SONHO
CAUSADO PELO VÔO DE UMA ABELHA EM REDOR DE UMA ROMÃ, UM SEGUNDO ANTES DE
DESPERTAR (1944), DE SALVADOR DALÍ
É uma história da Torá. Um
clássico. Aliás, segundo Ítalo Calvino (escritor italiano sabido) podemos
definir que um clássico é um livro que, quanto mais pensamos que conhecemos
através de boatos, mais original, inesperado, e inovador o achamos quando nós
realmente os lemos. Quem não conhece a famigerada história de Caim e Abel?
História que rasgou os séculos
e que chegou até nós em pleno século XXI, mais atual do que nunca. Tanto é que
finalmente chegou o tempo em que as pessoas chamam seus cachorros de Caim e
seus filhos de Abel. Bolsonaro é um cão. Entenda-se Caim como Bolsonaro e vocês
estarão comigo nesta crônica. Homem que exala ódio em suas aparições a todo
momento. Aliás, em 30 anos de atuação na vida pública, me causaria espanto
alguém aqui dizer que ele é cordial. Nunca foi um lorde e nunca será um gentleman. No samba “Doralice”, de
Dorival Caymmi, um homem apaixonado, mas cético, cede aos encantos da amada,
mas quebra a cara. Não é diferente hoje: o índice dos que votaram em Bolsonaro
e o rejeitam agora só aumenta segundo o Datafolha. Embora sejamos o país do
samba – não conseguimos aprender ainda com as suas músicas.
O ódio é um sentimento bem
presente em Bolsonaro e nos teus filhos. Aliás, ele é a única pessoa (se é que
se pode chamar de pai) que se refere aos filhos como: 01, 02, 03... Toda essa
sanha conduz à aniquilação dos valores. Promove a falta de conexão entre
pessoas, isola e desliga, pulveriza e corrói o papel dos indivíduos, como
destaca Ortega y Gasset em suas obras. Tem um efeito que corrompe e avilta o
espaço público.
E aqui não podemos cair na
esparrela do governo de achar que é uma mera questão de polarização do país.
Aliás, que clichê mais barato este. Uma ideologia nefasta e que grassa pelo
solo brasileiro para nos incutir essa falácia anátema. O problema da
polarização política é que ela não pensa. Quando digo que você é petralha ou
coxinha, paro de discutir as suas idéias e apenas o rotulo. Como dizia o
saudoso Nelson Rodrigues (um autêntico Charles Bukowski tupiniquim): “Toda unanimidade é burra. Quem pensa com a
unanimidade não precisa pensar.” Portanto, a polarização é burra.
Para entendermos esse discurso
de ódio a todo o momento do nosso Presidente em seu desgoverno é necessário
retrocedermos para Hannah Arendt e seu livro: “As origens do Totalitarismo”. Para Arendt, compreender o
totalitarismo era uma exigência e não ceder às explicações simplistas da sua
época, um desafio, portanto. Um dos acontecimentos políticos mais marcantes do
século XX colocava em questão as categorias tradicionais com que estávamos
acostumados a pensar a política; mais precisamente, demonstra sua
insuficiência, a limitação de seu poder explicativo diante da inédita violência
dos regimes nazistas e stalinista. Não se esqueça que Bolsonaro e seus leais súditos do governo volta e meia flertam com o nazismo. Mais escroque e
asqueroso que isso: impossível!
A desumanização do outro é um
dos elementos mais marcantes do totalitarismo e, na compreensão de Hannah
Arendt, ela permite entender a importância que adquire o campo de concentração
para o movimento nazista. O campo de concentração é uma espécie de
“laboratório” em que se trabalha para extirpar do prisioneiro sua humanidade.
Como falar de humanidade no
Brasil diante do que o Presidente faz com a nação frente ao Covid-19? Se você
tem a resposta, por favor, me diga...
Acontece que uma pandemia chegou
e ajudou bastante os planos de Jair e de sua gangue. Mas não basta. Para
algumas pessoas seria preciso ver câmaras de gás nas favelas e periferias
queimando corpos negros e pobres para que entendessem o que está acontecendo.
Não teremos as câmaras. Mas temos o nazi-fascismo, um nazi-fascismo que nos foi
oferecido em bandejas de prata pelo então candidato à presidência. Por tudo
isso eu não entendo a surpresa com o que Bolsonaro faz.
***
Ai, Marcelo, é tudo tão difícil pensar nesse Brasil que se afunda cada vez mais nessas políticas que não servem ao povo.
ResponderExcluirÉ complexo demais.
Fico pensando se a gente vai conseguir sair disso logo...
Um beijo,
Fernanda Rodrigues | contato@algumasobservacoes.com
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