segunda-feira, 22 de junho de 2009
DIRETO DO PAÍS DA PIADA PRONTA
Busco na memória, um dos fatores que me fizeram ter um outro amor na vida, além, dos livros claro, ou seja, as grandes obras de arte do mundo (os leitores, que acompanham meu blog, já devem ter percebido isso). Confesso que tudo começou na escola, numa aula de educação artística. Certo dia a professora Tânia Quencas Záfon (espanhola) nos apresentou em sala, replicas das obras do inigualável Picasso. E o amor, com que ela explicava cada obra e os múltiplos detalhes (que só uma alma sensível, consegue ver) me cativaram profundamente. Daquele dia em diante, passei sempre a sentar na primeira fileira das carteiras, e de um relapso aluno, me transformei num ouvinte assíduo das suas aulas mágicas.
Das obras, que ela nos apresentou naquele dia, uma em especial me chamou demais a atenção, e é justamente a que posto aqui no blog, e que se encontra supracitado no texto.
Chama-se Guernica (1937) óleo sobre tela – 349,3 cm x 776, 6 cm, e atualmente se encontra no Museu Nacional Centro de Arte Rainha Sofia – Madri (Espanha). Mas, antes de falar sobre ela, é bom citar o autor, pois foi peremptório:
“Gritos das crianças, gritos das mulheres, gritos dos pássaros, gritos das flores, gritos das camas, gritos das árvores e pedras, gritos dos tijolos, dos móveis, dos carros, das cadeiras, dos cortinados, das panelas, dos gatos e do papel, gritos dos cheiros, que se propagam um após o outro, gritos do fumo, que pica nos ombros, gritos que cozem na grande caldeira, e da chuva de pássaros que inundam o ar.”
Esse poema, criado pelo artista, descreve os horrores vistos no quadro. A cidade de Guernica (na Espanha) ficou em chamas após sucessivos ataques a bombas e metralhadoras. Durante a Guerra Civil Espanhola, no dia 26 de abril de 1937, aviões alemães a serviço do general Francisco Franco acabaram com a cidade, que era capital das forças contrárias ao nefasto ditador. No mês seguinte, o ataque que matou mais de 1,5 mil pessoas foi imortalizado no quadro Guernica, obra-prima de Pablo Picasso. Seu pincel não se calou diante do ocorrido. Na tela, Picasso deposita toda sua consternação. A obra, ainda atual, está presente na memória artística da humanidade. Exilada por mais de quarenta anos em Nova York, a tela só voltou à Espanha em 1891, quando foi recebido pelo Museu Nacional do Prado em Madri onde permaneceu por muitos anos antes mesmo de seguir ao Museu Nacional Centro da Arte Rainha Sofia. Embora o pintor tenha ressaltado o caráter realístico da cena, não se pode duvidar de que se trata, também, de um convite ao Surrealismo. Ou, como Picasso preferiria, uma viagem pelo realismo com toques de metáfora.
Outro fator, preponderante para a criação de Guernica e suas demais obras, foi como disse o próprio Picasso: “Descobri a fotografia, posso me matar, não preciso aprender mais nada.” E, ele justamente chegou a tirar 36 fotos, que serviram como ponto de partida para a criação desse quadro.
Aliás, a fotografia foi exímia colaboradora do artista no próprio trato com a pintura, uma coadjuvante que deu dimensão múltipla a suas telas. Por outro lado, a técnica fotográfica serviu para documentar algumas características da evolução do pensamento criativo do pintor.
Posto isto, creio que o leitor atento, deve estar se perguntando o que Picasso, tem a ver com o título dessa postagem: “DIRETO DO PAÍS DA PIADA PRONTA”, que é sempre usada pelo Macaco Simão da Folha de São Paulo, aos domingos na coluna do caderno: Ilustrada, geralmente na página E11?
Simples!
Embora a guerra do quadro Guernica, retrata uma hecatombe, pelos motivos mais torpes possíveis, creio que nós brasileiros, devemos travar uma guerra também. Mas, essa guerra é com cada um de nós. Pois, o nosso pior inimigo, somos nós mesmos.
E, em tempos de enxurradas de escândalos, dos nossos parlamentares, que vemos aos borbotões nos meios de comunicação, tais como:
1) José Sarney (atualmente presidente do Senado – PMDB-AP), que teve parentes contratados pela Casa. E reagiu como se fosse natural: “Não cometi erro nenhum.”;
2) E o nosso presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que saiu em socorro do aliado: “Sarney tem história no Brasil suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum.”;3) Caso das passagens áreas. Mais da metade dos 513 deputados foram para o exterior usando o benefício para passear com amigos e parentes, e pasmem-se; ninguém foi admoestado nem precisou devolver o dinheiro;
4) O uso escandaloso e acintoso das verbas indenizatórias de forma incorreta;
Paro por aqui, pois a lista seria infinita, desse Brasil corrupção, que a cada dia coloca a sua e a minha esperança à prova.
