segunda-feira, 8 de março de 2010

CADERNOS ESPIRITUAIS: A ARTE DE RESOLVER CONFLITOS



O VIAJANTE SOBRE O MAR DE NÉVOA (1818), DE CASPAR DAVID FRIEDRICH

“Disse Abrão a Ló: Não haja contenda entre mim e ti e entre os meus pastores e os teus pastores, porque somos parentes chegados. Acaso, não está diante de ti toda a terra? Peço-te que te apartes de mim; se fores para a esquerda, irei para a direita; se fores para a direita, irei para a esquerda.” (Gênesis 13.8-9).

Leitura sugerida a priori: (Gênesis 13. 1-13).

Começo evocando três frases importantes, sobre o que será abordado hoje:

“Se todo animal inspira ternura, o que houve, então, com os homens?” – Guimarães Rosa (1908-1967)

“Nós aprendemos a voar como os pássaros, e a nadar como os peixes, mas não aprendemos a conviver como irmãos” – Marthin Luther King Jr. (1929-1968)

“O inferno são os outros.” – Jean-Paul Sartre (1905-1980)


Posto isto, acredito que a maior dificuldade na vida é aprendermos a conviver com pessoas diferentes. Conviver com gente que nos fere, frustra e magoam. Realmente isso é demasiadamente: difícil.
Penso que na arte de viver, o meu problema é o outro. Então, quem não aprende resolver conflitos não vive. E por mais que soe estranho aos ouvidos, temos de amar o outro. Pois viver é também a arte de amar, e quem não aprende a amar não vive. Vejamos 1 João 4.20:

“Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê.”

Se você não consegue amar a Deus, jamais conseguirá amar o próximo. E na outra ponta, se você não consegue amar o próximo, também jamais conseguirá amar a Deus. Isso é a tese bíblica em sua essência.
Mas alguém pode dizer que não tem conflitos com o próximo e nem inimigos, porém vejam como é sutil isso:

• Uma mulher que não entende por que seu marido desistiu do casamento, você não têm um inimigo, mais você tem um problema relacional;
• Marido que não aceita que sua mulher esteja frígida e o rejeite. Ele não tem um inimigo, mas têm um problema relacional;
• Pais que estão feridos na alma por seus filhos, você não têm inimigos, mas tem um problema relacional dentro de casa;
• Amigos que não se conversam mais, você não têm inimigos, mas tem um problema relacional mau resolvido;
• Parentes que criaram barreiras intransponíveis entre si têm um problema relacional;
• Ódios que se acumularam durante longos anos, e que você não pode sequer pronunciar o nome dessa pessoa, você têm um problema relacional;
• Feridas que nunca cicatrizaram, revides, retaliações na alma, indiferenças, friezas, memórias difíceis, são problemas relacionais

Abrão estava com sua vida com Deus em perfeita ordem, no capítulo 13 de Gênesis, versículo 4, vemos isso, ou seja, ele invoca Deus no altar, que tinha feito. Mas mesmo assim, ele também passou por um problema relacional com seu sobrinho Ló, e esse problema relacional, extrapolou as fronteiras do seu clã, e chegou até seus empregados, pois eles brigaram entre si também, uns em nome de Abrão outros em nome de Ló (vide Gn 13.8).

Então, que lições podemos aprender com Abrão, na arte de resolver conflitos?


1 – Nós devemos tomar cuidado, para que nossas bênçãos não conspirem contra nós


Tome cuidado com suas bênçãos, da mesma maneira que você toma conta das suas tribulações. A raiz da desavença entre Ló e Abrão é a bênção, vejamos:


“Saiu, pois, Abrão do Egito para o Neguebe, ele e sua mulher e tudo o que tinha, e Ló com ele. Era Abrão muito rico; possuía gado, prata e ouro. Ló, que ia com Abrão, também tinha rebanhos, gado e tendas.” (Gn 13.1-2 e 5).


