domingo, 24 de abril de 2016

CRÔNICAS AVULSAS: GRANDE JOÃO: GUIMARÃES



Em 02.07.2016 cometi o desatino de me aventurar a falar numa palestra na minha cidade natal (Socorro-SP) sobre o monumental João Guimarães Rosa. E como senão bastasse, pois desgraça pouca é bobeira, irei me debruçar sobre o livro do demo: “Grande Sertão: Veredas”.

Li esse livro quando tinha uns 18 anos de idade. E fiquei mais de 7 meses sem ler mais nada, só com ele na cachola – destruindo meus poucos neurônios de tanto pensar nele. A linguagem dele até que não foi o ponto mais espinhoso pra mim, pois como nasci na roça eu conheço um pouco desse linguajar tão peculiar. Mas suas idéias, simbologias e a eterna guerra entre Deus e o Diabo, me consumiram.  

Isso não é de se estranhar, o próprio Gabo (Gabriel García Márquez) quando leu pela primeira vez “Metamorfose” de Kafka teve uma epifania ao melhor estilo de James Joyce, e de tão impactado que ficou – decidiu ali mesmo, após a leitura se tornar um escritor – para a nossa sorte...

Sempre admirei os pássaros e tenho uma profunda ligação com eles, assim como o Monty Robertys tem com os cavalos, e em minha modesta opinião, as memórias são como pássaros em pleno vôo. Vão para onde querem. E podemos chamá-las que elas não vêm. Só vêm quando querem. Moram em nós, mas não nos pertencem. Quando tento lembrar sobre esse livro “Grande Sertão: Veredas” o que menos vêm à minha mente são memórias boas, creio que fiquei demasiadamente abalado com ele, era uma leitura profunda demais – para tão pouca idade como a minha. E olha que tive uma bagagem excepcional até topar com ele.

A literatura de Rosa olha por baixo da linguagem corrente para encontrar, nos “rios profundos”, as idéias e os sofrimentos eternos. João Guimarães Rosa gostava de cavalo, de vaca, de sertão, de sertanejo. E gostava de escrever sobre esse mundo, captando-lhe o sotaque único e a metafísica peculiar, que, de tão regional acaba sendo UNIVERSAL. Da mistura desses gostares nasceu “Grande: Sertão Veredas”, obra-prima que faz 60 anos, sem marcas de envelhecimento.

Seus neologismos tirados da mistura do arcaico com o moderno, com uma estrutura que estiliza a fala do sertanejo, com uma narrativa que mescla os gêneros dramáticos, épico e lírico, Guimarães Rosa é inimitável. Deixou uma obra que marca quem a leu, mas não deixou herdeiros.

Um conselho – como toda poesia, a vontade de ler em voz alta é grande; tente com um sotaque levemente amineirado e um ritmo mais acelerado que o normal, e assim você achará a prosódia.

É muito difícil? Nonada.

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