Sei que não vai dar pra mudar o começo, mas se a gente quiser, podemos mudar o final!
Peço por favor, que tenhas mais um pouco de paciência, e se me acompanhou até aqui, caro amigo leitor, peço que vá até o final, e leia esse texto, que foi atribuído ao escritor baiano João Ubaldo Ribeiro, mas ele já veio a público e afirmou que não é de sua autoria. Que seja de quem for, o importante é que o texto mexe com nossas entranhas, e creio que será impossível que você e eu saíamos incólume a sua leitura:
PRECISA-SE DE MATÉRIA PRIMA PARA CONSTRUIR UM PAÍS
A crença geral anterior era que Collor não servia, bem como Itamar e Fernando Henrique. Agora dizemos que Lula não serve. E o que vier depois de Lula também não servirá para nada. Por isso estou começando a suspeitar que o problema não está no ladrão corrupto que foi Collor, ou na farsa que é o Lula. O problema está em nós. Nós como POVO. Nós como matéria prima de um país. Porque pertenço a um país onde a “esperteza” é a moeda que sempre é valorizada, tanto ou mais do que o dólar. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família, baseada em valores e respeito aos demais. Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nas calçadas onde se paga por um só jornal e se tira um só jornal, deixando os demais onde estão.
Pertenço ao país onde as "empresas privadas" são papelarias particulares de seus empregados desonestos, que levam para casa, como se fosse correto, folhas de papel, lápis, canetas, clipes e tudo o que possa ser útil para o trabalho dos filhos e para eles mesmos. Pertenço a um país onde a gente se sente o máximo porque conseguiu "puxar" a tevê a cabo do vizinho, onde a gente frauda a declaração de imposto de renda para não pagar ou pagar menos impostos. Pertenço a um país onde a impontualidade é um hábito. Onde os diretores das empresas não valorizam o capital humano. Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos. Onde pessoas fazem "gatos" para roubar luz e água e nos queixamos de como esses serviços estão caros. Onde não existe a cultura pela leitura (exemplo maior nosso atual Presidente, que recentemente falou que é "muito chato ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem econômica. Onde nossos congressistas trabalham dois dias por semana para aprovar projetos e leis que só servem para afundar ao que não tem encher o saco ao que tem pouco e beneficiar só a alguns.
Pertenço a um país onde as carteiras de motorista e os certificados médicos podem ser "comprados", sem fazer nenhum exame. Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no ônibus, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não dar o lugar. Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o pedestre. Um país onde fazemos um monte de coisa errada, mas nos esbaldamos em criticar nossos governantes. Quanto mais analiso os defeitos do Fernando Henrique e do Lula, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem "molhei" a mão de um guarda de trânsito para não ser multado. Quanto mais digo o quanto o Dirceu é culpado, melhor sou eu como brasileiro, apesar de ainda hoje de manhã passei para trás um cliente através de uma fraude, o que me ajudou a pagar algumas dívidas. Não. Não. Não. Já basta.
Como "Matéria Prima" de um país, temos muitas coisas boas, mas nos falta muito para sermos os homens e mulheres que nosso país precisa. Esses defeitos, essa "esperteza brasileira" congênita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até converter-se em casos de escândalo, essa falta de qualidade humana, mais do que Collor, Itamar, Fernando Henrique ou Lula, é que é real e honestamente ruim, porque todos eles são brasileiros como nós, eleitos por nós. Nascidos aqui, não em outra parte. Me entristeço. Porque, ainda que Lula renunciasse hoje mesmo, o próximo presidente que o suceder terá que continuar trabalhando com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada...
Não tenho nenhuma garantia de que alguém o possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá. Nem serviu Collor, nem serviu Itamar, não serviu Fernando Henrique, e nem serve Lula, nem servirá o que vier. Qual é a alternativa? Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror? Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa "outra coisa" não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados, igualmente sacaneados! É muito gostoso ser brasileiro. Mas quando essa brasilinidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, aí a coisa muda... Não esperemos acender uma vela a todos os Santos, a ver se nos mandam um Messias.
Nós temos que mudar um novo governador com os mesmos brasileiros não poderá fazer nada. Está muito claro, somos nós os que temos que mudar. Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda nos acontecendo: desculpamos a mediocridade mediante programas de televisão nefastos e francamente tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez. Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe (sim, exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não se faça de surdo, de desentendido. Sim, decidi procurar o responsável e estou seguro que o encontrarei quando me olhar no espelho. aí está. não preciso procurá-lo em outro lado.
E você, o que pensa? Medite!
***
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olá marcelo adorei!!!vc escreveu tudo, disse tudo, nossa para refletir mesmo... até fiquei emocionada!!! parabéns muito verdadeiro...
ResponderExcluirbeijos de sua amiga lucinete.. depois quero umas aulas thá rrsrsr