O tempo da fartura ao invés de alavancar ainda mais a amizade entre os dois, pelo contrário, foi ela que fez com eles se separassem. Pense:

• A força de Sansão é que foi a armadilha, que lhe cegou dos dois olhos;
• A paz do reinado de Davi foi quem conspirou para que ele torna-se soberbo e homicida assassino;
• A cura do rei Ezequias, que foi curado de uma doença e lhe acrescentado um período de vida de mais 15 anos. Por incrível que pareça, nesses 15 anos a mais de vida, o rei se desviou dos caminhos de Deus e levou o povo de Israel a se desviar também. Notem, uma cura divina, ao invés de conspirar a favor, o destruiu;
• A ousadia e intrepidez de Pedro, e que o tornam vulnerável a ser um covarde;
• Muitas vezes a riqueza, pode roubar de você o tempo que deveria ter para estar mais próximo dos seus filhos;
• A inteligência de alguns, roubam dele a singeleza e humildade que antigamente dispunham;
• A fama de alguns lhes roubam a simplicidade que antigamente lhes era tão natural;
• Às vezes o poder de alguns, os torna tão soberbos que lhes fazem naufragar em águas rasas.

O livro de Provérbios tem algumas passagens interessantíssimas a esse respeito, vejamos:

“A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda.” (Pv. 16.18)

“Sobre tudo o que se deve guardar; guarda o coração, porque dele procedem as fontes da vida.” (Pv. 4.23)

“Há caminho que ao homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de morte.” (Pv. 14.12)

Então, devemos tomar cuidado com aquilo que sempre ambicionamos, pois pode ser que isso venha a nos destruir. Talvez, por isso não foi à toa que Cristo disse: “De que vale o homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”.


2 – Tome cuidado para que a riqueza não interfira nos relacionamentos


Vejamos os versículos 5 e 6 do capítulo 13:

“Ló, que ia com Abrão, também tinha rebanhos, gado e tendas. E a terra não podia sustentá-los, para que habitassem juntos, porque eram muitos os seus bens; de sorte que não podiam habitar um na companhia do outro.”

Acredito que o problema aqui, seja mais de Ló do que Abrão. Pois foi Ló, que vem sendo carregado desde começo por Abrão. Porém, agora os dois estão em pé de igualdade, tete-a-tete em termos de dinheiro e riquezas, e quando um chega ao nível do outro, conforme o texto a convivência entre ambos se torna: impossível. Não tem mais condições de viverem juntos.

Um exemplo disso são dois amigos, e quando um compra um carro, o outro diz o meu é melhor. Ou seja, Ló, perdeu a reverência, que é o que torna a convivência boa com o outro. Perdeu-se a estima.
E uma coisa a se aprender, é que sempre encontraremos pessoas melhores do que nós na vida. As pessoas que não sabem viver com a fama do outro, com a alegria do outro, com a prosperidade do outro, nunca vai ser feliz. Que é o caso que temos aqui, a riqueza interferiu nos relacionamentos. Ele agora olha para o outro com desdém.

Que é o problema das sociedades. Sócios brigam por causa disto. Já dizia um ditado nordestino: “Quem tem sócio, tem patrão.” O problema da sociedade é mais ou menos assim, quando um diz para o outro, que descansará três dias, pois está cansado, o outro diz tudo bem, pode ir. Mas na cabeça dele, ele agora tem também os três dias de folga também.
Quando um compra um carro novo, e apresenta isso ao outro sócio, esse diz: meus parabéns. E pensa consigo mesmo, eu agora também mereço um desses.
Daí a sociedade não agüenta, pois quer sempre passar um na frente do outro.

E isso não é só o problema das sociedades, é o problema do relacionamento entre eles: Abrão e Ló. Pois quando começa a haver disputas entre as pessoas, isso pode ser letal para qualquer relação.

3 – Devemos tomar muito cuidado, para que os nossos desejos não cresçam na medida da nossa prosperidade

Vejamos a última parte do versículo 6, do capítulo 13:

“porque eram muitos is seus bens; de sorte que não podiam habitar um na companhia do outro.”

Os desejos vão crescendo à medida que nos prosperamos. Por isso que surgiu a desavença entre os dois, e eles querem mais e mais, e chega uma hora, em que a terra não pode mais produzir para eles. Não dá mais. Quer dizer, antigamente os nossos desejos exigiam poucas coisas de nós, hoje que somos prósperos, os nossos desejos exigem muitas coisas. Antigamente a gente se satisfazia com pouco, e até sobrava.

Quem aqui ainda não teve a experiência de pensar assim:
“Eu estou nesse sufoco, mas é por 30% de defasagem de salário. No dia que eu tiver um aumento nessa ordem, eu saio desse aperto.”
Aí vem uma promoção de 58%, e você diz: Aleluia Senhor, graças a Deus, vai sobrar.
Até sobra, no primeiro mês, no segundo já não sobra mais, no terceiro, você já está novamente endividado e no quarto, você está se perguntando, como é mesmo que eu conseguia viver com aquele salário?
É o Abrão e Ló pensando assim, a terra muito fértil, muito gado, e depois quando chega o conflito, eles se perguntam, como é que eu e você conseguimos viver lá no deserto do Egito? Num período de fome e escassez?

