Dias desses com uma amiga de
velha data, jantando num restaurante ela me disse: “Você é um belo escritor”. Ao que lhe repliquei na hora, para o seu
espanto: “Minha mãe sempre me disse que
era bonito mesmo!”. Caímos na gargalhada. Quando conseguimos nos conter –
contei meu segredo: “Não sou um belo
escritor. Sou antes de tudo: um belo leitor!” Mas, a vida não é somente nos
livros, a vida requer outras coisas, como por exemplo: estar com os amigos,
conhecer pessoas diferentes, se relacionar, interagir, aprender e crescer. E
com as diferenças dos outros, podemos aprender muito. Tudo é uma questão de
respeitar e saber ouvir.
Para não fugir à regra já que
citei minha paixão pela leitura, vou de Guimarães Rosa, para desatar esse nó da
crônica, essa frase dele consta no livro: Primeiras Estórias, no conto: O
Espelho, que nos diz assim:
“Quando nada acontece, há um milagre que não estamos vendo.”
Engraçado que falar de milagre no
Brasil, quando muitas Igrejas já banalizaram isso – soa até estranho. Muitos
pensam que o milagre é ver um cadeirante se levantar e sair andando
normalmente. Um cego voltar a enxergar. Não que isso não seja um milagre. São. Mas,
falo de outros milagres, mais reais e que estão bem ao alcance dos nossos
olhos. Como por exemplo, o que fizemos nesse último final de semana, quando nos
reunimos no domingo entre amigos para termos um momento de diversão, ouvir
música, beber – e embora não beba (salvo vinhos) até eu fugi a regra, pois tomei
uma caipirinha de saquê preparada pela Viviam Oliveira, dar risada, contar
sobre o que estamos planejando, nossos sonhos, esperanças e frustrações que
tivemos incluídas também, pois se engana quem pensa que a vida é o rancho da
pamonha – que as novelas mostram. Não é. Como dizia minha mãe: “Viver não é para amadores”. Logo, todas
as mágoas são suportáveis quando fazemos delas uma história ou contamos uma
história a seu respeito. E nesse domingo, eu tenho uma história para contar e
com um milagre incluído também – o milagre da celebração da amizade...
Vivemos num mundo de
efemeridades. Laços se desfazem num piscar de olhos. Amizades que julgávamos
inabaláveis – são desfeitas em segundos, pessoas nos traem, falam mal, amores
são desfeitos, a sociedade é tresloucada, a maldade grassa por todos os poros,
amores de hoje não são como os de antigamente, desilusões, agressões, mortes...
Enfim, o diabo... Com certeza, o Datenna e o Rezende se regozijam com isso,
pois terão muitas pautas em seus medíocres programas. C’est la vie – como dizem
os franceses.
Quando vejo tudo isso, sempre me
vem à mente aquele trecho da música (I can see clearly now – Eu posso ver
claramente agora) do Jimmy Cliff: “I can see clearly now / the rain is gone / I
can see all obstacles / in my way / Gone are the dark clouds / that had me
blind / It’s gonna be a bright / bright sunshiny day.” Tradução: “Posso ver com
clareza agora que a chuva passou / Posso ver todas os obstáculos no meu caminho
/ as nuvens negras que me cegavam já se foram / Vai ser um lindo dia de sol.” (https://www.youtube.com/watch?v=uyrAhLIbDHM).
Além desse lugar de fúria e
lágrimas, sonho com um mundo novo: com um lindo dia de sol, mundo esse de novas
possibilidades, com pessoas que se respeitam, querem o bem comum e que não são
ensimesmadas em si mesmas, e que acima de tudo: não se acham semideuses –
desses: deveras estou farto.
Felicidade resulta, aqui, de uma equação de amigos e livros, que também pode ter outro nome: identificação. Esse foi o meu milagre desse
último domingo e o seu?
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Nicole Pereira
ResponderExcluirMuito bom o texto! Reflexão! Adorei!
Marlene Aparecida Ferreira
ResponderExcluirMarcelo existe poucas pessoas iguais a voce com tanto carinho e sensibilidade....saudades muita paz a voce bjos