quinta-feira, 19 de maio de 2011
3º CONGRESSO INTERNACIONAL DE JORNALISMO CULTURAL – REFLEXÕES DO SEGUNDO DIA: 18/05/2011
CARTHAGENE, SPAIN
Sowewhere around Carthagena – Los Sucos de la Cuidad Project
Retirado do site: http://jr-art.net (em 19/05/2011).
Começo minha reflexão sobre esse meu segundo dia aqui no referido Congresso, citando a excelente pensadora, no qual sou enorme fã de carteirinha: Hannah Arendt (1906-1975), extraído do livro: “A Condição Humana” – 10ª edição, Forense Universitária – 2004 – São Paulo, pág. 13:
“É óbvio que isto requer reflexão; e a irreflexão – a imprudência temerária ou a irremediável confusão ou a repetição complacente de verdades que se tornaram triviais e vazias – parece ser uma das principais características do nosso tempo. O que proponho, portanto, é muito simples: trata-se apenas de refletir sobre o que estamos fazendo.”
Reflexão! Essa foi à tônica desse segundo dia tão especial meu aqui, com ilustres palestrantes. Dessa forma, começo falando do pior, para deixarmos o melhor para o final.
A palestra: “O jogo na escrita: o desconhecido, o inexplicável, a escuridão” foi realizada pelo escritor e jornalista cubano: Pedro Juan Gutiérrez, que começou a carreira como jornalista, ofício que exerceu durante 26 anos. Em 1998, publicou “Trilogia Suja de Havana” (Cia das Letras). E a mediação ficou por conta do Xico Sá, jornalista e escritor brasileiro.
Durante sua exposição oral do tema, fomos apresentados via telão a sua poesia visual, que nada mais eram do que recortes de revistas e jornais, colados uns nos outros, com alguma poesia escrita embutida. O que mais apareceu foram os seios de mulheres e uma completamente pelada, tudo isso devido ao fetiche do referido autor cubano, por esses atributos (se é que podemos dizer e considerar isso) como atributos do universo feminino – que é bem vasto por sinal.
Engraçado que nenhum homem com o falo a mostra apareceu. Coitadas das mulheres presentes (que são a maioria esmagadora), pois, não tiverem nenhum momento de distração, já que só o seu sexo era o exposto...
Pois bem, duas de suas falas me chamaram muito a atenção e foi motivo de uma pergunta minha, que, aliás, foi a primeira a abrir o espaço para perguntas (do público) ao palestrante (para dar as respostas). Suas falas foram essas:
• “O politicamente correto está acabando com o mundo.”;
• “Eu sofri muito como jornalista no regime de Fidel – até 1998. Escrevi com muita raiva: Trilogia Suja de Havana e O Rei de Havana”.
Pois bem ilustre leitor virtual, após tomar posse dessas frases, formulei a referida e inaugural pergunta, eis a mesma:
• “O senhor poderia comentar sobre o envolvimento político do escritor colombiano Gabriel García Márquez e Ernest Hemingway (escritor americano) com o ditador Fidel Castro?”
Ao passo que o mesmo – rapidamente respondeu:
“Não irei comentar questões políticas hoje aqui, e nem sobre a postura de outros autores”.
Engraçado isso! Por que então ele se referiu sobre a política e o rechaço que recebeu do ditador Fidel em sua fala anterior? Quase beirando (se é que não beirou) a censura?
Como não tem tréplica, essa questão ficou para o esquecimento, exceto o meu – obviamente.
Reconheço que estamos num regime de democracia e o mesmo tem todo o direito de responder ou não, o que melhor lhe aprouver, mas, esperava um pouco mais. Aliás, penso que as perguntas de um modo geral, sempre são feitas meio que “açucaradas” aos palestrantes, não são provocativas (com algumas exceções). O próprio Xico Sá (mediador) é um exemplo disso, fez algumas perguntas voltadas para a obra literária do mesmo, e mostrou-se um razoável conhecedor da mesma, pois em suas perguntas, percebia-se riqueza de detalhes, totalmente ignorados de minha parte, já que não conheço nada do mesmo, aliás, de Cuba conheço (e mesmo assim sem muita profundidade) o escritor Alejo Carpentier (1904-1980).
Para o Xico Sá, recomendaria que assistisse via portal do SESC:
(http://www.sescsp.org.br/sesc/hotsites/JornalismoCultural/site/index.htm)
O que falou hoje (19/05/2011) o mediador Oswaldo Mendes (jornalista e diretor de teatro), quando se referiu sobre o papel do mediador:
“A função do mediador é de um sensor do tempo”.
Digo isso, pois o mesmo (Xico Sá) fez várias perguntas ao escritor cubano. Fica aí a dica cultural, já que estamos vivendo uma imensa imersão cultural nesse evento.
