segunda-feira, 2 de abril de 2012

CRÔNICAS AVULSAS: EU, AOS PEDAÇOS



Cresci ouvindo dos lábios da minha finada mãe que: “Viver não é para amadores!” O que de fato não é mesmo; e talvez por isso que ela me criou como um espartano.

Aos 29 anos, confesso que nada sei sobre a arte de viver... Ainda me sinto um diletante completamente perdido nos labirintos de Jorge Luis Borges; em termos do que é a vida...

Quando penso sobre a vida, impossível não me lembrar de Gonzaguinha, e sua magistral música: “O que é, o que é?” quando ouvimos o seguinte refrão: “E a vida / Ela é maravilha / Ou é sofrimento? / Ela é alegria / Ou lamento? / O que é? O que é? / Meu irmão...”

Faltam-me palavras...
O que a vida é?

Quando vejo umas crianças hoje jogando futebol na minha rua, me transporto no tempo e me vejo ali, há alguns anos atrás, onde jogar futebol era o que havia de mais sagrado pra mim... Embora não levasse o futebol a sério, pois, para mim nunca passou de uma eterna brincadeira de menino. Mas, e se eu tivesse juízo e não peitasse meus treinadores e meus colegas dos clubes onde passei, onde estaria agora? Hoje vejo jogadores horríveis com salários exorbitantes, que não conseguem dar um lançamento de vinte metros correto, se tivesse levado mais a sério...

Tinha tudo, principalmente passes precisos, aliás, o que eu mais adorava não era fazer o gol, mas dar o passe decisivo pro gol, era o cérebro do time, jogava com a camisa 8 (função: médio volante no futebol de campo) defendia e subia ao ataque com ousadia, era o velocista do time, talvez por isso hoje tenha me enveredado pelos caminhos da corrida...

No Futsal era o ala e capitão do time, ainda me lembro como hoje, quando enfrentamos o time do São Paulo de Futsal, dentro do Clube Atlético Indiano, final de campeonato, eu com um tênis velho que dava dó, já o time do São Paulo, todos novinhos, com torcida organizada e tudo mais e nós? Nada! Há não ser uma coisa que nunca se apartou de mim, o espírito combativo e a tenacidade de nunca desistir, por maior que seja o desafio. Eles eram os favoritos, melhor campanha, melhor ataque e defesa, goleiro menos vazado...

Ainda no vestiário, quando ouvíamos os familiares da torcida do São Paulo, gritarem os nomes dos seus filhos, olhei no fundo dos olhos dos jogadores do meu time e senti o pavor estampado em seus rostos, e disse peremptoriamente aos mesmos:

“Nem sempre no futebol amigos, dois mais dois é quatro. Ou seja, nem sempre o favorito ganha, e hoje, nem que eu quebre minha perna jogando, nós vamos ganhar essa final. Joguem pela honra de vocês e unidos, como uma falange da sociedade espartana. Defenderemos em bloco dando meia quadra, e atacaremos em bloco. Hoje, não teremos cinco jogadores em quadra, mas um só, pois, seremos unidos do começo ao fim”.

O resultado? Foi um massacre, entramos em quadra literalmente “com sangue nos olhos” incendiados pela minha palavra, e com um único desejo: derrotar nosso adversário. Vencemos por 5 X 0. Nesse dia, só deram um único chute ao gol, com quarenta minutos jogados e mesmo assim foi para fora. Fomos os heróis! Vencemos o dia e a batalha; e minha vida nunca mais foi à mesma; pois, doravante, sempre me vi em várias outras batalhas...

Pra mim a vida é isso, uma eterna batalha; com altos e baixos. Mas faço coro e prefiro as respostas das crianças, como diz a letra da música do Gonzaguinha:

“E a pergunta roda
E a cabeça agita
Eu fico com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita...”



Eternamente bonita!

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