando, em ato, que ele desafia o tempo e mantém sua relevância.”

Chico Buarque é um desses sujeitos ímpares...

Desafia nosso tempo e é extremamente relevante. Sua música Cálice é sensacional, e dentre tantas músicas excepcionais do seu novo CD “Chico” que nos tiram do marasmo da mesmice dos refrões pobres que ecoam pelas rádios, é a meu ver sua melhor música.

Essa música é parte dele mesmo, pois nasceu no fogo cruzado da ditadura; aliás, o que ele escreve brota dele mesmo e deságua em nossos corações; embora como disse Fernando Pessoa, que o poeta é um fingidor, pode até ter lá sua razão, mas creio que essa música nasceu da sua alma com pureza e do desejo simples de vermos a vida, sobre outros olhos. Sim, a música é simples como a vida. E ela faz isso mesmo: nos convida a andar pelos caminhos da nossa própria verdade, os caminhos em que mora o essencial do homem e da mulher...

Se as pessoas soubessem ouvir música é certo que os terapeutas teriam menos trabalho e talvez suas terapias se transformassem em concertos musicais!

Octavio Paz, no livro “O arco e a lira” pág. 35, disse: “Palavras e as coisas sangram pela mesma ferida”. As palavras sangram? Sangram coisas? As palavras são sangue? Nietzsche achava que sim: “De tudo o que escreveu eu somente amo aquilo que o homem escreveu com o seu próprio sangue. Escreve com sangue, e experimentarás que sangue é espírito.”

Guimarães Rosa, o Nietzsche brasileiro, diz coisa parecida ao revelar o segredo da sua escritura: “Para se poder ser feiticeiro da palavra, para estudar a alquimia do sangue do coração humano, é preciso provir do sertão.”

Nietzsche e Guimarães Rosa falam sobre uma alquimia parecida em que o sangue é transformado em palavra, poesia e música... Ora, o refrão não nos remete há isso? Vejamos: “Pai, afasta de mim esse cálice / De vinho tinto de sangue”.
Quem lê ou ouve sorve o sangue de quem escreveu e musicou. O ritual de ouvirmos música é como a eucaristia, uma refeição antropofágica.

Gosto da música Cálice, pois creio que o desejo de Chico Buarque quando vamos ouvir ela é que fiquemos com os olhos semelhantes aos seus. Assim, veremos o mundo da forma como ele (Chico) vê – e as músicas tornaram-se então, desnecessárias. Não penso que seja pretensioso olhar o mundo com os olhos do Chico, pois é esse o desejo embutido em tudo o que se chama arte. Cada tela é um convite para que o espectador veja o mundo com os olhos do pintor. A arte busca comunhão, e sua música/poesia é um estado de convite com comunhão intermitente...

Faço coro com o filósofo austríaco Wittgenstein (1889-1951) que disse: “Eu não gostaria que as coisas que escrevo poupassem as outras pessoas de pensar. Ao contrário, se possível, gostaria de estimulá-las a pensar pensamentos que fossem delas mesmas.”

Ora, e a releitura que o músico Criolo fez dessa mesma música Cálice do Chico não é a encarnação perfeita dessa frase?

Sem sombra de variação!

Existem músicas e a música. Parece tudo igual, mas a música, faz toda diferença em nossas vidas. Cálice pra mim é assim – um milagre que recebemos na vida. Aliás, não era isso que o Guimarães Rosa, disse no melhor conto que já li em toda a minha vida: “A terceira margem do rio”, do livro: Primeiras Estórias?

“Quando nada acontece, há um milagre que não estamos vendo.”


Músico e Poeta Chico Buarque, sua música é um milagre que todos nós estamos ouvindo, obrigado por rasgar seu coração e compartilhar ela conosco...

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1 comentários:

  1. ai, eu tinha lido o seu texto!!!!!!!!!!!! ficou ótEmo!!!!!!!! td q vc escreve é um show de cultura, mor... acho q eles devem ter se assustado com o tamanho...

    não se preocupe... vc sempre vai ser vencedor no meu coração e o prêmio serão um monte de beijinhos, q vc já retirou...rs

    Suzy Gonçalves Lugo

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