Em 02.07.2016 cometi o desatino
de me aventurar a falar numa palestra na minha cidade natal (Socorro-SP) sobre
o monumental João Guimarães Rosa. E como senão bastasse, pois desgraça pouca é
bobeira, irei me debruçar sobre o livro do demo: “Grande Sertão: Veredas”.
Li esse livro quando tinha uns
18 anos de idade. E fiquei mais de 7 meses sem ler mais nada, só com ele na
cachola – destruindo meus poucos neurônios de tanto pensar nele. A linguagem
dele até que não foi o ponto mais espinhoso pra mim, pois como nasci na roça eu
conheço um pouco desse linguajar tão peculiar. Mas suas idéias, simbologias e a
eterna guerra entre Deus e o Diabo, me consumiram.
Isso não é de se estranhar, o
próprio Gabo (Gabriel García Márquez) quando leu pela primeira vez “Metamorfose” de Kafka teve uma epifania
ao melhor estilo de James Joyce, e de tão impactado que ficou – decidiu ali
mesmo, após a leitura se tornar um escritor – para a nossa sorte...
Sempre admirei os pássaros e
tenho uma profunda ligação com eles, assim como o Monty Robertys tem com os
cavalos, e em minha modesta opinião, as memórias são como pássaros em pleno
vôo. Vão para onde querem. E podemos chamá-las que elas não vêm. Só vêm quando
querem. Moram em nós, mas não nos pertencem. Quando tento lembrar sobre esse
livro “Grande Sertão: Veredas” o que
menos vêm à minha mente são memórias boas, creio que fiquei demasiadamente
abalado com ele, era uma leitura profunda demais – para tão pouca idade como a
minha. E olha que tive uma bagagem excepcional até topar com ele.
A literatura de Rosa olha por
baixo da linguagem corrente para encontrar, nos “rios profundos”, as idéias e
os sofrimentos eternos. João Guimarães Rosa gostava de cavalo, de vaca, de
sertão, de sertanejo. E gostava de escrever sobre esse mundo, captando-lhe o
sotaque único e a metafísica peculiar, que, de tão regional acaba sendo
UNIVERSAL. Da mistura desses gostares nasceu “Grande: Sertão Veredas”, obra-prima que faz 60 anos, sem marcas de
envelhecimento.
Seus neologismos tirados da
mistura do arcaico com o moderno, com uma estrutura que estiliza a fala do
sertanejo, com uma narrativa que mescla os gêneros dramáticos, épico e lírico,
Guimarães Rosa é inimitável. Deixou uma obra que marca quem a leu, mas não deixou
herdeiros.
Um conselho – como toda poesia,
a vontade de ler em voz alta é grande; tente com um sotaque levemente
amineirado e um ritmo mais acelerado que o normal, e assim você achará a
prosódia.
É muito difícil? Nonada.
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