O QUE O LIVRO: “A ARTE DA GUERRA” PODE ENSINAR AOS GESTORES?

A LIBERDADE GUIANDO O POVO (1881), DE EUGENE DELACROIX


Embora escrito há mais de 2.500 anos, Sun Tzu continua atual e importante para os gestores do século 21



Sun Tzu viveu por volta de 500 a.C., no Estado de Qi, atualmente província de Shandong. O termo “tzu” corresponde a um título honorífico usado pelos chineses da dinastia Chou (do século 11 até o ano 255 a.C.) para designar os filósofos e pode ser traduzido como “professor” ou “mestre”.
A China sempre produziu pensadores ímpares a granel. E na época da Guerra dos Estados (475-221 a.C.), um grupo de estudiosos com conhecimentos sobre táticas bélicas e a organização do Estado percorreu o país, oferecendo orientação aos governantes dispostos a pagar pelo serviço. São os primeiros consultores de que se tem notícia na história. Entre eles, o mais famoso foi Confúcio – em chinês, Kong Zi. Sun Tzu pertence ao mesmo grupo de filósofos-consultores.
Eis que surge uma pergunta pertinente, por que: “A Arte da Guerra [publicado em português por diversas editoras], sendo um livro sobre estratégia militar há tanto tempo pode ter importância para o atual mundo dos negócios, em pleno século 21?
Antes de responder, algumas considerações. Ou seja, o objetivo deste artigo não é reproduzir o texto de Sun Tzu, mas sim interpretá-lo e aplicá-lo à luz do gerenciamento atual, bem como solucionar problemas atuais. Logo, termos militares como “exército”, “terreno”, “inimigo” e “comandante”, por exemplo, são substituídos por palavras do mundo dos negócios, como “empresa”, “ambiente”, “concorrência” e “líder”.

Um mundo em constante mudança

Sun Tzu, ensina quatro condições para o sucesso, tanto militar como empresarial: objetivo comum, reação ao ambiente, liderança capaz e fluxo de informações eficiente.

Objetivo comum

“Uma empresa na qual os líderes e os funcionários se unam em torno de um objetivo, será bem-sucedida”, pode-se ratificar, a partir dos preceitos do filósofo-consultor. Sendo assim, a maior responsabilidade do líder é unificar a empresa em torno de um objetivo comum. Os pensamentos e realizações de cada colaborador de uma organização (pequena, média ou grande) devem estar alinhados com os objetivos pré-estabelecidos pelo líder. Nessa toada, líderes hábeis podem exercer um controle bastante sutil sobre toda a companhia, como se estivessem conduzindo cada pessoa (colaborador) pela mão.
Mas, o que devemos fazer para termos esse alinhamento uniforme? Este é basicamente resultado do exemplo dado pelo líder. Uma conduta exemplar deriva de um caráter nobre e de um comportamento condizente. Em conseqüência, os líderes são capazes de criar e de manter a harmonia em suas empresas. A harmonia na organização e o caráter exemplar do líder são os dois lados da mesma moeda.

Reação ao ambiente

“Assim como a água corre de acordo com o terreno, uma empresa deve modificar seus métodos de atuação de acordo com a concorrência.” Os líderes devem ser sempre antenados e atentos ao ambiente exterior – foco externo. O sucesso ou o fracasso de uma empresa depende muito da qualidade das decisões dos líderes, e portanto, é essencial que elas sejam tomadas a partir de uma percepção clara do ambiente externo.
Cabe tão somente aos líderes, criar empresas flexíveis e reativas de modo a usar as vantagens competitivas existentes do melhor modo possível.

Liderança capaz

“O líder constitui o núcleo da empresa. Com um comandante capaz, uma empresa tem todas as possibilidades de obter sucesso. Sem ele, está fadada ao caos.”
A liderança tem seu limiar na nobreza do caráter, e existem cinco virtudes que um líder deve cultivar, para se obter o sucesso na administração, a saber:

1) integridade – envolve a coerência entre as palavras e as ações. Líderes cujos discursos não acompanham suas ações, nunca terão êxito; pois pessoas íntegras conseguem conquistar a confiança alheia, desde que cumpram suas promessas – e a confiança constitui o cerne da autoridade do líder;
2) coragem – também é essencial para tomar decisões em momentos críticos. Onde essas decisões devem ser ao mesmo tempo firmes e consistentes. Os verdadeiros líderes vencem as batalhas antes mesmo do início do conflito;
3) gentileza – é preciso que os comandantes tenham em mente o bem-estar de cada integrante da organização e saibam respeitar seu valor.
4) disciplina – antes de gerenciar outras pessoas, é preciso autodisciplinar-se. Os líderes devem constituir um exemplo quanto à observância às normas da empresa e só então poderão exigir que os outros o sigam.
5) sabedoria – líderes sábios conseguem avaliar problemas de modo sistemático e são capazes de planejar suas ações a partir de uma compreensão clara do ambiente, decorrente da análise cuidadosa dos pontos fracos e fortes da empresa.

Cultivar essas cinco qualidades como base da liderança não é algo externo ao profissional, mas sim um processo interior. A liderança se origina dentro da pessoa, e não da existência de habilidades especiais.

Fluxo de informação eficiente

“Para uma empresa bem organizada, gerenciar muitas pessoas é o mesmo que gerenciar um pequeno grupo.” Uma boa organização deve contar com um sistema de controle adequado, canais de comunicação claros, alocação precisa de recursos e executivos de talento. O último item é essencial porque o fator determinante do progresso está menos relacionado com vantagens competitivas da empresa e mais com as pessoas que a constituem – e que, portanto, podem extrair o máximo dessas vantagens competitivas.
A vantagem competitiva mais crítica para uma empresa e para seus líderes é sua capacidade de se reinventar constantemente.

PS – Um ditado chinês diz: “Um soldado incompetente é um problema individual, mas um general incompetente é um problema de todo o exército”.

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