quinta-feira, 2 de julho de 2020

CRÔNICAS AVULSAS: A GOTA DA BABA DE CAIM




SONHO CAUSADO PELO VÔO DE UMA ABELHA EM REDOR DE UMA ROMÃ, UM SEGUNDO ANTES DE DESPERTAR (1944), DE SALVADOR DALÍ




É uma história da Torá. Um clássico. Aliás, segundo Ítalo Calvino (escritor italiano sabido) podemos definir que um clássico é um livro que, quanto mais pensamos que conhecemos através de boatos, mais original, inesperado, e inovador o achamos quando nós realmente os lemos. Quem não conhece a famigerada história de Caim e Abel?

História que rasgou os séculos e que chegou até nós em pleno século XXI, mais atual do que nunca. Tanto é que finalmente chegou o tempo em que as pessoas chamam seus cachorros de Caim e seus filhos de Abel. Bolsonaro é um cão. Entenda-se Caim como Bolsonaro e vocês estarão comigo nesta crônica. Homem que exala ódio em suas aparições a todo momento. Aliás, em 30 anos de atuação na vida pública, me causaria espanto alguém aqui dizer que ele é cordial. Nunca foi um lorde e nunca será um gentleman. No samba “Doralice”, de Dorival Caymmi, um homem apaixonado, mas cético, cede aos encantos da amada, mas quebra a cara. Não é diferente hoje: o índice dos que votaram em Bolsonaro e o rejeitam agora só aumenta segundo o Datafolha. Embora sejamos o país do samba – não conseguimos aprender ainda com as suas músicas.

O ódio é um sentimento bem presente em Bolsonaro e nos teus filhos. Aliás, ele é a única pessoa (se é que se pode chamar de pai) que se refere aos filhos como: 01, 02, 03... Toda essa sanha conduz à aniquilação dos valores. Promove a falta de conexão entre pessoas, isola e desliga, pulveriza e corrói o papel dos indivíduos, como destaca Ortega y Gasset em suas obras. Tem um efeito que corrompe e avilta o espaço público.

E aqui não podemos cair na esparrela do governo de achar que é uma mera questão de polarização do país. Aliás, que clichê mais barato este. Uma ideologia nefasta e que grassa pelo solo brasileiro para nos incutir essa falácia anátema. O problema da polarização política é que ela não pensa. Quando digo que você é petralha ou coxinha, paro de discutir as suas idéias e apenas o rotulo. Como dizia o saudoso Nelson Rodrigues (um autêntico Charles Bukowski tupiniquim): “Toda unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar.” Portanto, a polarização é burra.

Para entendermos esse discurso de ódio a todo o momento do nosso Presidente em seu desgoverno é necessário retrocedermos para Hannah Arendt e seu livro: “As origens do Totalitarismo”. Para Arendt, compreender o totalitarismo era uma exigência e não ceder às explicações simplistas da sua época, um desafio, portanto. Um dos acontecimentos políticos mais marcantes do século XX colocava em questão as categorias tradicionais com que estávamos acostumados a pensar a política; mais precisamente, demonstra sua insuficiência, a limitação de seu poder explicativo diante da inédita violência dos regimes nazistas e stalinista. Não se esqueça que Bolsonaro e seus leais súditos do governo volta e meia flertam com o nazismo. Mais escroque e asqueroso que isso: impossível!

A desumanização do outro é um dos elementos mais marcantes do totalitarismo e, na compreensão de Hannah Arendt, ela permite entender a importância que adquire o campo de concentração para o movimento nazista. O campo de concentração é uma espécie de “laboratório” em que se trabalha para extirpar do prisioneiro sua humanidade.

Como falar de humanidade no Brasil diante do que o Presidente faz com a nação frente ao Covid-19? Se você tem a resposta, por favor, me diga...

Acontece que uma pandemia chegou e ajudou bastante os planos de Jair e de sua gangue. Mas não basta. Para algumas pessoas seria preciso ver câmaras de gás nas favelas e periferias queimando corpos negros e pobres para que entendessem o que está acontecendo. Não teremos as câmaras. Mas temos o nazi-fascismo, um nazi-fascismo que nos foi oferecido em bandejas de prata pelo então candidato à presidência. Por tudo isso eu não entendo a surpresa com o que Bolsonaro faz.

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1 comentários:

  1. Ai, Marcelo, é tudo tão difícil pensar nesse Brasil que se afunda cada vez mais nessas políticas que não servem ao povo.
    É complexo demais.
    Fico pensando se a gente vai conseguir sair disso logo...

    Um beijo,
    Fernanda Rodrigues | contato@algumasobservacoes.com
    Algumas Observações
    Projeto Escrita Criativa

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