Machado de Assis é um dos meus escritores prediletos. Um brasileiro genial, que através de sua literatura, marcou época e o futuro que estava por vir. Foi uma pessoa de um passado sofrido, mas nem por isso desistiu da vida, muito pelo contrário foi triunfante e sempre lutou. Foi cronista, contista, dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista, crítico e ensaísta. É considerado o maior escritor do país e um mestre da língua portuguesa. Autor de obras épicas, como Dom Casmurro, Quincas Borba e o monumental Memórias Póstumas de Brás Cubas. É deste último romance, quando Machado de Assis o encerra, que pincei a frase escrita em 1881 supra citada, para compartilhar neste nosso refletir.
Embora o personagem Brás Cubas, esteja em estado de desesperança, ao pronunciar tais palavras. A frase serve-nos de trampolim, para esta nossa reflexão. E partindo da mesma; incomoda-me justamente aqueles (Pai e Mãe) que ao contrário de Brás Cubas, têm filhos e que não estão transmitindo nenhum valor a estes. Ou seja, futuros adultos crescem sem ter algo agregado de valor, postura, ética, cidadania, humanidade incutido em seus corações no seu desenvolvimento tenro. Pois estes (que não são poucos) “Pai” e “Mãe” justamente, deixam o que lhes compete fazer, para que a televisão o faça, e ocorre uma inversão de papéis/valores. Pois é um ledo engano quem pensa que ela (TV) irá fazer. E torna-se mais fácil uma criança desaprender algo com a televisão que seus pais tenham lhe ensinado, do que aprender algo de valor com a mesma. E um futuro desolador surge em nossa sociedade e nas famílias.
O escritor/pastor Ricardo Gondim, embasado em Barry Sanders, cita um dado interessante:
“Existe um cenário horrível: nos Estados Unidos, o número de alunos que não conseguem ler dobrou de 70% na última década. O livro vem sendo substituído pelo CD-ROM, pela televisão e pelo computador. As crianças assistem à televisão cerca de cinco horas diárias, sete dias por semana. No mundo ocidental, uma criança normal terá gastado, dos 6 aos 18 anos de idade, mais ou menos 16 mil horas assistindo a programas de televisão e outras 4 mil horas ouvindo rádio ou vendo filmes. Terão gastado mais tempo em contato em contato com a mídia do que na sala de aula ou com seus pais.
No pico do desenvolvimento cognitivo e lingüístico, uma criança ocidental assiste à televisão pelo menos 28 horas por semana. Ao atingir 5 anos de idade, terá assistido a 6 mil horas de programação. Quando terminar seus estudos primários, essa criança terá testemunhado mais de 8 mil assassinatos em sua tela – alguns na ficção e outros em reportagens. Será isso produtivo para ela? E para nós adultos também que gastamos bastante tempo em frente uma tela de televisão é produtivo?”
E no mesmo instante me veio a mente o encontro de Lygia Fagundes Telles, com Jorge Luis Borges, em 1970 na cidade de São Paulo, que aliás como o próprio disse: “O que existe são os paraísos perdidos”. É a eles que temos de nos agarrar; mostrar que estão perdidos, mas que foram paraísos. Lygia relata assim esse encontro: “Eu conhecia o Borges de antes, mas o encontro foi num jantar. Já cego e velhusco, estava tão cercado que eu não seria capaz de chegar perto. Quando ia embora, vi-o sentado numa cadeira, sozinho com sua bengala. Todos ao redor tinham desaparecido milagrosamente. Chamei: “Borges”. Sempre tive esta voz rouca, mesmo quando jovem. Ele reconheceu: “Lygia”. Estava com a mão apoiada na bengala e eu botei a minha em cima. “Queria me despedir e que me dissesse uma coisa. Detesto a palavra ‘mensagem’, que perdeu o sentido mais profundo e só se usa comercialmente, mas peço que me diga algo, uma mensagem”. Ele disse: “Tenho um amigo que morreu quando deixou de sonhar”, e mencionou o nome no exato instante que alguém quebrou um copo ali perto, de modo que não ouvi. Fiquei com vergonha de perguntar, me despedi e saí. Uma jovem no palácio dava uma rosa para cada convidado. Peguei a rosa, botei na lapela e pensei: a rosa profunda. Anos mais tarde é que descobri que era Horacio Quiroga. Na hora que deixou de sonhar, matou-se. Na hora que eu perder essa força do sonho, vai vir à tona: o que estou fazendo aqui? Os paraísos perdidos, os sonhos perdidos. Aí é melhor ir embora, rapidamente. Tem aquele livro A negação da morte. O que é a negação da morte? A arte. Pintar, escrever, fazer música. A única coisa que nega a morte e consegue flutuar no mar do mundo, como um barco, é a arte.”
E neste cenário em que vivemos, de fato não é estranho ouvirmos de muitos pais e mães a seguinte alegação: “Não sei mais o que fazer com meu filho (a)”. Ou frases do tipo fatalistas: “Não tenho tempo, a rotina do dia-a-dia me consome”. Essa última em especial, tenho a dizer que mais importante que a quantidade de tempo que venhamos a ter, é a qualidade que realmente importa. De nada adiante termos o dia todo, e nada passarmos de construtivo, produtivo e de valores. Logo, a qualidade do tempo, e o que fazemos com nossos filhos ou filhas é o que deveras importará. E isso ficará marcado para sempre em suas vidas...
Como disse Lya Luft: “Fruto de enganos ou de amor, nasço de minha própria contradição. O contorno da boca, a forma da mão, o jeito de andar (sonhos e temores incluídos) virão desses que me formaram. Terei meu par de asas cujo vôo se levanta desses que me dão a sombra onde eu cresço – como, debaixo da árvore, um caule e sua flor”.
Quais valores iremos passar aos nossos filhos? Provérbios 22.6, aponta um norte, que diz: “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele”. Mas por favor, não deixe isso para que a TV o faça. E se deixar, quer saber o resultado? Nem ouso dizer...
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