sábado, 22 de setembro de 2012

CRÔNICAS AVULSAS: FRAGMENTOS DA VIDA ALHEIA


OLD MAN WITH HIS HEAD IN HIS HANDS (1890), DE VAN GOGH

Dia desses caminhando de noite, após mais um dia de trabalho, reencontrei o pai de um amigo meu de infância (que já não mora mais em São Paulo). Fazia anos que não o via, e até cogitei que tivesse se mudado da Selva de Pedras. Ledo engano.

Já se passara muitos anos, desde, daquele fatídico dia, que enquanto brincávamos de taco na rua, eu vi o pai desse meu amigo retornando do seu trabalho. Sua cara fechada com ar de poucos amigos, rugas espalhadas por todo rosto e sua expressão de cansado e derrotado, eram notórias. Na doce curiosidade infantil, perguntei ao meu amigo:

- Nossa! O que seu pai faz, para chegar assim em casa?

- Ele trabalha Marcelo. Só isso.

Fui para casa pensando em qual seria o tipo de trabalho desse pai do meu amigo, para que lhe causasse tamanha desfiguração na sua vida; pois era líquido e certo, que ele fazia algo que não gostava nem um pouco, portanto, desperdiçava o melhor de sua vida no seu trabalho e o que lhe restava de alegria, foi esvaindo-se pelos anos trabalhados, até chegar nesse ponto.

E novamente quando topei com o pai desse meu amigo, vi que agora além das mesmas expressões faciais, foi lhe acrescido muitos cabelos brancos. E em nada mudara aquele homem da minha infância, para esse de agora do reencontro.

Fiquei assustado ao lhe ver ainda assim, pois, imaginei que ele poderia ter mudado que estaria melhor, mas nada disso se materializou. Segui com minha caminhada refletindo sobre a vida, e realmente me perguntando: se era justa ou não.

Como não cheguei a nenhuma conclusão concreta, apenas refleti sobre toda minha vida e tudo o que fizera até aqui, e do que teria a fazer pela frente. Confesso que uma ponta de alegria e esperança me alcançou, pois, ainda tenho opções e caminhos por escolher. Coisa que talvez o pai do meu amigo já avançado em idade – não tenha.

Voltei para casa, busquei consolo nos eternos amigos que habitam minha biblioteca: meus livros. E deparei com Scott Fitzgerald, dizendo:

“Sem dúvida, a vida é um processo de destruição, mas os golpes que compõem o lado dramático da obra (...) não mostram seu efeito de uma vez só”.

Porém, para algumas pessoas, como no caso do pai do meu amigo, a priori sempre mostraram seus efeitos de uma vez só...

C’est la vie.

***

1 comentários:

  1. Esperava ansiosa pelo novo texto!!!

    Gostei de ler e ver que apesar de se "ver" nesse pai do seu amigo.... Vê tb que tem muito tempo de mudar as coisas!!!
    Como a frase q te disse outro dia "Nada é para sempre, nem mesmo nossos problemas"
    O que falta é calmaaaaaaaaaaaaaaa.... e ir a luta!!! Pois as coisas que veem facil, vão facil.
    Você é capaz de conseguir tudo o que deseja!!!
    Bj
    Leticia Valente

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