E aí começa as desavenças entre eles. Pois a colheita da terra não dá mais. A própria terra, não consegue suprir a demanda de ambos (Gn 13.6a). Ou seja, as nossas dificuldades relacionais nascem das nossas inquietações, que nascem dos nossos desejos cada vez mais supérfluos. A gente não sabe se contentar com o que têm, e os nossos desejos vão crescendo à medida que vamos prosperando.

Adoro uma frase de Rubem Alves, que diz assim:

“Os especialistas sabem que se não tivermos inveja, se encontrarmos felicidade nas coisas que possuímos, seremos mais felizes e por isso trabalharemos menos e compraremos menos. O que é mau para o “ progresso”, por isso é preciso que os nossos olhos dancem a dança terrível, que vai do que o outro têm e aquilo que temos. É preciso que sejamos infelizes, quem tem inveja, trabalha mais, o infeliz corre mais atrás das coisas.”

E a Palavra nos ensina que devemos aprender a sermos felizes com o que temos. A valorizarmos o outro, os relacionamentos despretensiosamente, e estar satisfeito. Que é a tese do shabat (sábado). Sábado não é um dia e sim uma atitude, e qual é a sua atitude? Estou satisfeito. Porque quando Deus criou o mundo em 6 dias, ao término ele diz que estava satisfeito, aliás muito satisfeito, tão satisfeito que ele disse: basta, chega. Pois Deus poderia continuar criando, criando e criando, novos universos, novas espécies de animais, plantas...

No contraponto, é isso que devemos aprender. Porém, muitas pessoas não conseguem. Não sabem dizer está bom, chega, basta. Seria o melhor dos mundos, se um dia passarmos em frente a uma mansão e dissermos para nós mesmos, que não queremos uma casa como essa. Se passarmos em frente a uma BMW, e não desejarmos estar ao volante dele.

Outra frase que aprecio muito do Rubem Alves diz assim:

“O riso é o início da oração.”

Eu diria mais, que a oração acontece no espírito do brinquedo. Tendo Deus como companheiro. O demônio é sempre sério, nos puxa para baixo, mas Deus é leve. Porque Deus menino, nos convida a brincar e diz que dos tais (crianças) é o reino dos céus. Ou seja, de gente que está satisfeita. As crianças se satisfazem com tão pouco, e podemos dar-lhes um brinquedo caríssimo e depois um brinquedo bem simples, e eles são capazes de deixar o brinquedo mais caro de lado, e brincar com o mais humilde.
Aí pensamos: “como são inocentes, não sabem o valor de um e do outro.” E elas (crianças) sabem se satisfazer e estar satisfeitas, com um brinquedo mais simples, e nos precisamos voltar a sermos como meninos e meninas, a brincar com a vida de novo, e não vivermos numa luta desesperada do ter e ter sempre mais e mais...

Bertrand Russel, dá o tom:

“Não possuir algumas das coisas que desejamos é parte indispensável da felicidade.”

4 – Para aprender a ter bom relacionamento com o próximo, não tenha medo de perder

Aliás, nesse tópico eu colocaria assim: “Não tenha medo de você perder, quando a sua escolha for motivada pela paz, pela boa convivência.” É isso que acontece nos versículos 8 e 9, vejamos:

“Disse Abrão a Ló: Não haja contenda entre mim e ti e entre os meus pastores e os teus pastores, porque somos parentes chegados. Acaso, não está diante de ti toda a terra? Peço-te que te apartes de mim; se fores para a esquerda, irei para a direita; se fores para a direita, irei para a esquerda.”

Vemos que Abrão em nome da paz, chama os pastores e Ló, e diz para eles o seguinte: “Pode escolher, a terra está aí, eu prefiro ter paz, a viver em conflito”.
O interessante é que Abrão abre mão do direito de escolha. E nos ensina que grande parte dos nossos problemas relacionais, tem a ver (justamente) por não abrirmos mão do controle. Queremos sempre o poder, e isso é uma dimensão da queda, ou seja, do homem que está em rebelião com Deus, que quer a todo custo o poder. E o Abrão, nobremente abre mão do direito de escolha e o entrega nas mãos do seu sobrinho Ló, e isso é lindo.

