sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

CADERNOS ESPIRITUAIS: PRÓLOGO E RECONSTRUINDO DEPOIS DO DESASTRE



O SEMEADOR (1888), DE VAN GOGH

A rotina nos fada a sermos autômatos. Entorpece. Vez por outra, entretanto, desabam sobre o nosso mundo acontecimentos que sacodem e alteram o nosso sentido de prioridades: preocupações habituais murcham, possibilidades relegadas ganham viço. Novos ângulos e desafios se oferecem.

Há algum tempo, tenho sido desafiado pela Beatriz Fernandes (Bia), que ouso dizer e arriscar, que seja a única pessoa que tenha lido esse blog em sua totalidade, e pasmem, mais de uma vez. Seu pedido consistia, para que eu escrevesse reflexões sobre a Palavra de Deus. Confesso, que a tarefa é complexa, pois, não passo de um dedo imperfeito apontando sem precisão para Alguém a quem não podemos tornar presente com esse nosso dedo indicador, mas em quem, não obstante, encontramos permissão para apontar, frágeis, ridículos e receosos.

Adoro a frase de Caleb Colton:

“Quem estuda somente os homens, adquire o corpo do conhecimento sem a alma; e quem estuda somente os livros, a alma sem o corpo. Quem adiciona observação àquilo que vê, e reflexão àquilo que lê, está no caminho certo do conhecimento, contato que ao sondar os corações dos outros, não negligencie o seu próprio.”


Quando me sento para escrever algum texto, seja ele qual for: conto, reflexão, artigo, resenhas de filmes e livros, pego uma faca de mato e começo a abrir o caminho mata adentro, não para fazer uma trilha para os outros, mas para encontrar um caminho para mim mesmo. Alguém me seguirá? Desviei-me do caminho? Nunca consigo responder a essas perguntas quando escrevo, apenas uso o machete. Portanto, não quero que vocês acreditem em tudo o que eu creio, nem que trilhem os mesmos caminhos. Peço apenas que mantenham uma postura receptiva ao ver o mundo através dos meus olhos.

Batizei essas reflexões de: Cadernos Espirituais. Adoro a idéia do caderno, eu mesmo tenho um, onde todas as noites, escrevo, apago, reflito e torno a escrever algo sobre a Palavra, confesso que é um exercício excelente, desafiador e sobremaneira enriquecedor interiormente. Talvez daí tenha tirado esse nome, pois nada mais do que estou fazendo agora é tornar esse meu caderno público. Oxalá, que igualmente como o quadro que usei, possa semear algo de bom em seus corações, através dessas humildes palavras. Se assim o fizer, alcancei meu objetivo e ficarei sobremodo feliz.

Obrigado Bia pelo consistente e constante incentivo e desafio ao mesmo tempo. Espero que todos apreciem...

Sempre tendo em mente que:

Assim diz o Senhor:
“Não se glorie o sábio em sua sabedoria nem o forte em sua força nem o rico em sua riqueza, mas quem se gloriar, glorie-se nisto: em compreender-me e conhecer-me...”.
(Jeremias 9.23,24)




RECONSTRUINDO DEPOIS DO DESASTRE

“e disse ao rei: se é do agrado do rei, e se o teu servo acha mercê em tua presença, peço-te que me envies a Judá, à cidade dos sepulcros de meus pais, para que eu a reedifique.” (Neemias 2.5)

C’est la vie comment ça!

Adoro essa frase em francês, que significa: “A vida como ela é!”, começo por ela, pois é fato líquido e certo, que em nossas vidas, enfrentaremos ou podemos estar enfrentando desastres. Todos, sem exceção passaremos por angústias e vicissitudes. Aliás, viver uma vida com céu de brigadeiro, só cabe mesmo nas novelas da Globo. Pois a realidade da vida é bem outra, deveras diferente disso.

Então a grande questão que surge é: “O que devemos fazer, quando o dia mau chegar? Quando o desastre entrar por nossas portas, sem nos pedir licença? Como devemos nos portar?

Tudo isso ocorreu na vida de Neemias, e a forma como ele lidou com isso, serve para nós como uma trilha, no qual podemos também andar. Mas antes, permita-me lhe dar o contexto em que tudo isso se deu.

Neemias era judeu. Que foi levado cativo, para o império persa, que arrasou sua cidade sem dó nem piedade, a saber Jerusalém. Curiosamente, ele foi escolhido no reinado persa para servir o rei Artaxerxes, como copeiro. Seu irmão Hanani, lhe fez saber sobre os judeus que não foram levados cativos e sobre sua cidade: Jerusalém. Eis o que foi dito:

“Disseram-me: Os restantes, que não foram levados para o exílio e se acham lá na província, estão em grande miséria e desprezo; os muros de Jerusalém estão derribados, e as suas portas, queimadas”. (Neemias 1.3).

