segunda-feira, 29 de novembro de 2021

CRÔNICAS AVULSAS: UM AMIGO PARA VOCÊ CHAMAR DE SEU

 


Theo van Gogh pelo irmão Vincent van Gogh, (1887).


Os tempos são outros. Escorrem pelos dedos. Não só em termos de velocidade – mas de relações. Zygmunt Bauman já alertava sobre isso em sua tese central: “modernidade líquida”. Eu conheci o Fernando quando criança – não que ainda não seja. Aliás, existe coisa mais triste do que um adulto que ainda não têm dentro de si um pouco da criança que já foi? De pesado já basta os dissabores e tristezas que a própria vida adulta traz para cada um de nós.

Irmão da vida. Muito mais chegado que irmão ou irmã mesmo que a genética me concedeu. Tudo certo aqui também. O tempo só reforçou a nossa amizade. Torcida mútua sempre.

A zoeira sobre os times que escolhemos não tem fim. Ai quando um deles perde. O whatsapp só falta travar de tantas mensagens. O “Sereno” é um daqueles sujeitos destemidos, seu pai veio do Nordeste (como o meu) e inclusive são amigos até hoje, coincidência? Creio que não. Ambos chegaram aqui em São Paulo sem nada, sem parentes, sem documentos, sem dinheiro – traziam dentro de si apenas um sonho: serem felizes. E conseguiram.

Depois de algum tempo você aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias, e o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida.

Ao seu lado soltamos pipas. Ao seu lado fomos em baladas mil. Ao seu lado fomos em sambas. Ao seu lado fomos em saraus de poesia. Ao seu lado degustamos vinhos. Ao seu lado comemos e rimos. Ao meu lado você também esteve na hora mais escura (pois a vida não é só flores) quando perdi minha mãe. Ao seu lado aprendi lições preciosas sobre a vida – as quais nunca esquecerei. Ao seu lado aprendi o real significado da palavra: amizade.  

Há alguns anos li o livro: “Fernando Sabino e Clarice Lispector – Cartas perto do coração” confesso que fiquei surpreso com o grau de amizade de ambos no livro. E em dado momento Clarice numa carta ao Fernando, datada de 1959 em Washington, D.C., disse:

“Mas a amizade é a mesma, talvez mesmo maior.”

Gratidão por sua amizade maior!

 

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