sábado, 4 de agosto de 2012

CONTOS diVINO: QUINTA DOS DOUTOS


O PENSADOR (1902-1904) DE AUGUSTE RODIN


“A sabedoria possui seus limites, já a ignorância é infinita”. Essa é a famigerada frase que estampa o restaurante Quinta dos Doutos, localizado no jardim flutuante de Portugal, mais conhecido como: Ilha da Madeira. Por ser um fragmento vulcânico bem ao largo da costa da África com clima subtropical aquecido pela corrente do Golfo, e por seu “eterno verão” é o destino predileto dos turistas europeus, que fogem do rigoroso inverno europeu. Uma ilha lendária, formada por encostas íngremes, lindas aves-do-paraíso e vegetação exuberante, sendo que 70% dela é um parque nacional. No pico Ruivo, de 1800m – a montanha mais alta da Ilha da Madeira, se pode avistar toda sua beleza. Não é a toa que esse foi o refúgio predileto de Sr. Winston Churchil e Bernard Shaw; que inclusive foram fregueses assíduos do restaurante Quinta dos Doutos, que é considerado o melhor da ilha; com uma gastronomia de alto padrão e requinte.

Em meados do mês de setembro ocorre a colheita da uva na ilha, que culmina com a famosa Festa do Vinho da Madeira e os amigos Manoel e Joaquim (ambos enólogos) sempre comemoravam essa data festiva no Quinta dos Doutos. Só que ao invés de festejarem, estavam pesarosos esse ano:

- Viste a desgraça que nossos vizinhos do Brasil estão querendo implantar no seu mercado de vinhos Joaquim?

- Não! Do que se trata? Disse Joaquim franzindo as sobrancelhas.

- Ibravin (Instituto Brasileiro do Vinho), Uvibra (União Brasileira de Viticultura) e outras entidades das terras gaúchas ligadas ao vinho, que são verdadeiros coronéis, querem implantar a Salvaguarda.

- Ora, pois! E que raios é isso Manoel de Salvaguarda?

- É uma lei que supostamente tende a proteger a produção nacional de vinhos deles. Eles protocolaram no (MDICE) Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior um pedido de revisão das regras de importação de vinhos para o Brasil, onde se estabelece cotas mínimas de importação por país, com exceção da Argentina e do Uruguai; pois estão no MERCOSUL.

- Logo, então entendo, que quando se acaba essa cota, o mercado fica sem abastecimento? Falou Joaquim.

- Perfeitamente! E como se não bastasse isso, querem aumentar as taxas dos vinhos importados; que antes era de 27% para 55%. Ou seja, querem praticamente banir os vinhos importados do Brasil.

- Que tragédia sombria! Há algo de podre nisso no Brasil, não acha Manoel?

- Sem a menor sombra dúvida! Para finalizar com chave de ouro, o mote publicitário feito pela Ibravin sobre o pedido de Salvaguarda é esse: “Brasil ame-o ou deixe-o. Diga sim aos vinhos do Brasil”.

- Mais isso era o mesmo mote usado pela ditadura militar, nos anos de chumbo do Brasil Manoel.

- Pois é Joaquim, qualquer semelhança não é mera coincidência; veja o nível das coisas e aonde isso foi parar. A política desses entendidos do vinho é tacanha; e seu jogo bruto não comporta ilusões nem iludidos. Não costuma produzir virtude, como o abrolho não produz morangos.

- E pensar Manoel, que nós portugueses ainda somos os alvos prediletos de piadas sobre nossa falta de inteligência no Brasil...


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PS. Até a conclusão desse conto o MDICE ainda não tinha se manifestado sobre o pedido de Salvaguarda.

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