JEANNE HÉBUTERNE DE
CAMISOLA (1919) DE AMEDEO MODIGLIANI
Essa obra encontra-se
hoje no The Metropolitan Museum of Art, Nova York
“As experiências
discriminatórias arquivam-se de maneira privilegiadíssima nos solos da memória,
contaminando o inconsciente coletivo.” _ Jung
“Quando não matamos
nossos monstros psíquicos, nós os projetamos em alguém ao nosso redor.” _Freud
Dizem os biógrafos que quando
Freud e Jung se encontraram pela primeira vez, começaram a conversar de manhã e
só pararam ao anoitecer. Tinham muito que falar, cada um ao seu modo mudaram os
patamares da psicologia e psicanálise mundial. E suas contribuições dispensam
comentários. De forma um pouco parecida, quando me encontrei com a Lilian
Amaral pela primeira vez, creio que falamos muito sobre o seu universo: a
psicologia. Eu já tinha muitas leituras sobre o tema e amava a matéria, assim
como ela. Nossa conversa foi agradabilíssima, e sua generosidade em fazer ‘vistas
grossas’ aos meus erros pueris sobre os mestres da psicologia e psicanálise
foram dignos de grandeza.
O tempo se passou célere, creio
que nos conhecemos em 2008 ou 2009, os deuses o sabem bem o ano. E de lá para
cá, nossa amizade tem se fortalecido. Adoro sua personalidade, pois ao
contrário de outras amigas, ela põe o dedo na minha cara e diz o que pensa
sobre o que ando fazendo da minha vida, adoro isso. Obrigado! E sempre que o
faz, usa de uma inteligência extremamente sagaz e sempre aguda em seus pontos,
mantendo sempre uma coisa nobre: ternura em sua fala. Nunca me esquecerei
disso, principalmente nos períodos de crise aguda e mais sombrios que enfrentei, quando perdi minha
mãe em 2009.
Já adiantando sua pergunta, pois
depois de tantos anos de amizade, bem sei que ela virá, escolhi esse quadro do
Modigliani, pois esse teve uma vida breve e difícil, algumas obras-primas, a
Paris boêmia do início do século 20. O mito e o fascínio de Amedeo Modigliani
(...) estão nessa imagem tardiamente romântica, no protótipo do dândi sem teto
nem lei, do artista maldito: Modí, exatamente. No entanto, a pintura de
Modigliani – uma produção quase ininterrupta de rostos esguios, olhos oblíquos,
pescoços finos e longuíssimos - esconde e revela sabedoria técnica, cultura
profunda, adesão íntima e sentimental ao mundo e aos personagens que retrata.
Espero que em menor grau, que essa crônica ao menos lance um feixe de luz sobre
os múltiplos raios de sua rica personalidade...
Modigliani nunca pintou nua a
mulher que amou no último período de sua vida. Jeanne Hébuterne de Camisola é o retrato em que sua companheira
aparece menos vestida. A tela se caracteriza pela pose lânguida e, ao mesmo
tempo, melancólica da mulher. Ela apoia o braço direito no espaldar da poltrona
e leva negligentemente o dedo indicador à face.
Não podemos esquecer que a pose
da mulher, em sua simplicidade cotidiana, esconde na realidade uma origem
nobre, como você Lilian Amaral. Esse
quadro deriva do Retrato da Senhora
Moitessier, de Jean-Auguste-Dominique Ingres. Mais uma vez, nos encontramos
diante de um exemplo que prova a vasta cultura visual de Modigliani e, ao mesmo
tempo, sua capacidade de jamais se colocar de modo passivo diante de uma
referência do passado, mas, em vez disso, atualizá-la.
Apropriando-se de uma referência
iconográfica de Ingres, um pintor que já havia ecoado em seus nus, Modigliani
homenageava o artista a quem, muito provavelmente, deveria se sentir
poeticamente semelhante. Com suas pinturas de anatomias alongadas, o pintor
francês havia alterado voluntariamente as convenções da academia, reivindicando
para a arte a autonomia das formas. Modigliani e Lilian Amaral, tem algo em
comum: quando nos encontramos com ambos torna-se impossível sair incólumes ao
encontro. Um, infelizmente já nos deixou, mas, você agora em 22.03.2014 desfará alguns anos (para entender melhor
o motivo pelo qual nunca uso o termo, fiz tantos anos e sim o desfiz “x” anos,
recomendo a leitura dessa outra crônica: http://marcelocaldas.blogspot.com/2012/09/cronicas-avulsas-desfiz-30-anos.html).
Embora passe longe da poesia (raramente
consigo fazer um poema) pois meu forte mesmo é a prosa (pode-se notar pelo
tamanho dessa crônica) mas fui obrigado a me alongar, pois a pessoa a quem ela foi
dedicada, não é nem de longe rasa em suas análises, então foi preciso...
Encerro a mesma como um: FELIZ
ANIVERSÁRIO EM BREVE – já que a Crônica é adiantada, e uma poesia (pois como a
Lilian insiste em dizer que sou poeta, não posso lhe contrariar, ainda mais as
vésperas dessa data tão aguardada) logo, essa poesia celebra a nossa amizade e
carinho mútuo. Poema do famigerado Fernando Pessoa:
Poema de amigo aprendiz
“Quero ser teu amigo,
nem demais e nem de menos,
nem tão longe e nem
tão perto,
na medida mais
precisa que eu puder.
Mas amar-te sem
medida e ficar na tua vida,
Da maneira mais
discreta que eu souber.
Sem tirar-te a
liberdade, sem jamais te sufocar.
Sem forçar tua
vontade.
Sem falar, quando for
a hora de calar.
E sem calar, quando
for a hora de falar.
Nem ausente, nem
presente por demais.
Simplesmente, calmamente
ser-te paz.
É bonito ser amigo,
mas confesso é tão difícil aprender.
E por isso eu te
suplico paciência.
Vou encher este teu
rosto de lembranças,
Da-me tempo, de
acertar nossas distâncias.”
Merci Belle Femme: Lilian Amaral, por sua amizade e carinho!
Lilian Amaral
ResponderExcluirMÁ, que lindo! Posso chorar? Rsrs. Muito obrigada meu amigo...afinal, vc é o mala e eu sou o doce. Simplesmente amei...vc é incrível. Siga o meu conselho...seja escritor...rsrs. Bjs.
Lilian Amaral,
ResponderExcluirMuito obrigada pela crônica que fez em minha homenagem, simplesmente amei. Obrigada também por me ouvir e me aconselhar...te adoro! Afinal, quem tem amigos, tem tudo! — se sentindo feliz.
Eu que agradeço... Fico feliz que tenha gostado!
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