Acredito que o grande problema nos lares, é que todos querem ter o controle. Homem, sobre a mulher, ou vice-versa. E todos defendem seus pontos de vistas, como o mais acertado, a única opção válida e o único caminho a seguir. Noutras palavras, é sempre a MINHA opção a melhor, a do outro não é aceita e nem importa.

E Abrão, vem e nos ensina, que para ter paz, é melhor abrir mão. Deixou seu sobrinho escolher o caminho. Uma ressalva importante, é que o personagem principal aqui é Abrão, e não o Ló, que veio a reboque em sua jornada, em que Deus lhe prometerá lá atrás em (Gn 12. 1-2), fazer dele uma grande nação. Quem tinha a promessa de Deus era Abrão e não o Ló. Contudo, mesmo assim, ele abriu mão.

Acredito que quando tomamos uma atitude assim, nós nunca perdemos. Porque o Deus a quem servimos é o Deus da PAZ, é o príncipe da paz. Um Deus que busca e espera que as pessoas, vivam em paz, e também um Deus que toma o partido daqueles que buscam a paz. Vejamos:

“Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.” (Mateus 5.9).

Por isso que na II guerra mundial, ao perguntarem para Winston Churchill (1874-1965): “De que lado Deus está nessa guerra.” Ele disse que essa não é a pergunta correta, o correto é: “Nós estamos do lado de Deus nessa guerra?”

Em outras palavras, nós é que devemos tomar partido de Deus, e o nosso Deus é de paz. Deus quer que tenhamos paz em nossos lares e nos relacionamentos.
Nos litígios não tenhamos medo de perder, desde que nossas percas, sejam em prol da paz. Ao avaliarmos, a história de ambos quem saiu ganhando com isso a médio e longo prazo? Ló? Duvido muito, pois ele quase morreu no lugar, que optou por seguir.

Então quando agimos com paz, sem subterfúgios, sem segundas intenções, com integridade de alma, Deus toma o nosso partido.

5 – Em alguns momentos é melhor ficar e resolver os conflitos, do que optar pelo cenário mais confortável

Existem momentos, em que é melhor ficar, do que ir para o caminho mais confortável. Vejam, Ló escolheu as campinas verdejantes de Sodoma e Gomorra, e quase foi destruído.

Um exemplo é aquela mulher que diz assim pro marido: “Olha o nosso relacionamento está muito difícil mesmo, se você quiser sair de casa, pode ir.”
Aí o marido diz: “Jura? Você está falando sério mesmo?”
A esposa diz: “Sim, você pode ir...”

Nem sempre a opção mais brilhante é a melhor, ela pode ser um engano, mentira e falácia. Pois nem sempre o caminho mais fácil é o melhor.
Acredito que é melhor ficarmos e resolvermos os conflitos. Nesse exemplo que citei, é melhor ficar com sua mulher e resolver seu conflito. Passar pela moinha, ter que se sujeitar a ir fazer um aconselhamento com alguém, enfrentar uma terapia familiar com um psicólogo.
Mas alguns podem dizer: “Marcelo, eu não sou esse tipo de homem, sou tão prático. Esse negócio de mexer com psicólogo ou um pastor, não dá para mim, eu não consigo vestir essa camisa, não consigo trabalhar essas questões. Então eu vou para o caminho mais fácil, a acabo logo com essa porcaria de casamento, e cada um vai cuidar da sua vida e vamos ser felizes.”

Depois de 6 meses, 9 meses, um ano ou já na terceira idade, olhamos para traz e dizemos para nós mesmos resignados: “Bem que eu poderia ter resolvido aquela questão sabia, se eu tivesse insistido mais 10 minutos, teria dado certo”. Uma pena, agora é tarde demais.

Às vezes também o nosso relacionamento com Deus, fica assim. E dizemos: “Há esse negócio de Igreja.” E começamos a fazer as opções mais fáceis, como o Ló. Escolhemos a opção mais prática e fácil, que é o caminho da esquerda. Ele disse (Ló): “Vou lá para Sodoma e Gomorra, com os meus pastores e parentes, tudo lá é verde, bonito, com muita comida, tudo ótimo.

Penso que é melhor atravessarmos as vicissitudes, as dificuldades e sair do outro lado, mais gente, mais humano, mais verdadeiro, porque saímos de um problema, que soubemos trabalhar e não deixamos para lá. É melhor não ser rico e viver em paz, do que optar pela abundância, prazer e pela alegria momentânea e viver sem amigos, em completo amargor de alma e azedo diante da vida.