Era essa a situação em que se deparou Neemias.

Das inúmeras lições que podemos aprender com ele, escolhi uma. Ou seja, para reconstruirmos depois do desastre é necessário que:

• As circunstâncias ruins, não devem nos paralisar diante da vida;

Notamos isso quando analisamos o primeiro versículo do livro de Neemias, que é quando ele toma conhecimento da real situação do seu povo e cidade, onde é dito que isso se deu no mês de quisleu (que corresponde a novembro ou dezembro).
Já no primeiro versículo do capítulo 2, ele diz que está agora no mês de nisã (equivalente a março ou abril), ou seja, passaram-se aproximadamente 4 meses, onde ele poderia estar em processo de auto-comiseração pelos seus, queixando-se da vida, sua sorte e de Deus. Contudo, ainda que quão dolorido fosse sua dor, e o versículo 2 desse mesmo capítulo diz que ele estava triste diante do rei, ele não desistiu da vida. Pelo contrário, no momento de grande dor, é que ele tira força, após uma oração que fez a Deus, e resolve que iria mudar seu quadro e dos seus patrícios, pedindo ao rei que o deixasse voltar para a cidade de Jerusalém para reconstruí-la.

Em nossos dias já presenciei muitas pessoas que quando sofrem, sentem uma grande dor (seja ela de qualquer ordem) ou frustração, optam por ficarem neutralizadas, estagnadas e deixam o desânimo tomar conta de suas vidas.

Aliás, a palavra desânimo é antônimo de entusiasmo. E entusiasmo significa ter Deus dentro de si. Essa palavra nasceu na Grécia antiga. TUS (Thous) é a sílaba principal, porque significa Deus. A primeira sílaba, EN, significa “dentro de”, no sentido de transportar para dentro. Enthous significa que Deus entrou em alguém e que essa pessoa está “inspirada por Deus”.
Simples assim:

THEÓS > THOUS > TUS = DEUS
EN = DENTRO DE, PARA DENTRO

O final IASMO – asmós, em grego – é só um sufixo para a palavra funcionar como substantivo, que significa transporte divino (para dentro da pessoa). Então no grego a palavra entusiasmo ficaria assim: enthousiasmós.

E Neemias tinha Deus dentro dele, portanto, entusiasmo e podemos notar isso em sua belíssima oração (Ne 1. 4-11). A boa notícia, é que todos nós também temos. Ou seja, teologicamente chamamos isso de imago Dei, a saber: imagem de Deus, imprimida em cada um de nós. Vejamos:

“Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”. (Gênesis 1.26).

Porém, uma ressalva tem de ser feita, mesmo sabendo que temos Deus dentro de nós, isso não quer dizer, que ele irá fazer tudo por nós, bastando apenas orarmos com um coração sincero e compungido diante D’Ele, como fez Neemias. Acredito que aquilo que está ao nosso alcance, Deus não vai fazer por nós. A reconstrução que Neemias fez, estava ao alcance dele, ele podia fazer aquilo. Porém, não se achou auto-suficiente, pelo contrário, pediu a Deus que o ajudasse. G. K. Chesterton, captou isso de forma brilhante quando escreveu:

“Devemos orar a Deus, como se tudo dependesse D’Ele, e trabalhar como se tudo dependesse de nós.”

Trabalhar a despeito de toda e qualquer circunstância, sempre tendo em mente, que a última palavra ainda não foi escrita, nem o livro selado.
Para conseguirmos reconstruir depois dos desastres, essa é uma postura que devemos ter diante da vida. Nunca esquecendo que Cristo está conosco, em toda e qualquer situação (ainda que não entendamos muitas coisas que nos sucedem), senão vejamos:

“E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século”.
(Mateus 28.20a)

Ao que digo: Amém!


***

2 comentários:

  1. Olá Marcelo!!!

    O Rene me passou seu blog e fiquei encantada com o que li!

    Pode deixar que agora não será só a Bia a ler suas reflexões...rs

    Também amo escrever, mas não tenho tido tempo infelizmente!

    Amei essa frase: “Devemos orar a Deus, como se tudo dependesse D’Ele, e trabalhar como se tudo dependesse de nós.”

    Abraços
    Ana CArmen

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  2. Agora que li o comentário da Bia...rs vi que vc nos tocou no mesmo ponto...rs

    Abs

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