Foto gentilmente cedida por Alcântara Duran Capra*, tirada no SESC Osasco - São Paulo, show do Criolo em 09/03/2013 - via Windows Phone.
Falar
sobre o artista Criolo é uma tarefa
complicada. Aliás, escrever é complicado por si só, e quem dirá ainda escrever
sobre um sujeito que transita em vários tipos musicais com uma versatilidade
que eu nunca tinha visto antes em nossa cena musical brasileira (bastante
empobrecida por sinal, pois, basta olhar os hits
vigentes nas rádios).
“Nó na orelha” foi lançado em
2011, é o segundo disco do Criolo,
que consagrou esse artista e o alçou para nossa nação e o mundo. Digo isso,
pois, já o conhecia de longa data do famigerado Pagode da 27, que é um reduto
do samba de São Paulo, localizado no bairro do Grajaú.
Uma
coisa que me chama muito atenção no Criolo e pude conferir isso ao vivo no seu
show do dia 09/03/2013 no SESC Osasco é a sua capacidade artística que o faz
transitar ora no hip hop, reggae, samba, soul, afrobeat, bolero... É uma
mistura de ritmos envolventes que não nos deixa sair incólumes a sua arte. É um
artista ímpar e faz um contraponto importante, já que no Brasil o que mais
temos são: “artistas” que não fazem arte! Já o caso do Criolo que é um artista
independente e está nessa caminhada há mais de 20 anos, vejo o oposto, ou seja,
um artista de verdade que ama sua arte e faz com amor – o que ele de melhor
sabe fazer: compor e cantar.
Numa
época empobrecida e falida musicalmente, com letras de péssimo conteúdo, poder
ouvir: “Não existe amor em SP”, “Samba
sambei”, “Bogotá” e a que mais adoro: “Mariô”
tem a mesma função do bálsamo para um enfermo.
As
músicas do Criolo, para mim são um alívio para a alma, um convite a reflexão
sobre o nosso cotidiano leve e pesado (ao mesmo tempo) e por que não? – um
convite a mudança; pois como dizia Nietzsche:
“A cobra que não consegue livrar-se da sua
casca morre.
O mesmo acontece com os espíritos que são
impedidos
de mudar as suas opiniões; eles deixam de ser
espírito”.
Uma pena
que muitos julgam antes. Aliás, somos seres que adoramos julgar os outros. Tudo
que foge aos nossos padrões (preestabelecidos a priori) tendemos a olhar feio, descartar ou excluir. O que é uma
pena e um erro crasso; pois podemos com isso perder coisas lindas da vida. Como
dizia o Livro dos Conselhos: “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”. A
grande questão é saber reparar. Pois, olhar todos nós olhamos. Agora: reparar...
O olhar
precisa ser educado para aprender a reparar. “Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios. Não é bastante
não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter
filosofia nenhuma...”, disse Alberto Caeiro. Temos olhos e somos cegos.
Somos castrados nos olhos. Nossos olhos não experimentam ereções. O visível não
nos espanta. O trágico espetáculo das pessoas assentadas diante da televisão dá
testemunho de que os objetos, cultura, natureza e a arte do mundo não nos
excitam mais. Nietzsche via o “aprender a
ver” como a primeira tarefa da educação.
Ney Matogrosso, disse que o Criolo no palco é uma entidade. Para mim é mais do que isso:
é uma legião! Ney, Caetano Veloso, Chico Buarque reparam em Criolo e eu também
(aliás, bem antes desses) e você – está esperando o quê?
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