6 – Nos devemos cuidar para que nossas ambições, não nos ceguem para nossos valores espirituais e morais

Tome muito cuidado para que as suas ambições, não lhe ceguem para os valores de Deus e morais. Vejamos o Ló, ele estava tão cego com a possibilidade de ficar mais rico, que sequer percebeu, que estava indo para Sodoma e Gomorra, lugares em que reinava os pecados mais torpes em seus habitantes, e de uma baixeza moral nunca antes visto.

Vejamos:

“Ora, os homens de Sodoma eram maus e grandes pecadores contra o Senhor.” (Gn 13.13)

E o Ló só via o verde e as campinas verdejantes, na sua busca insana por ganância e ignorou tudo ao redor do lugar, ficando cego para a perversão do povo que habitava Sodoma e Gomorra.
Acredito que devemos tomar cuidado, com o que “amputamos” em nossas vidas, em busca do suposto benefício. E essa amputação pode ser o término de relações.
Devemos tomar cuidado com nossas ambições, pois elas podem ser as chaves para o nosso inferno. Para vivermos esse inferno, basta cegarmos para os valores morais e espirituais, nessa busca pelo que desejamos.

Isso me faz lembrar a história que Jesus Cristo, conta do rico e de Lázaro, e eu sempre que leio está história, a acho intrigante. Lázaro era o leproso e vivia na porta da casa do rico, pedindo todos os dias esmolas, e o rico nunca notou aquele homem, nunca o observou. Vem um dia e os dois morrem. O rico vai para o inferno e o Lázaro para o seio de Abraão. E do inferno aquele rico, que nunca sequer notou a presença do leproso, pede para ele agora (e deixe-me fazer um parêntese aqui, não se vocês sabem, mas a lepra começa nas pontas, nas extremidades do corpo, e um dos primeiros lugares a ser afetado pela lepra são os dedos), meta o dedo na sua garganta, ele disse assim: “Pede que Lázaro ponha o dedo dele na minha garganta para saciar a minha sede.” Vejam que coisa desesperadora.
Quer dizer ele era tão obcecado pelos seus desejos, que nunca sequer observou o homem que estava a sua porta todo dia, clamando por caridade. E agora o rico quer reverter de alguma maneira essa história, e se sujeita inclusive a que o leproso, meta o dedo em sua garganta, para aplacar sua sede.

Devemos prestar atenção, pois hoje, em busca de nossas ambições, nós vamos chutando as pessoas, chutando Deus, chutando amigos. E vamos chutando e chutando. Um belo dia nos olharemos para trás e veremos que fizemos o que era errado, e nos arrependeremos e buscaremos reconstruir o que destruímos. Porém, pode ser que isso seja tarde demais, e não tenhamos mais tempo. Ou seja, nem que um “leproso” ponha o dedo dele na sua garganta, terá mais jeito. Acabou-se. Foi-se.

Por isso, homem ou mulher, não opte por rasgar o álbum de família da sua casa, não jogue fora as fotografias que você tirou com seus amigos, cuidado com o desejo desenfreado, ele pode lhe afastar de Deus. E esses desejos não lhe levam para lugar nenhum. Por isso que o homem mais sábio e rico que já existiu e em sua época, chegou a seguinte conclusão:

“Tudo quanto desejaram os meus olhos não lhes neguei, nem privei o coração de alegria alguma, pois eu me alegrava com todas as minhas fadigas, e isso era a recompensa de todas elas. Considerei todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também o trabalho que eu, com fadigas, havia feito; e eis que tudo era vaidade e correr atrás do vento, e nenhum proveito havia debaixo do sol.” (Ec 2.10-11).

Penso que o melhor é:

“Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o Senhor pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus.” (Mq 6.8)

Ao que digo: Amém e Amém!


***

1 comentários:

  1. Ah que lindo! Era tudo que eu precisava ouvir hoje!!!
    Sério mesmo, tenho enfrentado grandes crises de relacionamento, com meus amigos, familiares e as vezes até com quem mais amo...
    Vim cabisbaixa, depressiva... mas suas palavras alegraram minha alma! Obrigada meu irmão!
    Gosto muito de Rubem Alves e amei as citações que você fez.

    Ma, que o Senhor continue a usá-lo, e você permita-se sempre ser um vaso nas mãos de nosso Pai!

    Boa semana pra ti repleta de alegrias!

    ResponderExcluir