Ainda sobre Pedro Juan Gutiérrez, quando optou por não responder minha pergunta voltada para a política (repito isso é um direito adquirido seu, devido à democracia e graças a Deus por isso) meu espírito de educador bradou em mim internamente e me fez lembrar-se da memorável passagem do livro (Pedagogia da Autonomia, 31ª edição, Ed. Paz e Terra – São Paulo, pág. 98) do grande e saudoso mestre Paulo Freire, que nos diz assim:
“Minha presença de professor, que não pode passar despercebida dos alunos na classe e na escola, é uma presença em si política. Enquanto presença não posso ser uma omissão mas um sujeito de opções. Devo revelar aos alunos a minha capacidade de analisar, de comparar, de avaliar, de decidir, de optar, de romper. Minha capacidade de fazer justiça, de não falhar à verdade. Ético, por isso mesmo, tem que ser o meu testemunho.”
Já vejo sobrancelhas arqueando-se, e perguntando: “Espera aí Marcelo Caldas, o Gutiérrez é jornalista e escritor, não professor.”
Concordo (e ainda bem por isso) mas pense comigo arguto espectro do meu alter-ego: “Ele nessa palestra, não assumiu o papel de professor e nos de alunos, ao ministrar algo sobre nós do referido tema?” Pense e me deixe em paz...
Mas vamos à parte boa, o debate: “Qual o papel da crítica literária hoje: seus equívocos e seus acertos” realizados por: Alcir Pécora (crítico literário, professor e escritor); Daniel Piza (jornalista e escritor); Rubens Figueiredo (escritor e tradutor) sob a mediação de Frederico Barbosa (romancista e tradutor) foi de altíssimo nível, e tanto é que não arrisco comentários para não estragar a mesma, aliás, sugiro que veja a mesma através do link abaixo (isso é bom para aguçar vocês): http://www.sescsp.org.br/sesc/hotsites/JornalismoCultural/site/index.htm
Finalmente, gostaria de falar sobre o debate: “O papel da televisão no âmbito da cultura”, feito por Zico Góes (diretor de televisão – MTV); Valter Sales (diretor-executivo do SESC TV); Márcia Tiburi (professora, filósofa e escritora) mediados por José Augusto Camargo (presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo).
Foi simplesmente divino o debate. Na realidade uma verdadeira epifania no melhor sentido joyceano da palavra. Todos foram unânimes sobre o vazio e pobreza intelectual do que nos é apresentado a nós todos como público hoje nas TV’s abertas ou pagas; hoje em dia (por isso que eu nem assisto mais a televisão, e a Tiburi é da mesma linha).
Termino minhas parcas reflexões, citando alguns aforismos (encaro assim o ensaio acadêmico) do Theodor W. Adorno: “Indústria Cultural e Sociedade” ed. Paz e Terra, 4ª edição, São Paulo, então vamos aos mesmos para nossa REFLEXÃO:
“O cinema e o rádio não têm mais necessidade de serem empacotados como arte. A verdade de que nada são além de negócios lhes serve de ideologia. Esta deverá legitimar o LIXO que produzem de propósito. O cinema e o rádio se autodefinem como indústrias, e as cifras publicadas dos rendimentos de seus diretores-gerais tiram qualquer dúvida sobre a necessidade social de seus produtos.” pág. 8.
“O que não se diz é que o ambiente em que a técnica adquire tanto poder sobre a sociedade encarna o próprio poder dos economicamente mais fortes sobre a mesma sociedade. A racionalidade técnica hoje é a racionalidade da própria dominação, é o caráter repressivo da sociedade que se auto-aliena.” pág. 9.
“O mundo inteiro é forçado a passar pelo crivo da indústria cultural.” pág. 15.
“Os produtos da indústria cultural podem estar certos de serem jovialmente consumidos, mesmo em estado de distração. Mas cada um destes é um modelo do gigantesco mecanismo econômico que desde o início mantém tudo sob pressão, tanto no trabalho quanto no lazer, que tanto se assemelha ao trabalho.” pág. 17.
“A mesmice também regula a relação com o passado. A novidade do estágio da cultura de massa em face do liberalismo tardio está na exclusão do novo.” pág. 27
“O espectador não deve trabalhar com a própria cabeça; o produto prescreve toda e qualquer reação: não pelo seu contexto objetivo – que desaparece tão logo se dirige à faculdade pensante – mas por meio de sinais. Toda conexão lógica que exija alento intelectual é escrupulosamente evitada.” pág. 31.
“Quanto mais sólidas se tornam as posições da indústria cultural, tanto mais brutalmente esta pode agir sobre as necessidades dos consumidores, produzi-las, guiá-las e discipliná-las, retirar-lhes até o divertimento.” pág. 41.
“Na época da estatística as massas são tão ingênuas que chegam a se identificar com o milionário no filme, e tão obtusas que não se permitem o mínimo desvio da lei dos grandes números. A ideologia se esconde atrás do cálculo das probabilidades. A fortuna não virá para todos, apenas para algum felizardo, ou antes aos que um poder superior designa – poder que, com freqüência é a própria indústria do entretenimento, descrita como na terra na eterna procura de seus eleitos.” pág. 42.
“A cultura sempre contribuiu para domar os instintos revolucionários bem como os costumes bárbaros. A cultura industrializada dá algo mais. Ela ensina e infunde a condição em que a vida desumana pode ser tolerada. O indivíduo deve utilizar o seu desgosto geral como impulso para abandonar-se ao poder coletivo do qual está cansado.” pág. 53.
PS. Amanhã comento sobre o dia de hoje: 19/05/2011.
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