O PENSADOR (1902-1904) DE AUGUSTE RODIN
Em meados do mês de setembro ocorre a colheita da uva na ilha, que culmina com a famosa Festa do Vinho da Madeira e os amigos Manoel e Joaquim (ambos enólogos) sempre comemoravam essa data festiva no Quinta dos Doutos. Só que ao invés de festejarem, estavam pesarosos esse ano:
- Viste a desgraça que nossos vizinhos do Brasil estão querendo implantar no seu mercado de vinhos Joaquim?
- Não! Do que se trata? Disse Joaquim franzindo as sobrancelhas.
- Ibravin (Instituto Brasileiro do Vinho), Uvibra (União Brasileira de Viticultura) e outras entidades das terras gaúchas ligadas ao vinho, que são verdadeiros coronéis, querem implantar a Salvaguarda.
- Ora, pois! E que raios é isso Manoel de Salvaguarda?
- É uma lei que supostamente tende a proteger a produção nacional de vinhos deles. Eles protocolaram no (MDICE) Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior um pedido de revisão das regras de importação de vinhos para o Brasil, onde se estabelece cotas mínimas de importação por país, com exceção da Argentina e do Uruguai; pois estão no MERCOSUL.
- Logo, então entendo, que quando se acaba essa cota, o mercado fica sem abastecimento? Falou Joaquim.
- Perfeitamente! E como se não bastasse isso, querem aumentar as taxas dos vinhos importados; que antes era de 27% para 55%. Ou seja, querem praticamente banir os vinhos importados do Brasil.
- Que tragédia sombria! Há algo de podre nisso no Brasil, não acha Manoel?
- Sem a menor sombra dúvida! Para finalizar com chave de ouro, o mote publicitário feito pela Ibravin sobre o pedido de Salvaguarda é esse: “Brasil ame-o ou deixe-o. Diga sim aos vinhos do Brasil”.
- Mais isso era o mesmo mote usado pela ditadura militar, nos anos de chumbo do Brasil Manoel.
- Pois é Joaquim, qualquer semelhança não é mera coincidência; veja o nível das coisas e aonde isso foi parar. A política desses entendidos do vinho é tacanha; e seu jogo bruto não comporta ilusões nem iludidos. Não costuma produzir virtude, como o abrolho não produz morangos.
- E pensar Manoel, que nós portugueses ainda somos os alvos prediletos de piadas sobre nossa falta de inteligência no Brasil...
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PS. Até a conclusão desse conto o MDICE ainda não tinha se manifestado sobre o pedido de Salvaguarda.
Ótima crônica, amor! O Brasil nunca vai mudar...
ResponderExcluirBeijos!